quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Quando o Sol se põe

Serra da Lousã
(Novembro 2016)



(Max Richter, Sun light)

Quando o Sol se põe, quando se esconde nas curvas e deixamos de o sentir na pele e nos olhos, cai uma cortina húmida. A respiração torna-se fria, há um impacto global no corpo, não um arrepio mas uma passagem para um outro local. As pernas e os pés, esquecidos durante a primeira parte da subida e das pedaladas ao Sol, acordam. Sente-se o frio a correr sobre a pele. Isto para não falar nas cores que ficam translúcidas. O alcatrão da estrada passa a espelho, as folhas dos castanheiros amolecem, os ouriços com castanhas caídos na beira da estrada, dourados sob o Sol, ficam castanhos e molhados. O céu contrasta com isto tudo. Faz o percurso inverso. O céu da tarde inundado de Sol, quase invisível, passa por gradientes de azuis quase até ao branco e depois, com umas nuvens por aqui e ali, passa aos amarelos e laranjas que vão escurecendo.



E porque é que vou a pedalar serra acima a esta hora, sem luzes na bike, se sei muito bem que tenho que voltar para trás e que quando o fizer não terei luz para ver a estrada? É o vento a assobiar aos ouvidos durante a descida que me atrai? O frio a gelar-me a cara? Os pingos frios do nariz, do ar condensado, que escorrem para as faces? A vontade de assistir à transformação de tudo à volta que ocorre quando se pedala serra abaixo às escuras? 





Ou é porque preciso de estar ali algum tempo? Perguntas de retórica porque não me interessa resposta.






7 comentários:

  1. Just because...
    Belíssima música.
    :)
    Maria

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    1. E porque sim lembrei-me de uma outra bela música:
      "Because" dos Beatles. Uma melodia ao estilo Lennon.
      João

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    2. E agora ao ver o sol (depois de uma noite tempestuosa) lembrei-me de outra bela música do mesmo álbum mas ao estilo Harrison:
      Here comes the sun
      (doo doo doo doo)
      Here comes the sun
      And I say
      It's all right.
      Pode ser a versão do Abbey Road ou, melhor ainda, a do duplo cd "George Harrison Live in Japan", with Mr. Eric Clapton on guitar and backup vocals.
      Bela semana, João.
      Maria

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  2. Embora espectacular seja mesmo a versão que ambos fazem do Something: uns solos fantásticos lá pelo meio.
    Maria

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    1. Espectacular. Fui ao Google, apanhei uma gravação do concerto no Japão em que tocam "Something" e já a estou a ouvir em som "como deve ser" numas colunas ligadas ao meu computador. Os meus "vizinhos" de trabalho não acharam grande piada; ouvirem-se guitarras pelo corredor fora está fora dos cânones aqui do building!
      O orgão eléctrico em fundo (que faz um excelente suporte durante toda a música) é um Hammond. Conheço este som desde que toquei num grupo há mil anos. É um som muito característico e de que gosto muito.
      Bela semana, Maria
      João

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    2. Como não gostaram? Deviam era estar gratos pelo privilégio de ouvir esses dois ;)
      E pensar que eles se zangaram por causa da Patty Boyd.
      Miúda sortuda que inspirou o George no Something e o Clapton na Layla; convenhamos que é obra.
      Mas depois fizeram as pazes e foram os dois tocar ao Japão.
      Maria

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    3. ... mas não levaram a menina Boyd. Não fosse o diabo tecê-las.
      João

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