domingo, 31 de março de 2019

A estranha natureza da luz - the rest of the best

Serra da Lousã
Março 2019
Floresta aos 800 m de altitude

Postada a estranha natureza da luz fiquei impaciente. Caraças, para não dizer ora bolas que aborrecimento tão indesejável e perturbador em linguagem tabernáculo, if you know what I mean. Há memórias que se tornam inverosímeis. Pedalar pela floresta neblínica em altitude por roads to nowhere caem, a maioria das vezes, nesta categoria. E nem sequer pude postar os vultos que provavelmente vi por entre as árvores. Provavelmente. Uma sombra rápida. Dúvida. Vi ou não? A estranha natureza da luz que nos perturba os sentidos e as certezas. Tal como na floresta, a neblina torna os contornos da memória na minha cabeça quase irreais.   
Que há uma base física para a memória é sabido. Que há modificações morfológicas e bioquímicas nos neurónios também. Mas, para pôr as coisas em contexto: que raio é a memória? Esta seria umas das questões que colocaria ao génio da lâmpada de Aladino caso tivesse a oportunidade de ter um encontro imediato do terceiro grau com ele. Desde que nasci (ou antes) o meu cérebro foi construindo padrões com os quais interpreta a realidade. Às tantas não perceberia a explicação do génio. O entendimento do Universo, em certos aspectos, pode estar para além da capacidade do nosso cérebro. E nem me estou a referir a algumas abéculas ignorantes que se instalaram no governo de tantos países. Como dizia Agostinho da Silva, ainda que os físicos encontrassem a equação última para descrever o universo, a teoria unificada, que A = B, teríamos ainda que perceber o que significa igual!


(Oblivion de Astor Piazzola)

Portanto, o melhor é postar aqui os restos, algumas das sobras do último post. Ficam apenas dúzia e meia de fotografias por postar. Afinal este tasco serve para armazenar as memórias das pedaladas.




Sigo? Para onde?









A estranha natureza da luz


Como é que se guarda memória disto?



Ou disto?







Mas eu estava lá, como é bom de ver.






And the way goes on.



A bike tem o fascínio de nos permitir mover (viajar?) por ali, de fluir por ali, sem bater com os pés no chão (como acontece quando se caminha, quase nunca saindo do mesmo sítio), quase silenciosos,  desperturabdores. Este aspecto dinâmico da bike é difícil de entender por leigos.
Mas, como dizia o Sr. Campos, não me tragam estéticas, não me apregoem sistemas completos, tirem-me daqui a metafísica.





Afterglow


(Genesis, Wind and Wuthering, já sem Mr. Peter Gabriel)


PS. Talvez poste ainda uns videozinhos que fazem parte dos restos destas pedaladas. E, à cautela, o melhor é escrever isto aqui não vá a neblina toldar-me os neurónios onde a memória ficou armazenada.

terça-feira, 26 de março de 2019

A estranha natureza da luz

Serra da Lousã
Março 2019

Em dias destes, neblínicos, o silêncio pesa. Nada se vê, nada se ouve, tudo se transforma.




Num passe de magia uma bicicleta vinda sabe-se lá de onde perturba a paisagem.



Apenas momentaneamente. A road to nowhere.




Apenas momentaneamente, como disse.

Hellooooooo, is there anybody out there?



E mudando de ângulo, vendo luz não de frente mas lateral por entre os troncos das árvores, a clorofila dos troncos ilumina-se, as sombras tornam-se verdes por entre a neblina e o chão avermelha.




As paisagens fractais deslumbram. Esta geometria está-nos metida não só até aos ossos mas até aos genes. A organização da cromatina no núcleo das nossas células pode ser descrita por glóbulos fractais. Parece constituir uma geometria intrínseca à natureza. O contraste com a paisagem urbana (tudo assim muito à Euclides: triângulos, círculos, rectângulos ...) parece evidente.




... e, de um momento para o outro, depois de pedalar serra acima sem ver vivalma (muito menos os de 2 patas) e um palmo à frente do nariz durante hora e meia, o nevoeiro abre, a luz do Sol sem filtro neblínico atinge a floresta, as gotas de água brilham nas folhas dos cedros e caem no solo ... e é tudo muito bonito.


