domingo, 20 de setembro de 2015

De S. Pedro do Açôr a Fajão and beyond

Serra do Açôr
(Agosto 2015)

Este é o princípio da segunda parte. Ia a tarde ainda quente. Another Perfect Day

De um lado, a Sul, afundado obliquamente na encosta até ao rio Ceira, o vale sobre a aldeia do Tojo era percorrido por um caminho que me levava ao Porto da Balça e à barragem do Alto Ceira. Não o vejo mas sei-o bem, tinha-o visto no Google Earth na véspera. E, se estava no écran do meu computador é porque era real.
Do outro lado, para Norte, uma passagem mais humana. Caminhos mais previsíveis. Vêem-se aldeias aninhadas nos vales e nas encostas. Hão-de até os os sinos das igrejas ecoar pelos vales. Os nomes lembram os das crateras na Lua: Piodão, Soito da Ruiva, Sobral Gordo, Mourisia, Moura da Serra, Casarias, Pardieiros, Benfeita, Sardal, Relva Velha, Parroselos, Sardal e mais uns quantos lugares mais pequenos.

Entre o Sul e o Norte, optei por nenhum deles e segui Oeste (em frente), pela cumeada que, muito provavelmente, me levaria para os lados de Fajão.

Para Sul


Para Norte. Sobral Gordo, Sobral Magro e Souto da Ruiva em primeiro plano e, adivinhando-se no horizonte, Viseu e a Serra do Caramulo.


En frente a olhar para trás (o planalto da Serra da Estrela a marcar a linha do horizonte ao centro e S. Pedro do Açôr, de onde venho, à esquerda)


Em frente a olhar para a frente


Apesar do estradão das eólicas, o isolamento aqui é intenso. É a solidão das serranias. Conheço-a bem.
O que está para lá da curva? O Reino da rainha de Sabá?
Estes horizontes sobrepostos são de uma desolação épica. Os tons azulados vão-se desfazendo na distância. 


É uma paisagem sem dimensões, sem coordenadas x, y z.


Olho para trás novamente e o alinhamento quase indistinto das eólicas na linha do horizonte traça o percurso que já fiz, desde S. Pedro do Açôr (pico mais alto à direita). Com se tivesse deixado uns pauzinhos a marcar o caminho.



Além, do outro lado do vale do rio Ceira que corre seguramente lá em baixo indiferente às minhas pedaladas, o Adamastor da serra do Açôr, o Picoto da Cebola, que subi há dias atrás com uma determinação à Bartolomeu Dias.


Uma e outra e mais outra pedalada e penso em não descer muito de modo a manter-me na cumeada.


Ao fundo, no horizonte, para Oeste começa a ser nítida a Serra da Lousã. Distingo bem o cume da Serra, o Trevim a 1200m, onde já estive umas 50 vezes (com Sol e outras tantas com chuva).




Mas não é esse o destino hoje. Hoje é pedalar por aqui. Por estradões


e por caminhos


Que belas pedras no caminho. São perfeitas para encostar a bike


e abandonar-me à fruição de um pão com marmelada como se fora o jantar naquele restaurante catalão em Barcelona cuja recordação vai ser difícil de remover da memória.


Enquanto os físicos não resolvem o problema da irreversibilidade do tempo é tempo de fazer umas contas ao tempo. Olhar à volta, ver a direcção do vento, pensar que se tem uma vida para além disto (o que implica voltar a casa) e, penosamente, decidir que é tempo de traçar um percurso de regresso.

Deixa cá ver. Além, ao centro, são os penedos de Fajão, as duas bossas são  inconfundíveis. Fajão fica logo ao lado.





Fajão na mira. Estou aos 1050 m de altitude, só tenho que descer até ao rio, a cerca de 500 m, subir a encosta do lado de lá até Fajão, continuar a subir até ao alto da barragem de sta. Luzia, novamente ao 1000 m, além junto à eólicas na linha do horizonte e ... 


e, umas horas, uma barra de cereais que anda meu bolso da jersey há meses, suor nos olhos que tornava indefinida a estrada, depois ... surge a barragem de Sta. Luzia. Estou a chegar (ou a terminar, na outra perspectiva).


A tarde ainda quente aconchega-me a descida rápida, evitando o arrefecimento provocado pela evaporação do suor que me ensopa o corpo.


4 comentários:

  1. Respostas
    1. Para a próxima tens que levar a bike. O Açôr é de cortar a respiração. Quer de Verão, quer de Inverno. Tenho vários percursos GPS caso te interesse.

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  2. Já valeu a pena publicar estas fotografias

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