sábado, 25 de abril de 2020

Abril 2020 silencioso

25 de Abril de 2020

Pedaladas em Abril. Pedaladas livres porque, pedalando pela estrada que já mil vezes percorri, surpreendo-me porque a não conheço. Mas, quase tudo é assim; um brilho novo, uma esquina de que não se deu conta, uma ruga ali, um perfume que entra em ressonância com memórias de tempos atrás, a chuva que desfoca o olhar, a neblina que transforma e sobretudo o que não percebo que mudou mas que perturba a paisagem de tal modo que o padrão não é reconhecido pelo meu cérebro que, face ao desconhecido, contrói um padrão novo.
Dia de chuva e neblina densa. Que se lixe (to say the least) - pensei, naquele engano de alma ledo e cego e tal - quero lá saber. Fui pedalando e sacudindo a água e memórias que não me interessam: o respeitinho é muito lindo, os senhores doutores e vossas excelências, os chapéus na mão e as cabeças baixas, os padre-nossos às luz das velas iluminando rugas fundas em testas tisnadas pelo Sol ... que se lixe (to say the least).




Após umas boas pedaladas serra acima, ainda antes do Candal, fiz um videozinho. 



Mais um pouco. Isto é, mais acima. Fiz ainda uns atalhos por caminhos de terra (difíceis porque pejados de pedras e paus escorregadios) na vã tentativa de, no silêncio imposto pela neblina, tentar ver os habitantes de quatro patas e belos pares de chifres de que tanto gosto. Estava tudo tão silencioso. Vi apenas, mas fugazmente, uns melros. Umas manchas pretas que se atravessam no caminho durante o tempo de um tremeluzir do olhar. Foi um confinamento absoluto.



Já agora, o assobio pretendia assassinar as seguintes músicas







quarta-feira, 15 de abril de 2020

E, agora, para algo completamente diferente

Abril 2020


e depois do último post, agora a floresta neblínica em modo lento. E sem canecas de cerveja nem céus nocturnos. E com David Gilmour no saxofone. O que é que se pode pedir mais?










domingo, 12 de abril de 2020

Floresta neblínica nas terras altas da Beira e uma noite em Leipzig

Abril 2020

Acho que Bach me perdoaria a justaposição da sua sublime música com as imagens da floresta neblínica nas terras altas da Beira, imaginando-o ali na taberna, em Leipzig, a beber com agrado uma bela cerveja, já noite bem entrada, antes de, passo a passo, percorrer a rua pouco iluminada que o separava da Igreja de St. Thomas onde, sem pressa, se sentava ao orgão, enchendo o espaço vazio e escuro do claustro com sons vindos sabe-se lá de onde. Estive um dia na igreja de St. Thomas em Leipzig, à noite, (depois de uma bela cerveja, pois claro) e assisti, sem o esperar, a um ensaio de um coro de crianças que cantavam Bach. Era o único "espectador". Foi um acaso.



(a ideia era colocar a música em cima das imagens)

Quando ali cheguei, aos 900 m de altitude, depois de ter pedalado serra acima sob densa neblina, olhei a floresta e a música de Bach acordou na minha memória.


sábado, 11 de abril de 2020

As brumas da mudança ou the mist covered mountain (1 de vários, provavelmente)

Abril 2020


As brumas e a mudança. As brumas mudam a paisagem. Não é a mesma paisagem sob as brumas; é uma paisagem nova. Toda a vida é feita de mudança, tomando sempre novas qualidades. E este é um problema comum: a incapacidade de adaptar/evoluir com a mudança. Por vezes, o cérebro que busca o conhecimento, que é curioso, ávido de novidade é o mesmo cérebro que fabrica travões e instala mecanismos de inércia à mudança. Curioso isto.


A floresta aos 900 m de altitude
















The mist covered mountains of home - música das terras altas da Escócia tocada nas gaitas lá deles ...




sexta-feira, 10 de abril de 2020

A persistência da memória

(D'aprés Dalí)



e do ímpeto para pedalar por roads (a sort of) to nowhere.




Quando muito caminhos que desaguam em aldeias fantasma,




com muros decorados com belos organismos em coroa; uma simbiose entre fungos e algas, os líquenes.