quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Comparado com isto a Web Summit LISBON 2016 foi um baile de garagem para amadores


(Para ouvir com o som no máximo)



E isto apenas com a roda traseira. Com a dianteira, fazendo o conjunto, e a duas baquetas, será o próximo "disruptive idea-based project".

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O dia tem que começar de alguma maneira

23 Novembro 2016

Neblina. Frio. Dúvida (caraças ... se vou já não faço isto e aquilo e aconteço e mais não sei o quê pela manhã mas, às tantas, pela tarde ainda vai a tempo, depois, noite dentro compenso e tal e o pensamento às voltas para sossegar a mente e, pronto, é só uma hora e não vai haver crise).

Quando cheguei à Varanda do Gevim já não sentia as orelhas. Ou melhor, sentia-as como se estivessem a chover agulhas.


Subir com 3 ou 4 graus C não gera grandes problemas para além das orelhas (a subir não gosto de as tapar, gosto de ir a ouvir tudo). Convém subir a sentir um friozinho para evitar suar (pelo menos com alguma abundância). Um friozinho que não chegue aos ossos mas que se sinta na face ... talvez o ponto ideal seja o friozinho que provoca "o pingo no nariz".


A descida é que seria o problema devido à sensação térmica equivalente a 4 ou 5 negativos. E, se suado, o frio entranha-se até à medula dos ossos.
Mas, para já, o repouso na pedra fria para aquecer os ânimos para o resto do dia.


Tanta gente que deve estar ainda a dormir lá em baixo. Em camas, em quartos, em casas, em andares ...  e, se espreitarem à janela dão com um céu coberto de neblina e, e, e, e ...


Uma das coisas singulares das pedaladas na serra é que se olha para cima e para baixo. E isto, que mais parece uma  Lapalissada, é importante e passa despercebido. É preciso pensar 1 minuto nisto para se perceber o conteúdo em toda a sua profundidade ! (por exemplo, também implica que estamos lá, no meio, lá dentro, fazemos parte ....). O desenvolvimento desta tese (?!) fica para outro dia. Por agora, sob o Sol intenso, são horas de voltar por ali abaixo, pelo vale da ribeira de S. João ainda sob nevoeiro.



segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Invernia suave (como se fora um chamamento)

Novembro, dia 20

E, de súbito, quer dizer, apenas com um aviso de véspera, um aviso em tons de luz coada, branca e difusa ... de súbito, a serra estava num turbilhão.

Um manto de neblina filtrava a luz e saturava o ambiente, criando a sensação de se estar in the middle of nowhere, rajadas de vento atiravam com folhas e ramos para a estrada e cortinas de chuva, puxadas a vento, varriam os montes.
É preciso aprender a pedalar à chuva. Sobretudo na serra. Somos habituados desde cedo a protegermo-nos da chuva. Fugimos da chuva. Evitamos a todo o custo levar com uns pingos na cabeça. Como se a chuva fosse um líquido tóxico. Tenho colegas que se lhes cai um pingo na cabeça enquanto circulam entre edifícios próximos correm a sete pés para um abrigo. Ou então abrem um guarda chuva  para o fechar 5 passos depois.
Quando se aprende a pedalar à chuva é como se chovesse "lá fora". Pedala-se à chuva como se pedala ao Sol. Corre a água pelo capacete, os pés vão ensopados, mas pedala-se com naturalidade e com prazer.  Por vezes, sob cargas de água torrenciais, começa a sentir-se uma humidade aqui e ali, de fora para dentro, em zonas do corpo que pensávamos mais ou menos inacessíveis. Quando se chega à fase de completamente encharcado, atinge-se o estado de equilíbrio dinâmico. É um sossego. Nada mais há para molhar. Nestas condições é importante que nos mantenhamos quentes.
Tive um professor de botânica, um homem famoso e muito conhecido, que andava à chuva como quem passeia à beira-mar num dia ameno de Verão. Um dia, à saída de uma aula, chovia a potes e ele, com grande naturalidade, pôs-se a caminhar rua fora. Eu, que seguia atrás dele com um guarda chuva, ofereci-lhe boleia. "Professor, não se quer abrigar, o chapéu dá para os dois". Olhou para mim e com uma voz tranquila mas tom desafiador disse: "obrigado, não é preciso, os cães também andam por aí à chuva". Fui com ele durante algum tempo. Mantive o guarda-chuva aberto (e ele ao meu lado a escorrer água), evitando apenas que os fios de água escorressem para cima do ombro dele. Já não sei de que falámos.