(cerca dos 800 m de altitude num dos estradões que atravessa a floresta)

sexta-feira, 15 de março de 2019

Estrela, um dia luminoso (2 de 2)

Serra da Estrela
(Março 2019)


(o som está péssimo, sorry mas não encontrei melhor)

Chegado ao planalto da Torre e contemplado o Açor fiz de conta que elaborei planos para a descida: "Ora, trinta km até aqui contando com umas voltas, sigo até ao Covão da Ametade, vale glaciar do Zêzere, Manteigas (ou Verdelhos?), Valhelhas ... isto dá mais umas dezenas."
Iria fazer mais 70 km (claro que furei o plano, ou melhor mantive-o como rumo principal mas fui dando umas voltas por ali e por ali, para espreitar o rio, para lavar as vistas no planalto sobre o vale glaciar ...).

Parei mal tinha iniciado a descida. A pequena lagoa junto à Torre estava gelada. Não me faltou a vontade de tentar dar uma pedaladas sobre a superfície mas caraças pá não sejas parvo - gritaram os neurónios do cérebro envolvidos nos mecanismos da razão.




A descida é uma vertigem. O conta-quilómetros rapidamente aumenta para as várias dezenas, a atmosfera quase que se torna uma barreira (como quando se põe a mão de fora da janela de um carro a alta velocidade), o corpo a chocar contra as moléculas e partículas da atmosfera (então se houver vento !!!), os horizontes, no entanto, mantêm-se distantes, tal como deve acontecer ao velejar em alto mar.
A descer (a velejar) a grande velocidade, logo depois da curva do Cântaro Magro, travei a fundo. Parei outra vez. Os vultos nas pedras mal se viam mas eram uma boa medida para se perceber a escala do que daqui se observa.




Nos Piornos, tal como planeado. Segui para o Covão da Ametade. Mal tinha feito meia dúzia de curvas,  furei o plano e cortei para o planalto sobranceiro ao lado Oeste do vale glaciar. Piso pesado, mole, ensopado de água devido ao degelo. Alguma neve nas bermas ainda. Afastava-me do Covão da Ametade (na base do Cântaro Magro que se vê à direita na fotografia) e aproximava-me cada vez mais de um dilema. O planalto onde estava é belíssimo. Pedalar ali, àquela altitude, é uma bela de uma sensação. Caindo para a direita iria por Valhelhas (como fiz já noutras pedaladas), pela esquerda pelo Poço do Inferno. Em ambos os casos um percurso que me levaria de volta à Covilhã. Mas e o Covão da Ametade? Salomónico, decidi: dou aqui umas voltas e, depois, volto para trás, volto à estrada que deixei e que me vai levar pelo vale glaciar.




De novo na estrada asfaltada dos Piornos para Manteigas que tinha deixado, parei na fonte da Jonja. Fonte da Jonja?
Parei pela água mas, sobretudo,




porque sentado na fonte de costas para água que corre abre-se à frente uma paisagem esculpida pelo gelo há 20 mil anos; o Vale Glaciar do Zêzere. Um visão avassaladora. No fundo corre o rio Zêzere.





Antes de acompanhar o Zêzere, descendo a estrada que serpenteia pela meia encosta do vale, parei no Covão da Ametade. Belíssimo, no sopé do Cântaro Magro, é hoje um local turístico muito frequentado. Bem diferente do tempo em que, adolescente e com um amigo aqui acampámos e à noite, sozinhos ali no planalto da serra, uivámos à volta de uma fogueira até sentirmos um calafrio que se nos meteu pelo corpo dentro ... o eco devolvia-nos os uivos mais intensos, mais graves e intermináveis ... o eco do eco do eco de mil ecos. Ficámos petrificados. Caiu-nos em cima a solidão, a imensidão granítica que nos rodeava sob a via láctea bem nítida e sei lá que mais. Metemo-nos na tenda em silêncio, à escuta, sós no Universo ...



(há uns tempos a cor dominante na fotografias que aqui tirei era o branco)

Descendo o vale glaciar, os riachos bem nutridos, alimentados pela neve, contornando pedregulhos gigantes, compunham a banda sonora que me embalava a descida. E como eu gosto desta banda sonora.

