A memória das pedaladas. Foi esta a principal razão.
O blog é, assim, uma espécie de dispositivo virtual de reforço sináptico.
O quilómetro zero é um bom ponto de partida. E este é um Km 0 com um vulcão ao fundo com o cume (quase sempre) coberto por nuvens.
Mas, o plano começou algum tempo antes. Congeminado no dia anterior foi-se tornando cada vez mais fluido.
A ideia era ir ali, não ao museu mas ao sopé de um dos "dos volcanes" na orla do lago Llanquihue (Puerto Varas, Chile). Novembro de 2013, Primavera na Patagónia Chilena, o tempo estava bom.
O museu era aqui e ficou para mais tarde (cada visitante deixava o dinheiro que entendia ser adequado, não havia cobrança de bilhetes)
Os "dos vulcanes" do outro lado do lago é que me interessavam,
um
o outro.
Trinta euros? Eu estava ali em trabalho, numa reunião com centenas de pessoas. A organização do encontro proporcionava um passeio de jipe até aos vulcões. Sessenta Km, contornando o lago pela direita, uma grande probabilidade de não estar neblina, caminhar um pouco pela encosta do vulcão, bela ocasião para umas fotos, ... mas ... trinta euros? Com esse dinheiro faço a festa de outra maneira, pensei. Fui à loja das bikes falar com o tipo que tinha conhecido no dia anterior. Buenos dias, queria alugar uma bike para ir até aos vulcões, mas não tenho equipamento e assim (abri os braços e apontei para mim), com o fatinho de ir a reuniões, não dá. É que, costumo andar de bike pelas montanhas em Portugal, do outro lado do oceano, e tal. A empatia estabeleceu-se. Ele, um tipo porreiro de cara redonda, abriu um sorriso como quem já viu o filme e disse: alugo-te a bike, empresto-te o meu capacete e um corta-vento, o resto é contigo.
Uma hora e três voltas a Puerto Varas depois, já tinha uns calções, uns sapatos e três pacotes de bolachas. Comprei os calções (de banho) e os sapatos (sola de borracha para caminhar) numa loja parecida com as que havia em Portugal há muitos anos, com um balcão comprido de madeira, prateleiras com tudo (sapatos, camisas, lãs, tecidos ...) arrumado em caixinhas de cartão, atendido por uma senhora muito gentil com uma fita métrica ao ombro. Sapatos 12 euros, calções 4 e ainda ficavam 14 euros para o aluguer da bike. Tudo pelos 30 euros (as bolachas, eram o almoço, não contam).
Daí a pouco, em grande estilo, já pedalava em direcção ao vulcão pela margem esquerda do lago. Encontra a linha do comboio e segue essa direcção até à Municipalidad de Llanquihue, depois segue a orla do lago pois encontras sempre caminhos, tinha-me aconselhado o tipo da loja das bikes,
Fui apanhando uma chuvinha mas o corta-vento da Marmot era fantástico; respirável e mantinha a temperatura corporal. Nunca tive uma peça de equipamento tão boa como esta.
Não cheguei ao sopé do vulcão, não consegui ver o cume devido à neblina que o cobre (quase) sempre, andei às voltas algumas vezes, tive umas chatices com uns cães, mas foi um belo de um passeio.
Quando cheguei a Puerto Varas à loja das bikes (tinha alugado por 3-4 horas mas demorei o dobro do tempo) várias horas depois e já a anoitecer, o tipo da loja surpreendeu-se, como quem pensa: olha, este sempre apareceu!
Pelo caminho (quase sempre com o vulcão ao fundo, sob as nuvens):
Estradão e quintas,
à beira do lago. Os "dos volcanes" com o cume coberto por neblina,
Llanquihue,
boutique "Entre Chicas"
em maior detalhe para se apreciar o equilíbrio das cores e o fino traço da composição ... e com auto-retrato
outra boutique !
auto-retrato em Llanquihue,
o mais belo gelado (frutos vermelhos, bem vermelhos como se vê) da minha vida em Llanquihue (a fominha apertava),
e vamos andando,
a neblina sob o vulcão não abre,
Km zero, para Frutillar ou Punta Larga ( e a neblina que não levanta)?
Olá João,
ResponderEliminarO gelado era bom.
E la cerveza austral,que tal? estava fresquinha?
As fotos em que se vêm os vulcões também são suas?
Essas boutiques com 50% descuento são uma tentação...
E o deux-chevaux amarelinho é mesmo giro.
Já o Pico também gosta muito de estar vestido de neblina.
:)
Maria
Olá Maria,
ResponderEliminarO gelado que mais bem me soube na vida. Provavelmente. Aliás, foi uma grande surpresa ter encontrado um pequeno restaurante que, num cubículo à entrada, servia gelados aos transeuntes. Ainda me lembro da surpresa da miúda que vendia os gelados ao ver-me chegar ali de bike, um gringo de pele clara. Depois veio outra (provavelmente a irmã) e fizeram-me muitas perguntas (quem era, de onde vinha ...). Quanto às boutiques aquilo era delicioso. Lembrava-me Portugal nos anos 60-70; as lojas com roupas que hoje consideramos muito antiquadas to say the least (então a lingerie nem comento), Mas era tudo muito interessante; uma pequena povoação na Patagónia não se visita todos os dias.
Sim, todas as fotografias são minhas. De outro modo indicaria o autor. Nestas coisas dos direitos de autor sou muito rigoroso. Os vulcões elevando-se acima do espelho do lago e com o cume coberto de neve compunham uma imagem do tipo "postal ilustrado". O telemóvel que tinha na altura era muito mau e não consegui fazer melhor.
Uma vez ouvi um especialista em cerveja dizer que uma boa cerveja é a que nos sabe bem no momento. No deserto, com sede, qualquer porcaria que se vende por aí com nome de cerveja seria a melhor do mundo. Pois aquela Austral soube-me que nem ginjas, como se diz na Beira-Baixa.
Foi curioso rever estas fotografias porque me acordou a memória destas pedaladas.
João
Sim, aquelas fotografias estão mesmo de postal ilustrado.
ResponderEliminarPerguntei porque fiquei com a ideia que o João não tinha conseguido ver os vulcões sem a carapaça da neblina.
É tão frustrante irmos tão longe e não conseguirmos ver o que queríamos em toda a sua plenitude.
Ainda bem que conseguiu :)
Maria