quinta-feira, 1 de março de 2018

Não passo por um bosquezinho fractal como a raposa por vinha vindimada

Serra da Lousã
(Fev. 2018)

Não. Páro e vou lá. É que não vale a pena não ir.

Ainda na semana passada lia um artigo escrito por uns tipos que desenvolveram uma ferramenta bioestatística e que mostram que o arranjo do DNA no núcleo das células pode ser descrito por uma geometria fractal. Em cada núcleo, em cada célula, temos cerca de 2 metros de DNA enrolados num espaço com 1 micrómetro de diâmetro (cem vezes menor que a espessura de um cabelo). O enrolamento é extraordinariamente (to say the least) compacto com voltas e "loops" mas ... sem nós. O núcleo é um glóbulo fractal. Diz-se dos fractais que são uma dimensão geométrica escondida da natureza. Pois ! mais escondida que no núcleo das células é difícil de encontrar.
Ver o modelo aqui, por exemplo: arquitectura da cromatina no núcleo das células

Mas, vai um gajo por ali fora a pedalar de cabelo ao vento, não fora o capacete e a falta dele (do primeiro). Planalto da serra, acima dos mil metros, com vistas magníficas. Para um lado, o olhar alonga-se até à serra do Caramulo, para o outro pelo vale do Central e da Castanheira de Pêra, pelas serranias fora até não sei bem onde. Longe. Já o disse um milhão de vezes: passo nos mesmos locais e nos mesmos caminhos muitas vezes. Às vezes, olhando para o chão, reconheço uma pedra, um rego, uma raiz, mas cada vez é como se fosse a primeira, tal a descoberta e a surpresa do que vejo.


Logo ali, do lado de lá de uns pequenos cedros, antes do vale afundar para os lados do Coentral, um bosque. O emaranhado das copas nuas despertou-me uma vontade irresistível (também não sou muito de vontades resistíveis) de parar de pedalar, encostar a bike e ir até lá. Quis meter-me pelo meio do bosque, entrar na paisagem fractal.



Mas foi foi como buscar o arco-íris: penetrei no bosque de cabeça, como se mergulhasse num lago,


mas, à media que caminhava,



a geometria fugia-me à frente dos olhos. A paisagem ia-se reproduzindo sem nunca a atingir.



Foi a experiência fractal possível.
Foi interessante andar por ali às voltas, literalmente às voltas. Felizmente, ali no meio da serra àquela altitude não se encontra ninguém; de outro modo lá se ia a reputação de sanidade mental que carrego às costas (às vezes com alguma dificuldade).



Soube bem voltar à cumeada e continuar as pedaladas com vistas sobre as lonjuras.




Para depois voltar à vila de onde tinha saído, pela manhã, sob uma cortina de neblina.


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