Pensei tirar fotografias. Mas como? O telemóvel no bolso traseiro interior significa que tenho que expor parcialmente as costas, levantando o casaco impermeável. Com vento e chuva esta acção requer a perícia de um contorcionista. As luvas encharcadas não se podem descalçar porque, uma vez cá fora, as mãos molhadas recusam-se a entrar novamente onde devem entrar. Mexer no telemóvel com as luvas não é, digamos, pêra doce.
Já a descer, lá consegui fazer um filmezinho sem tirar as luvas.
Estava sobre o vale da ribeira de S. João. O som da chuva misturava-se com o da ribeira.



Pela primeira vez desde o último Inverno ouvia-se a ribeira lá em baixo, no fundo do vale.
Passei lá pouco depois, numa aberta.
Ribeira de S. João. A água, geralmente cristalina, ia turva. A primeira enxurrada do ano arrasta detritos e lava as margens.



A despropósito,  acordaram na memória (como tantas vezes) os acordes da guitarra de Steve Hackett no "firth of fifth".
Aqui em 2013, quarenta anos depois da sua publicação no álbum "Selling England by the Pound" dos Genesis. Falta a parte inicial do piano e a voz do Peter Gabriel: the path is clear though no eyes can see ...
Mas fica o solo.





domingo, 20 de novembro de 2016

Sequóias na serra da Lousã

Novembro 2016

Pela primeira vez este ano, e apesar da amena manhã, o céu dava sinais de Inverno. Esbranquiçado, húmido, inundado de uma luz mortiça que anulava as cores das folhas das árvores, anunciando mudança. O Inverno vem aí. Finalmente.
Parei junto às sequóias. Há uns anos um companheiro com quem partilhei pedaladas no século passado mostrou-me as sequóias. São 3 ou 4. Não são tão imponentes como as gigantes que vi no sequoia park na "Sierra Nevada" na California. Uma delas, na sierra nevada, é a árvore de Natal oficial dos EUA, baptizada de General Sherman (americanices) e a maior árvore do mundo. Aliás (excluindo ecossistemas como, por exemplo, os corais), as sequóias são os seres vivos com a maior taxa de crescimento. Vivem milhares de anos. São cilíndricas e com raízes superficiais; por isso morrem de pé (por queda provocada por raios, vento ...).
As da serra da Lousã estão firmes embora, talvez, já com umas centenas de anos. Jovens, portanto. Apesar da casca rugosa e carregada de rugas.

 

Ao contrário de nós. Na nossa espécie, o Homo sapiens (ás vezes custa a acreditar na parte do "sapiens"), as rugas marcam a passagem do tempo. Como diz Aubrey de Grey, um gerontologista de Cambridge, do ponto de vista biológico, a mera passagem do tempo é um factor patológico.

(fotografia tirada de: apelphotography.com)

E, também ao contrário da nossa espécie, da casca rugosa nasciam rebentos novos e viçosos, que pareciam ter ânsia de medrar.


Três ou quatro, como disse



 


O plano era pedalar até ao cimo da serra. Queria ver as vistas para o lado Sul, o alinhamento dos montes sobre a luz esbranquiçada que escorria do céu. Mas, na curva do caminho, a visão de umas castanhas acabadas de cair do castanheiro e a espreitar nos ouriços tiraram-me dali a ideia. Os 20 min que ali estive a roer meia dúzia tiraram-ne o tempo que tinha para pedalar até ao cimo da serra. Dilemas. As castanhas ou os horizontes?