Depois, mais umas curvas fechadas na long and winding road que me levaria a Manteigas, a Fonte de Paulo Martins. Icónica. Tentei um ângulo de modo evitar apanhar os garrafões de águagarrafões de plástico alinhados e o tipo que os enchia na fonte.



No vale, há anos, havia os casais, casas cobertas de colmo com um pequeno redil para as ovelhas. Hoje - fiquei com essa impressão - algumas estão transformadas em casas de férias.





Legenda:


O vale glaciar traz-nos das terras altas, da montanha para um outro, mais ameno, bucólico, escolhido também pelo Zêzere para fazer o seu caminho. A tarde avançava. No fim do vale, após a curva do viveiro das trutas, planeei uma paragem estratégica em Manteigas para um café e um pastel de feijoca, especialidade da terra, na padaria/pastelaria Floresta. Pouco tinha comido até aí. Horas que nem dei pela fome. Tinha bebido vários cantis de água, comido uma banana, um pão e mais nada.

Meti-me pelo vale que me iria levar à Cova da Beira, quase a Belmonte. A partir da estrada asfaltada, uma estrada de inclinação suave que percorre uma das encostas que limita o vale do Zêzere desde Manteigas até Valhelhas, por vezes consegui pedalar mais junto ao rio, por entre freixos e pedras rolantes. Alguns dos troços marcados como "grande rota do Zêzere".




O Sol a cair sobre a encosta Oeste acentuava sombras horizontais, penumbras e contra-luzes que a luz intensa e mais vertical do meio-dia oculta. O entardecer. Além de uma bela palavra, é um dos momentos do nosso ciclo circadiano de 24h, inscrito nas nossas células, no nosso corpo, que para mim é muito sedutor. 



O entardecer junto ao rio Zêzere (que eu vinha a acompanhar há vários quilómetros) em Valhelhas.




É curioso mas, durante as pedaladas, a memória vai em standby. Ali, no tranquilo e belo vale que o Zêzere percorre, não me assaltou a memória das altas paragens que tinha percorrido antes de ali chegar


É o presente  que se impõe. Do mesmo modo, mais tarde, já quase noite na Cova da Beira a caminho da Covilhã, o vale do Zêzere era uma recordação hibernada, tal como as pedras no fundo do rio onde se escondem as trutas e que eu tanto gosto de olhar. Quando novo, metia-me em rios destes e bem sei o que escorregam estas pedras cobertas de algas.


O fértil vale onde, depois de impetuoso e caudaloso por entre rochas  no vale glaciar, o rio Zêzere se espraia, formando espelhos de água tranquilos. Percorri o vale, aqui sim, como um passeio no parque.
Por vezes, sem dar por isso, vou embalado com músicas que se me atravessam na memória. Às tantas vinha por ali a pedalar e a assobiar Fly me to the moon.


O telemóvel com a bateria quase esgotada refreou-me o ímpeto de fotografar. Mais uma ou duas, pensei. Uma, olhando para trás: o rio e as montanhas, lá em cima, por onde pedalara horas atrás.


Ao percorrer o vale, atravessou-se-me uma música na memória. Acontece-me muitas vezes, vou por ali fora a pedalar com uma música na cabeça e só muito tempo depois , numa paragem, num imprevisto etc, dou conta que vinha embalado em melodias.
Desta vez foi Caçador de Mim, cantado por Milton Nascimento, o genial Milton, e o Fly me to the moon numa versão tocada em saxofone.

And, here it is, Fly me to the moon para dois saxofones, em que um deles é o ciclista extraordinário (vamos lá a ver se a file abre, gravada à primeira, sem ensaios, e a tentar sussurrar para não abafar o outro):

Fly me to the moon


A Cova da Beira fez-se já ao ocaso. Passei perto de Belmonte, terra de Pedro Álvares Cabral e com tradição na comunidade judaica em Portugal.


Pomares de pessegueiros em flor ladeavam a estrada.





