sábado, 22 de agosto de 2015

Serra do Açôr - BTT para poetas

Serra do Açôr
(Agosto 2015)

Poetas de altitude, pelo menos acima dos 1000 m !

É por aqui e em outros horizontes do mesmo tipo que eu gosto de pedalar. É duro mas o que é que isso importa. De vez em quando paro, tiro o telemóvel, e disparo a fotografia.


O Cebola com uma nuvem como que a pousar no cume numa focagem mais próxima


Os penedos de Fajão ao fundo


Passei nas eólicas na linha do horizonte à esquerda


É duro e rude, já disse,


mas o que é que isso importa!




Um dia destes tentarei ir por ali, depois apanho aquela cumeada e ... pois, cada descida ao vale implica subir depois uns 400 m em altitude, pelo menos ...



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Estes dias no Açôr

Agosto 2015
(Serra do Açôr)

Como é que se preserva a memória das pedaladas nas cumeadas no Açôr? Na memória, pois. Mas e as fotografias? As fotografias ... bem, talvez seja necessário torná-las indistintas para que se adivinhe o que lá está mas não se vê (if you know what I mean).







sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Agosto no Cebola

Agosto 2015
(Serra do Açôr - Picoto da Cebola)

A cada volta da Terra ao Sol é quase certo Abril águas mil, Natal em Dezembro, vinho em Setembro e Agosto no Cebola ...
A subida ao Picoto da Cebola, ponto mais alto da Serra do Açôr a cerca de 1400 m de altitude, tem sido sido, nos últimos anos, a primeira de muitas pedaladas por estas serranias quando venho para estas bandas em Agosto.
Subi pelo lado do "col de la Covanque" (quer dizer, a partir do cruzamento para a Covanca) com um calor infernal e desci pelo lado Norte com chuva, por um atalho direito às Meãs de tal modo inclinado que a mochila com a água me caía para a cima da nuca.

Poucas paragens para fotografias, contrariamente ao que é costume, porque ir ao Cebola é como que ir numa missão; é ir ali pelas cumeadas deslumbrantes, a levar com o vento e na pedalada certa, esperando que a fortuna a deixe durar muito! Esta é uma volta para poetas.

Casa do Guarda ao cimo da Barragem de Santa Luzia (ao fundo). Aqui é a terra do xisto.


Apanhado o estradão das Eólicas, já acima dos 1000 m passo sobre a aldeia de Fajão à esquerda (cujo edifício da antiga cadeia foi transformada em hospedaria "bike friendly"!) emoldurada pelos penedos do mesmo nome. A linha do  horizonte é disfarçada pelo fumo dos incêndios recentes.


Lá está o Picoto da Cebola, o cone em primeiro plano.  O risco branco do lado esquerdo é a estrada que me levará lá acima. Por trás, o planalto central da Serra da estrela aos 2000 m. A nascer no planalto da Estrela avista-se um cone de fumo do incêndio que neste dia assola a região de Gouveia e Manteigas.


A partir daqui foi velejar até ao sopé do Picoto pelo estradão. Um último olhar para trás, antes de iniciar a subida; os penedos de Fajão ao fundo.


E pedalada após pedalada, com mais ou menos derrapagem na pedra solta, mais suor a arder nos olhos ou menos força para tirar o bidão e beber água ... sobem-se os 3 km até lá acima.
E, uma vez lá, no cimo, é tempo de deixar o ar e tudo o resto entrar pelo peito dentro. A Torre, ponto mais alto de Portugal Continental, ali ao lado do capacete.


Ali


Aqui estamos no coração da cordilheira localizada na região centro de Portugal, a região das Beiras, desde a Beira Baixa à Beira Litoral, passando pela Beira Alta (Serras da Estrela, Açôr e Lousã). É uma espécie de espinha dorsal transversal. Ouvi dizer que é o local de onde se avista mais território em Portugal; desde o Alto Alentejo a Sul até ao Marão a Norte e da Estrela a Este (e por trás a Sudeste a Serra da Gata em Espanha) até ao mar a Oeste.

Para Sudeste. A serra da Gardunha ao centro, na linha do horizonte.


