sábado, 27 de novembro de 2021

A raposa que não foi ao pão

1 Novembro 2021

Tinha-a visto pelo canto do olho. Fiz a curva da estrada e pressenti um vulto que se esgueirava pela encosta do lado esquerdo. Parei, perscrutei, nada, cerrei os olhos, nada, mas a sensação de ela estar ali a fitar-me mordia-me a curiosidade. Elas são muito curiosas, não fugira, não, com certeza que estaria por ali a observar-me, é assim que aprendem, tal como os cães, olham, tentam perceber, associam movimentos a acções, a comportamentos, ...  e, às tantas, foi olhos nos olhos. Os meus olhos nos dela, contacto imediato do terceiro grau.

Acontece-me com frequência; vou a pedalar por um caminho na serra e tenho a sensação de que algum animal me observa. Muitas vezes sinto-lhes o cheiro. Mas, em regra, não os vejo. Ou saltam à minha frente no caminho, como frequentemente acontece, ou o encontro imediato do terceiro grau não se dá. Mas já houve excepções. Com outras raposas e com veados. Um bosque, com manchas de luz e sombra, árvores próximas, bosque denso e às, tantas uma forma que não condiz com a geometria vertical do bosque composta pelas linhas rectas verticais das árvores. É o segredo para os distinguir dissimulados num bosque.

Estivemos ali uns minutos, olhos nos olhos. Então, devagar, devagarinho, levei a mão ao bolso traseiro da jersey, sempre fitando-a. Bastaria desviar o olhar e, caso ela se movesse, seria difícil focá-la de novo. Tirei o telemóvel, e ela observava imóvel, apontei-o na sua direcção, clique, clique, clique e ela imóvel. Às tantas um pequeno menear de cabeça. Apenas isso. Eu também, imóvel.

Onde está a raposa?


Ali


Onde?


Ali



Onde?


Ali





Levava pão com marmelada no bolso traseiro. Levei de novo a mão ao bolso e tirei um pedaço do pão. Chamei-a, liguei o vídeo e atirei o pão.

Let´s look at the trailer



A raposa não veio ao pão. Aproximou-se. Nitidamente ela percebeu que eu lhe oferecia alguma coisa. Eu estava mais perto do pão que ela. Talvez por isso ela não se aproximasse mais. Portanto, fui-me embora. Talvez assim ela encontrasse o pão. E, por isso, a história da raposa que não veio ao pão acaba aqui. No fundo é a história da raposa que, muito provavelmente foi ao pão mas após eu me ter ido embora. E esta é uma dúvida com a qual tenho que viver.





sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Lado B do post anterior

 

Tal como o dia, o post já ia longo. Quero dizer, o último post. Feitas as contas, consultados os astros, observado o voo das aves, lido o futuro nas entranhas da dourada que tinha comprado no mercado (uma bela dourada de mar), decidi não postar as fotografias das outonais "feuilles mortes". O post já ia longo. Tal como o dia.

Vai daí, a ideia de fazer outro post com "the rest of the best" impôs-se como o Sol quando sai de detrás das nuvens num dia nublado.




Estrada Nacional 236, aos 800 e tal metros de altitude.


A invernia dos dias anteriores fizera renascer os regatos que permaneciam em hibernação desde Agosto-Setembro. 



And let's show off the bike






Os bosques húmidos de uma humidade orgânica, da água que leva à morte e à vida. Porque a morte é intrínseca à vida.


E, por vezes, basta mudar de posição relativamente ao Sol, permanecendo no mesmo local, para as cores mudarem também.



E era isto.

E Avec le temps, va, tout s'en va ... e c'est très bien.