domingo, 28 de abril de 2019

Videozinho fluido, como convém ao Domingo, e a música espectral

Abril 2019
Serra da Lousã


Aqui há dias, ia no carro a ouvir rádio pela manhã, comme d'habitude, quando, às tantas, surgiu o assunto (Antena 2, se bem me lembro). Pois que isto da escala diatónica com meia dúzia de frequências (saltando de meio em meio tom) é uma chatice, uma monotonia, é o padrão mais usado na música Ocidental nos últimos séculos e tal, que houve umas experiências interessantes com outras escalas mas, e aqui é que a coisa começou a ficar interessante, é muito limitada relativamente aos sons que ouvimos na natureza. E, então, a música espectral, o espectralismo, usando escalas com um número muito maior de notas (sons), permite compor música que se aproxima dos sons que ouvimos na natureza. Por exemplo, na música espectral entre duas teclas subsequentes no piano há 6, 8 10 ou mais notas. Há construtores que têm fabricado pianos em que se pode mudar a frequência de cada tecla no momento em que se pressiona. Há também construtores de instrumentos específicos para música espectral (a cítara Indiana aproxima-se dessa multiplicidade de sons). Os compositores de música espectral usam estratégias interessantes com instrumentos clássicos. Muitos povos designados por primitivos inventaram instrumentos com frequências múltiplas e que se aproximam dos sons da natureza. E por aí fora. Logo a seguir tocou uma peça para piano. Afinal eram seis pianos e cada um deles com uma afinação diferente de todos os outros. Quer dizer, quando se pressiona a mesma tecla em todos eles, obtêm-se seis sons diferentes. Gostei muito. Fiquei a pensar que, em parte, é isso que fazem os guitarristas do pop/rock quando puxam as cordas com os dedos de modo a produzir distorções do som. Mister D. Gilmour is a prime example. Lembrei-me também de um tipo por quem andei embeiçado (ao tempo que não usava esta palavra) há muitos anos, muitos anos: Philip Glass.

Fui à net à procura de um bom exemplo e, sem me esforçar muito, encontrei isto. Com mais esforço devem encontrar-se outras mais interessantes:


Ontem, Sábado, pedalava serra acima (há dias e dias que o não conseguia fazer), as ribeiras tinham crescido com as chuvas dos últimos dias, e lembrei-me do espectralismo. O ruído da água a correr acompanhou-me serra acima.
Portanto, cá vai um vídeo para ouvEr a música da ribeira que corre. É muito interessante pensar que este som, pelo menos para mim, nada tem de ruído. E, seguramente, as frequências que ouço vindas da ribeira são em número extraordinariamente maior que as da escala diatónica.




(sapatinhos com sola de carbono e aplicações de metal não são, porventura, o melhor calçado para caminhar ribeiras acima e fazer um videozinho estável)




quinta-feira, 11 de abril de 2019

O Universo. Pelo menos o bocadinho mais à vista

Abril 2019

E depois da NASA ter publicado a primeira fotografia do horizonte de acontecimentos de um buraco negro; porque o buraco não se vê, apenas se vê a total ausência de tudo, de absolutamente tudo. O horizonte de acontecimentos, aliás, deve ser o local mais remoto do Universo, o local onde se pode sentir a a maior solidão. Estar ali, à beira de cair no poço sem fundo do espaço-tempo. Mas, dizia, depois de se ter publicado esta fascinante fotografia do Universo, apeteceu-me publicar aqui também uma fotografia do Universo mas de uma parte que, ao contrário dos 50 milhões de anos-luz a que está o buraco negro, está à nossa porta, à beira do nosso olhar, aqui mais à mão.

A Estrela (planalto central e Torre) e o Açor (visíveis os 3 picos: Colcurinho, S. Pedro do Açor e Picoto da Cebola) no horizonte e, em primeiro plano, o vale a Norte da Cordilheira (parte da Beira-Alta).
É pouco provável que os buracos negros tenham neblinas que, sob o efeito da radiação electromagnética, se elevem em danças caóticas sob fundo azul, ligando neuróticos no nosso cérebro que nos deixam extasiados e com a pele arrepiada. O êxtase nos buracos negros é mais conceptual: a ideia do buraco, da curvatura extraordinária no espaço-tempo, é fascinante e pode também deixar-nos com a pele arrepiada. Ambas as visões são belas. Na Terra, a percepção da beleza é talvez uma característica apenas nossa, do Homo sapiens (acho que a minha cadela tem afecto por mim mas, muito provavelmente, não me acha belo).