Para Sul


Sudoeste. A barragem de Sta. Luzia ao fundo, o local onde terminarei as pedaladas.


Oeste. O Trevim (1200 m) na Serra da Lousã, quase invisível devido ao fumo e à neblina na linha do horizonte.


Norte. S. Pedro do Açôr em primeiro plano e a Beira Alta por trás sob fumo. Nota-se o cume da Serra do Caramulo como um traço negro a cortar a mancha branca por baixo das nuvens..


E Este. O planalto da Estrela


Aqui já há granito, a pedra dura e fria.


"Aeolus" (deus Grego dos ventos) passa por aqui com frequência durante escapadelas do Olimpo.


Pois, mas é hora de descer.  A ideia é apanhar aquele caminho que me leva ao planalto ali em baixo e, depois, descer até ao vale das Meãs. Dos 1400 aos 750 m num instante.


Lá em baixo, na bifurcação do caminho, virarei à direita na direcção das Meãs. Um outro dia irei pela esquerda, pelo vale magnífico até S. Jorge da Beira.



O céu fechou, caíram umas pingas e na barragem de St. Luzia uma hora e meia depois a chuva era já copiosa.  A barragem está muito baixa, como poucas vezes a tenho visto. E vejo-a há muitos anos.




Olho agora daqui da barragem para o Cebola quando há um par de horas olhava do Cebola para aqui e mal se distinguia a barragem. O perfil na linha do horizonte, do cone do Cebola para o ombro (planalto onde bifurca o caminho) à direita descreve o trajecto que fiz a descer.



Foram as primeiras no Açôr. Outras pedaladas virão mas Agosto no Cebola está cumprido.





domingo, 9 de agosto de 2015

A mítica estrada da Beira (N17) e as sardinhas

Julho 2015

Ter amigos que, morando a 70 Km numa bela casa, nos convidam para uma sardinhada num Sábado à tarde tem várias vantagens. Uma que me veio à mente é que seria um excelente pretexto para umas pedaladas na bike de estrada.
Ok, o convite está aceite; vou de bike!

Foram 70 Km pela mítica estrada da Beira, a Nacional 17, que levava e trazia os emigrantes desde os anos 60. Liga Coimbra à Guarda e daqui à fronteira de Vilar Formoso. Pela minha parte, foi apenas entre Lousã e Oliveira do Hospital.
A N17 é uma espécie de "route 66" nos EUA que vai desde Chicago a St. Mónica na Califórnia. Já fiz pedaços desta route 66 na área de Los Angeles, quando lá morei. Não tinha grande interesse para além do mito associado.
A estrada da Beira. Já a fiz de carro, de camioneta de carreira das antigas, de autocarro com ar condicionado, de bicicleta e à boleia. Aliás, das boleias (quando estudava em Coimbra ia para casa à boleia) tenho memórias interessantes, "to say the least".  Desde camionetas com porcos - ainda me lembro que, para além do cheiro intenso,  os animais tombavam ora para um lado ora para o outro em todas as curvas - até propostas de sexo gay, já dentro do carro, feitas pelos gajos mais improváveis (não, não quero, pare o carro que eu fico já aqui).

Vamos lá então à sardinhada. Vai dar para aí uma sardinha por cada 10 Km, pelo menos. Pensei tirar meia dúzia de fotografias ao longo do percurso em locais icónicos.
Primeira: Câmara Municipal da Lousã.


Ainda antes de chegar à estrada da Beira (a 8 km da Lousã) tirei mais duas. O cabeço da Ortiga sobranceiro à Vila com uma nuvem a servir de coroa.



Já na N17, depois de Vila Nova de Poiares, surge a serra de S. Pedro Dias. De um lado, na subida, a famosa casa dos frangos e do outro, quando se chega lá acima, o imenso vale com o planalto da Serra da Estrela ao centro no horizonte (quase invisível sob as nuvens) e a Serra do Açôr à direita. Vê-se o cone do monte Colcurinho. O Açôr vai estar sempre presente ao longo do percurso, fechando o horizonte a Sul, como que a servir de moldura.
Embora administrativamente o não seja, S. Pedro Dias é uma espécie de muralha entre a Beira Alta interior e a Beira mais Litoral.


