sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Nas terras altas do Açor

Agosto 2019


Chegara na véspera. O tempo? Quase imprevisível. Quase porque não bastava ler os sinais à volta, olhando o céu -  intensidade e direcção do vento, tipo de nuvens, temperatura, intensidade da luz ... e por aí fora - para fazer uma boa previsão com um par de horas de antecedência. A aplicação no telemóvel dava 15 % de probabilidade de chuva. Nestas coisas, vai-se em frente. Avisado fazer uns treinos, aguardar para um dia mais solarengo, programar a coisa, partir pela manhãzinha para ter tempo ?... sim, mas ... que se lixe (to say the least). Vai-se em frente. De modo que, já ia a tarde adiantada, e debaixo de um céu quase ameaçador, meti as precauções no bolso e pus-me a caminho do Picoto da Cebola, do cume da serra do açor aos 1400 m, do adamastor do Açor.

Ainda ia a ajeitar-me em cima da bike e, poucos km depois da partida, fazia a curva que abre os horizontes para Este, para o picoto da Cebola (o pico do meio na tríade à esquerda), para o planalto central da Estrela (ao centro na linha do horizonte) e, logo ali, para a barragem de Sta. Luzia.


Olhei para trás para parte do caminho que já tinha feito


para logo descer até à água e olhar de novo o Cebola.


Cantis cheios na fonte e vamos embora que se faz tarde. Ia resistindo à tentação para parar e fotografar porque àquelas horas os minutos passam rapidamente mas, às tantas, já depois ter passado no Vidual de Cima, caí (de bom grado) na tentação - um ciclista não é de ferro, como é bem sabido.


A partir da barragem, aos 650 m, o caminho é em subida constante - tirando a descida ao vale onde fica a Malhada do Rei - até ao Picoto, ao 1400 m. Há que imprimir um ritmo, há que ir indo, há que deixar que o vento nos leve. De outro modo, parando aqui e ali com muita frequência, perde-se o élan (que bela palavra, acho até que é a primeira vez que a uso aqui no tasco). E para perder o élan já me bastam algumas chatices de outra índole (aqui está outra bela palavra).
A continuación, acerquei-me do Adamastor e, na decida para a Malhada do Rei, uma brevíssima paragem para olhar o cume, levantar os ísquios do selim (para dizer isto de uma forma elegante) por um instante e, clique, uma fotografia.




O clique seguinte foi tirado já acima dos 1000 m, na cumeada que se vê lá em cima è esquerda (na fotografia anterior), quase na base do Picoto. Dali, e olhando para Oeste, via claramente vista a serra da Lousã a marcar a linha do horizonte; a serra azul sob nuvens com ar tempestuoso.


E o Sol ia baixando e o que tinha ainda para pedalar.

Depois ... cheguei. Longas pedaladas. Estava dobrado o Adamastor do Açor. A história da subida final não se conta. Uma subida cuja inclinação se acentua com a aproximação ao cimo. Cada pedalada mais difícil que a anterior. O rio e as povoações metidas nos vales (Covanca, Malhada Chã) que vão ficando mais pequenas, as aves de rapina planantes que são avistadas olhando para baixo, os aerogeradores com pás de 30 m que parecem pauzinhos frágeis, e pedala-se até não haver mais caminho para pedalar. Dali avista-se um terço do território Nacional.


Comme d'habitude (e uma vez que a carga no telemóvel não permitia um videozinho) uma fotografia para Oeste (o maciço central da Estrela em frente).


Outra para Sul. A serra da Gardunha no horizonte à direita, na direcção das Minas da Panasqueira logo ali em baixo. Um pouco à esquerda (no horizonte) Monsanto e, logo atrás, Espanha.





Pare Este. A Serra da Lousã (de novo mas 400 m mais alto) na linha do horizonte ao centro. Em dias limpos ver-se-ia o mar.



Voltando um pouco atrás na rotação, na direcção Sudoeste, vislumbra-se a imensa barragem de Sta. Luzia, de onde partira  (ao fundo e ao centro), quase imperceptível na paisagem. Visto daqui, apenas um pequeno espelho de água entre penedos.



Para Norte, as cumeada Norte do Açor (que percorri em Agostos anteriores e que por aí estão descritos) que separam vale do rio Ceira, em primeiro plano, do vale do rio Alva, do outro lado. Depois o olhar percorre o imenso vale até à serra do Caramulo, as serranias azuis na linha do horizonte.



Faltava regressar. O plano era seguir pela cumeada, mantendo-me aos 900 m para, sobre a casa do guarda, descer que nem um doido até à barragem. Uma trajectória across the Universe, pelo menos através de um bocadinho do Universo que, pelos vistos, a maioria dos físicos acha que é infinito.

O Sol caía para os lados dos penedos de Fajão. Na descida haveria de ver belos céus com luz candente mas fica para depois, para mais tarde. Acabou-se-me o tempo.




Colocarei aqui algumas fotografias de mais um bocadinho do Universo.





4 comentários:

  1. João, obrigada pela quarta, pelos Quatro e pelos amarelos...
    Enjoy the mountains and the starry nights.
    🌻
    Maria

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    1. Adenda:

      Mas que comentário mais parvo :(
      I wonder if you understood what I meant... se bem que after all these months isso já não interessa nada.
      🌻

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  2. "Isn't it ironic, don't you think", João?
    Eu aqui, feita tonta, a desejar-lhe starry nights no Açor e o João a pedalar Across The Universe, rumo à Estrela Polar, a ver icy sunsets e talvez até uma Aurorazita Boreal...
    It's very funny and Ironic, don't you think?
    🤗
    Maria

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    1. Olá Maria

      Isn't life strange (The Moody Blues):
      ttps://www.youtube.com/watch?v=ESER7DFXWiI

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