Guardei ainda uma última fotografia para registar a capela da Sra. do Carmo e o largo onde, na minha infância, havia a festa em Agosto. ainda hoje se realiza mas os homens não vão vestidos com os seus fatinhos de Domingo feitos de grossos tecidos pretos e com gigantescas melancias à cabeça e o chapéu de chuva pendurado no casaco junto ao cachaço no pescoço (nunca se sabia quando havia uma "bulha" e era preciso um bastão). O Verão quente, o pó do largo onde se fazia a feira e que cobria a roupa e a garganta, os animais, a roupa que abafava e fazia suar em bica, a confusão, o vinho que corria a rodos, a festa, a música, as procissões ... era um grande acontecimento.

Hoje há uma via rápida logo ao lado e o sítio tem um aspecto asséptico.
A Covilhã ao longe, a 10Km de distância. Uma distância suficientemente grande para permitir que a noite descesse sobre o vale. Chegada de noite, sem luz e a experimentar o friozinho finíssimo que se instala nos vales com o anoitecer, 9h após ter partido e 100 km pedalados. Foi a Estrela a 100.










sexta-feira, 8 de março de 2019

Estrela, um dia luminoso (1 de 2)

Serra da Estrela
Março 2019


Durante a subida, como tem sido hábito nos últimos anos, páro para olhar o vale onde nasci e passei parte da infância; a cova da Beira do lado encostado à Estrela. É difícil sobrepor o que vejo actualmente às memórias dessa altura. Da infância. Se o contasse seria para muitos insólito, to say the least. Eu próprio, que gosto de navegar na mudança, quase que desacreditaria na memória não fosse ela tão viva. Até os rostos e os cheiros estão ainda esculpidos a escopro e martelo nas sinapses do meu cérebro.







Daqui, deste sítio, a meio da subida para o "sanatório" (hoje hotel), quase que nos debruçamos sobre a Covilhã, fazendo jus ao nome do local: varanda dos Carqueijais. Que belo nome. Ao fundo, no horizonte, o monte granítico de Monsanto. A espreitar do lado direito, a Serra da Gardunha.








Sol intenso. Dia luminoso. E, pouco a pouco, pedalada a pedalada pela subida íngreme vamos embrenhando-nos na granítica paisagem. Sente-se o impacto do granito a toda a volta. A subida não é um passeio no parque de cabelo ao vento e sorriso nos lábios. Com o esforço, entro com frequência em "mind wandering"; vou por ali Estrela acima a pedalar com a cabeça nas estrelas. Como que num transe. Olhar fixo na roda da frente. Por vezes, sim, olho à volta, para logo depois retomar o transe. Pedalada a pedalada.

Um pouco mais de azul, isto é um pouco mais de altitude, quase nas Penhas da Saúde, a Gardunha fecha e traça a linha do horizonte a azul.








Passadas as Penhas, e passado o lago Viriato (apetece dizer: onde a terra se acaba e o céu começa),









o maciço central. Caraças, o maciço central ! Vai-se impondo na paisagem à medida que cada pedalada nos aproxima. Que força é essa que trazes nas pernas, que força é essa amigo?

Percebia-se que a neve cobria parte do Cântaro Raso.









O vale glaciar da Nave de Sto. António. Na moreia central vê-se claramente visto o "poio do Judeu", a pedra enorme que se destaca de todas as outras.

Contra o céu de nuvens difusas, o recorte dos três cântaros: o raso à esquerda (onde fica a Torre, identificável pela cúpula arredondada do radar), o magro  e o gordo (à direita). Aqui aos 1600 m de altitude faltam apenas 400 para subir à Torre. Basta seguir a estrada que serpenteia cântaros acima.

Na curva ao cimo da moreia, hei-de espreitar o Covão da Ametade na base do Cântaro Magro, centenas de metros lá em baixo. E, depois, durante a descida hei-de lá ir.








O dia ameno e a subida dura obrigava à paragem nas fontes. Bicas que jorram de paredes de granito.








Curva sobre o Covão da Metade. Parei. O belíssimo vale ao fundo onde nasce (um pouco acima) o rio Zêzere. Do lado direito percebe-se a ruga gigante na serra esculpida há cerca de 20 mil de anos por um glaciar: o vale glaciar do Zêzere, o maior vale glaciar da Europa com mais de 10 km de extensão.

Aqui o espaço engana. Os sentidos baralham-se. É que a serra é imponente. Parece logo ali, as bétulas e carvalhos do vale parecem uns pequenos arbustos acastanhados, mas basta reparar na curva da estrada asfaltada à entrada do vale e no tamanho dos carros estacionados para perceber o engano.