Hoje foram castanhas, amanhã serão horizontes ...  tam, tam, tam, taaaaaaaaaammmmmmmmm.






quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Quando o Sol se põe

Serra da Lousã
(Novembro 2016)



(Max Richter, Sun light)

Quando o Sol se põe, quando se esconde nas curvas e deixamos de o sentir na pele e nos olhos, cai uma cortina húmida. A respiração torna-se fria, há um impacto global no corpo, não um arrepio mas uma passagem para um outro local. As pernas e os pés, esquecidos durante a primeira parte da subida e das pedaladas ao Sol, acordam. Sente-se o frio a correr sobre a pele. Isto para não falar nas cores que ficam translúcidas. O alcatrão da estrada passa a espelho, as folhas dos castanheiros amolecem, os ouriços com castanhas caídos na beira da estrada, dourados sob o Sol, ficam castanhos e molhados. O céu contrasta com isto tudo. Faz o percurso inverso. O céu da tarde inundado de Sol, quase invisível, passa por gradientes de azuis quase até ao branco e depois, com umas nuvens por aqui e ali, passa aos amarelos e laranjas que vão escurecendo.



E porque é que vou a pedalar serra acima a esta hora, sem luzes na bike, se sei muito bem que tenho que voltar para trás e que quando o fizer não terei luz para ver a estrada? É o vento a assobiar aos ouvidos durante a descida que me atrai? O frio a gelar-me a cara? Os pingos frios do nariz, do ar condensado, que escorrem para as faces? A vontade de assistir à transformação de tudo à volta que ocorre quando se pedala serra abaixo às escuras? 





Ou é porque preciso de estar ali algum tempo? Perguntas de retórica porque não me interessa resposta.






sábado, 12 de novembro de 2016

GPS epic Bussaco a desaguar na Suzanne

Novembro 12, 2016

GPS epic Bussaco. 80 Km em autonomia com orientação por GPS:  travessia da serra do Bussaco para o vale do rio Mondego para os lados de Penacova e volta.
O Mondego tem um afluente por estes lados; o rio Alva. O rio Alva nasce no Vale do Rossim (Penhas Douradas) na Serra da Estrela. O rio Alva é um rio que corre na minha memória. Já subi o rio Alva pelo leito desde o Sabugueiro até à nascente; deveria ter uns 16 anos. Já passei muitos dias acampado junto ao rio Alva em Sandomil e em Avô; deveria ter uns 15 anos. Hoje, muitos anos depois, estive na foz do Alva. Enquanto por ali andava, sem dar conta, de mansinho, chegou Suzanne. Acontece-me com frequência quando estou junto a rios, rios pequenos. Desta vez, na semana da morte de Leonard Cohen, chegou com mais intensidade.

Suzanne takes you down to her place near the river ...





... and she lets the river answer ...


... and you want to travel with her ... 


Depois, muito depois, cheguei ao cume da serra do Bussaco. Ao longe, na linha do horizonte parcialmente escondida pelas nuvens, a serra da Lousã. Quantas vezes estive lá a olhar para aqui.




quinta-feira, 3 de novembro de 2016

outro lugar em Novembros

Serra da Lousã aos 900m de altitude
(Novembros)


Hoje, dia 1 de Novembro de 2016



Há um ano atrás, no mesmo lugar. É o mesmo lugar, demos mais uma volta ao Sol e o sistema Solar deu mais uma volta num dos braços da espiral da Via Láctea e, acima disto tudo, o Universo expande-se. Relativamente ao ano passado, o planeta está num outro local do Universo. Ao contrário do que acontece nos romances previsíveis, nunca se volta ao mesmo lugar e por, isso, nem àqueles onde se foi feliz.
Ah e tal mas o lugar não são só as coordenadas xyz de espaço e sabe-se lá o que é o Universo. E depois há, ainda, os multiversos. E afinal parece que a teoria das cordas diz que há umas 9 coordenadas de espaço e mais outra de tempo.
Vamos assentar numa coisa: para o caso as coordenadas do lugar são as árvores, os caminhos e as pedras. Podia até - como fazia quando era novo e já sabia que as estrelas morriam e que o universo estava em expansão e me sentava nas pedras a olhar o céu e abraçava as árvores -  escrever o nome com nas árvores com uma navalha, arrancando a casca com os dentes, para marcar as coordenadas.

Portanto, no mesmo lugar, em Novembro, há um ano atrás (quer dizer, ao iniciar a última volta ao Sol que terminou hoje e mais uma volta no braço da espiral ...)


No mesmo lugar, dois meses depois do último Novembro