O rio Alva, surge na Ponte da Mucela, depois da descida de S. Pedro Dias. Está quase a lançar-se no Mondego. O Alva nasce na Barragem do Vale do Rossim, na serra da Estrela, e faz todo o vale encostado à serra do Açôr, limitando-a a Norte.


Moita da Serra. Este era um local irónico. Aqui (no largo logo ali á direita onde ficava um café) era o local de paragem da camioneta de carreira. A camioneta parava, o café enchia-se de gente e era um grande reboliço. Quem tinha dinheiro comprava uma sandes e bebia um cerveja e quem não tinha ia só à casa-de-banho e esticava as pernas ou apanhava a fresca da noite, fosse esse o caso. Eventualmente, tirava qualquer coisa do bolso para trincar trazido por cautela.

Reparei, ao passar, que o café ainda existe.
Logo a seguir surge o cruzamento para Arganil (por onde não vou).


Arganil fica lá ao fundo, no Vale, nas fraldas do Açôr.
Já pedalei umas quantas vezes por aquelas cumeadas do Açôr. É dos locais mais deslumbrantes que conheço para pedalar. A última foi em Abril passado.


Este é outro ícone: a curva do Salazar. Sim, esse mesmo, o de nome próprio António e natural de St. Comba Dão. Lá ao fundo fica única curva da estrada que tinha protecções laterais. Conta-se que o homem, numa das suas deslocações de carro a que era avesso, teve um sobressalto nesta curva. A curva é em U, o motorista deve ter tido alguma dificuldade em fazê-la, o carro deve ter fugido um pouco,  e o presidente do conselho via a sua tranquilidade perturbada. Mandou que se fizessem umas protecções naquela curva.
Ainda hoje lá estão uns muretes de cimento pintados de branco. A curva é lá ao fundo mas o pretexto da fotografia é o marco que ainda é característico da estrada da Beira. É do tempo em que a velocidade permitia olhar para estes marcos na beira da estrada e perceber as distâncias às terras que se avizinhavam. Um Km, um marco destes. Este é o Km 52. Cada cem metros é marcado por outros mais pequenos. Faltam-me 19 Km para Vendas de Galizes.
Basicamente estes marcos são um "upgrade" dos usados pelos Romanos 2000 anos antes.


Este era um local de paragem mais "selectivo", o café/restaurante Tabriz em Gândara de Espariz. Entrada com antecâmara, protegendo o interior do frio, com acesso ao café de um lado e ao restaurante do outro. Paredes de granito. No café havia um belo fogão de ferro a lenha com painéis de vidro que permitiam ver a lenha a arder. Um belo fogão que criava um ambiente morno e confortável nas noites frias da estrada da Beira. Parei ali algumas vezes para tomar café junto ao fogão.
Hoje está ao abandono.



Passo o cruzamento para Coja e a serra do Açôr sempre ali, como uma muralha a Sul,


com o monte Colcurinho à esquerda (aos 1300 e tal metros), um cone quase perfeito, impondo-se no horizonte ao longo da cadeia montanhosa


ou espreitando por entre as árvores da estrada.


Às tantas, numa curva antes de entrar na Venda da Esperança, surge em frente o planalto da Estrela. O cone do Colcurinho ali mais perto como que marca a transição do Açôr para a Estrela.


Vendas de Galizes. É uma imagem típica da estrada da Beira; a passagem pelo meio das povoações com casas e quintais à beira da estrada.


Antes de deixar a estrada da Beira, a Estrela está mais próxima, vê-se por entre o arvoredo à beira da estrada. Aquele é o desfiladeiro de Loriga, granítico, imponente, um desnível de cerca de 900 m (o maior da serra, desde Loriga até ao planalto central, e provavelmente o de maior desnível em Portugal) que subi há muito anos a pé. É só seguir em frente mas não vou chegar lá. Ficarei a 20 km. Tenho hora marcada para as sardinhas.


Cheguei a horas. As sardinhas foram comidas com vistas para o Colcurinho.