No mesmo local, para a direita, as paredes de granito que um dia, há mil anos, eu adolescente, quando estas paragens eram visitadas apenas por pastores, tentei subir (hoje dir-se-ia escalar em free solo) sem qualquer suporte logístico até ficar preso num pequeno patamar (a meio do Cântaro Magro ao fundo à direita) de onde nem para cima nem para baixo. E ali fiquei até que fiz qualquer coisa da qual não tenho memória nítida mas que não me custa imaginar e lá consegui sair dali mais ou menos incólume. Na altura era especialista em saltar de pedra em pedra. Andar por ali em passo de corrida, por estas paredes gigantes fora, saltando de pedra em pedra. A decidir ao microsegundo, enquanto se vai no ar, onde colocar os pés e ganhar balanço para o salto seguinte. E, por vezes, era um pequeno arbusto na falha de uma pedra que, servindo de apoio à mão, salvava o salto.





Ali, entre a imponência majestática do granito, as violetas da serra





Continuei. Depois do túnel, já sobre o vale de Unhais da Serra, as pedaladas começam a ficar mais pesadas. Aos 1800 m a hemoglobina contida nos meus eritrócitos que viajam aos trambolhões no sangue tem já uma certa dificuldadezinha em saturar de oxigénio e as mitocôndrias nas minhas células musculares não acham piada nenhuma a isso. Vale olhar o vale. E ao sentir-me arrebatado pela beleza que me entra pelos olhos sei que pelo menos os meus neurónicos têm ainda oxigénio e energia suficiente para se manter em forma; de outro modo, se estivessem a morrer com falta de oxigénio, como poderiam orquestrar a sensação de beleza que se sente ao olhar o vale? QED.







A chegada ao cimo da serra, à Torre, fez-se sem grandes surpresas, apenas a anormalidade do costume: carros, carros e mais carros, muitas pessoas, a maioria com merdelhices de plástico na mãos procurando um pedaço de neve para escorregar ... de resto nada de especialmente imprevisível.

Tirei a fotografia da praxe, aproveitei para comer um belo de um snack que levava no bolso traseiro do blusão e pus-me a andar dali para fora.







Bem, primeiro ainda fui ao lado Oeste do planalto. Tinha que ir. Tinha que ir olhar o Açor e as serranias por ali fora.

O Açor, o imenso Açor. A medula espinal montanhosa oblíqua no centro de Portugal: Estrela-Açor-Lousã.




Em primeiro plano, à esquerda, o cone quase perfeito do Picoto da Cebola (1400 m). À direita os outros dois dos três gigantes do Açor; o São Pedro e o Culcorinho. Entre eles, o vale onde nasce e corre jovem o Rio Ceira. Na encosta do Culcorinho, a desaparecer do lado direito, o vale do Rio Alva (este que nasce aqui perto do planalto da Torre, ali um pouco a Norte no Vale do Rossim). Ao fundo, na linha do horizonte à direita o St. António Neve e o Trevim (1200 m) na serra da Lousã. Por todos estes vales e picos já pedalei. Pelas cumeadas entre o Picoto da Cebola até ao Trevim. Chego aqui como se olhasse para as serranias pela primeira vez, como um conjunto mas, pouco a pouco, sem querer (e fazendo o que não gosto), descontruo a paisagem e começo a dar nomes aos montes e vales e lembro-me dos sítios e dos caminhos e dos rios ...


(os pequenos vultos na neve servem de régua para se entender a dimensão do que daqui se avista)





Afastado umas centenas de metros da multidão que enchia o largo da torre não dei conta que uma mulher se tinha aproximado. Vendo-me ali, talvez há tempo de mais, aproximou-se (afastando-se do pequeno grupo onde estava - percebi depois) e perguntou-me: ficava aí uma bonita fotografia? Olhei para trás e disse-lhe que sim. Clique.




Tinha feito uns 30 Km. Decidi ir para os lados de Manteigas, passando pelo Covão da Metade, depois Valhelhas .... Iria fazer mais cerca de 70. Foi a Estrela a 100.
(Começa a ficar pesado o carregamento das fotografias. Vou deixar o resto das pedaladas para o próximo post)