domingo, 14 de setembro de 2014

Do Carvalhal da Rocha à praia do Canal ... e volta

Tinha estado perto no dia anterior. P'raí a uns 20 ou 30 Km. O tipo que encontrei no meio dos eucaliptais, em tronco nu, T-shirt enrolada na cabeça, a marcar uma pista com pauzinhos e pedrinhas (pelos vistos, a família e amigos vinham seguindo o trilho por ele marcado) e ar de quem desbrava territórios intocados em África deu-me conta dos detalhes: olha vais sempre na direcção do Sol, caindo ligeiramente para Sul, o Sol é o meu GPS tás a ver? eu ia lá quando fazia surf, só o pessoal do surf conhece a praia do canal. OK pá (disse eu) obrigado mas acho que volto amanhã, agora já é tarde, já vou chegar de noite ao Carvalhal da Rocha.

No dia seguinte pedalei novamente para Sul.


Ainda não tinha arranjado posição no selim e já estava na N120. Alguns Km e insultos aos automobilistas depois estava a atravessar a ribeira de Seixe em Odeceixe que separa o Alentejo do Algarve. A diferença é notória, do lado direito é o Alentejo, do outro o Algarve (vê-se claramente uma estrada, uma casa e um muro de betão na margem Algarvia).



Nesta fotografia as diferenças são ainda mais evidentes: camionetas com matrícula Alemã a cair de podre (a fazer de "roullotes") do lado Alentejano e belas moradias altaneiras amontoadas como peças Lego na falésia do lado Algarvio




A partir de Odeceixe apanhei a auto-estrada das motorizadas (vi mesmo uma Famel Zundapp - quem se lembra destas!) do pessoal da região: o carreirinho à beira do canal.
Às vezes, nas ligações, perde-se o carreiro mas, não desistindo de o encontrar, mais cedo ou mais tarde damos com ele
https://www.youtube.com/watch?v=aEspNd251kk

Maria Vinagre, Rogil, Parque do Serrão, foi um instante.




Rogil


Em grande parte estava a seguir a "rota do Sudoeste Alentejano" com marcações bem claras para caminheiros e ciclistas.
A primeira paragem foi no Castelo de Aljezur, após uma bela de uma subida em calçada.




O vale magnífico por onde a ribeira de Aljezur corre para o mar (logo ali) foi, há séculos atrás, o único porto de abrigo entre Sines e Sagres para as Naus vindas de Lisboa, Castela e Flandres.



Depois de ter mentido aos turistas Brasileiros que por ali encontrei, dizendo-lhes que vinha dos Alpes a pedalar há mais de uma semana, eles devem ter achado que eu, na pegada dos navegadores dos séculos XV e XVI, era um grande aventureiro e insistiram em tirar-me uma fotografia. Até porque a diferença entre uma Nau e uma bicicleta não é assim tão grande; muitas vezes a descer serras penso que estou a navegar !


As Naus pagavam portagem para entrar (pois, pois !) e trocavam tecidos e mercadorias pelo trigo da região. Por isso, há por ali muita desta tecnologia amiga do ambiente:




E siga que se faz tarde



Cada vez mais próximo da falésia



Para o outro lado fica não Solsbury Hill

https://www.youtube.com/watch?v=eMwn_hnoS5Y

mas a serra de Monchique


Às tantas ficou um pouco labiríntico mas, como dizia o "explorador" do dia anterior, o mar é o GPS



Praia do Canal. O explorador tinha razão: só surfistas. 



O Sol já se inclinava sobre o mar e os raios rasantes sobre as estevas apressaram as vistas


 O Adamastor?



O pão com marmelada foi também num instante, enquanto avaliava se ainda teria tempo para desenhar um percurso novo para a volta. A esta hora talvez seja melhor apanhar a N120, pensei. São cerca de 40 km, a pedalar bem talvez consiga em duas horas.

Em Maria Vinagre ainda meti pelo canal



Em Odeceixe, de novo a cruzar a fronteira para o Alentejo. A esta hora as diferenças entre as duas margens são ainda mais óbvias


 Logo depois, em Baiona, ainda parei na expectativa de haver pão. E estamos a aqui a falar de um pão como deve ser, Alentejano, de trigo, cozido a lenha e com kilo e meio.  Há apenas um ligeiro contratempo. É que, levar um pão destes preso à mão no guiador da bicicleta tira não só um bocadinho de performance mas também o equilíbrio. E isto na bicicleta não é bom! No ano anterior, levando um pão destes, a roda da frente resvalou na berma e, além de uma cabeçada no chão que partiu o capacete, esfolei-me todo do lado esquerdo (o que foi uma excelente desculpa para não ir à praia).

No Brejão, ao por-do-sol, quase a chegar, levantou-se uma brisa mesmo a calhar para arejar a mente e o resto.



Pedalei hipnotizado os últimos Km com os olhos no Sol até desaparecer no mar. Até ao Carvalhal da Rocha.





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