Com a Volta a Portugal a passar-lhe à porta, o ciclista extraordinário sentiu-se compelido a ir para a berma da estrada e apoiar os cavaleiros do asfalto, por assim dizer. O ciclista extraordinário deu umas pedaladas serra acima, escolheu um local com curvas e uma boa sombrinha debaixo de uma bela árvore. Apenas o ciclista extraordinário estava por ali, mais ninguém. Encostou a bike à árvore, preparou o telemóvel e pôs-se à espera. Previra que demorariam uns 10 a 15 minutos. Na primeira meia hora o lista extraordinário apenas viu passar carros e motas da polícia, mais de 15. Ia berrando para os motards policiais "já lá vêm?" mas apenas obtinha, quanto muito, uns esgares de soslaio, ao que o ciclista extraordinário respondia (baixinho, não fossem eles ouvir) com uns termos tabernáculos.
O ciclista extraordinário foi-se entretendo a olhar para os passarinhos, as folhas no chão, os troncos das árvores. Às tantas apareceram. O ciclista extraordinário apontou o telemóvel e começou o videozinho. Eram uns 4 ou 5. Depois carros e mais carros. Então o ciclista extraordinário percebeu que se tratava de uma fuga e resolveu manter o videozinho, esperando, pensou ele, 1 minuto ou 2 pelo pelotão. O ciclista extraordinário estava para ali com o telemóvel na mão e o pelotão não aparecia. Cinco, seis, sete minutos e nada. Como qualquer bom reporter o ciclista extraordinário começou a encher chouriços. Mas encheu chouriços como devem ser enchidos. Não se pôs a repetir lentamente, como se fosse disléxico, o que tinha dito anteriormente, ou a falar com tal veemência de uma banalidade qualquer como se estivesse a descrever um dos segredos do Universo e coisas afins, tal como fazem os senhores jornalistas. Não, o ciclista extraordinário aproveitou a oportunidade para mostrar duas aldeias serranas, apontando-as com o dedo à frente do telemóvel, mostrou o enquadramento do local onde se encontrava, os montes, as copas das árvores, a cor do céu e, sobretudo, assobiou. Não umas foleirices de músicas que a televisão mostra nos programs da Volta a Portugal. O ciclista extraordinário assobiou, entre outras e não necessariamente por esta ordem, Strangers in the night, oh rama oh que linda rama, Summer time (de Gershwin), o concerto para clarinete em A maior de Mozart, uma valsa de Strauss (devidamente acompanhada pelos balanços das imagens), What a wonderful day (Louis Armstrong), entre algumas improvisações. Como se vê um enchimento de chouriços como deve ser. Não as palermices que os reporters da TV fazem quando ficam pendurados à espera.
(ouvir com som muito alto)
okay, okay, João, já deu para perceber que foi uma experiência muito pouco extraordinária... mas aquilo era a Volta? Pensei que fosse um rally, intervalando com uns motards a caminho de... Viseu, talvez.
ResponderEliminarPode juntar esta à sua play list "Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu..."
E confesse lá, em quem estava a pensar quando assobiou a Garota de Ipanema? :)))
Agora a sério, João, espero que corra melhor se for hoje à Pampilhosa ;)
Boas voltas pela Volta.
Maria
Oops! Pampilhosa / Covilhã is tomorrow, not today.
EliminarSorry.
Maria
Olá Maria,
Eliminarquer dizer na meia hora houve pelo menos um minuto ou dois extraordinários.
Assobiei a Garota de Ipanema? Em todo o caso, como é bem sabido, a Garota de Ipanema é um mito.
João
Ora João, every man has his Girl from Ipanema and every woman has her Mr. Darcy :)
EliminarAcabei de inventar este provérbio, chamemos-lhe assim...
Maria
Confirmado!
EliminarAos 8 minutos e 20 segundos... logo interrompida com a passagem do primeiro carro com as biclas no tejadilho.
🚴♂️🚴♀️🚴♂️
Bom!!!! Temos artista. Uma reportagem à maneira com direito a música de fundo e tudo. Bem melhor que a minha que filmei a chegada à Torre mas aumentei a aproximação e ficou tudo desfocado :)
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