A barragem de Sta Luzia foi construída na década de 30 do século XX (entre 1931 e 1942). Na altura, para os habitantes destas serranias foi um oportunidade para ganhar algum dinheiro; homens habituados à enxada que faziam o trabalho não especializado que fosse preciso, mulheres e crianças com produtos agrícola em cestos à cabeça que por lá iam vendendo aos trabalhadores (muitos de fora) ... Conheço muitas histórias contadas por quem as viveu.
Cheia a barragem, a cota da água ficaria acima do cimo da aldeia do Vidual de Baixo. No problem, estava-se numa ditadura, alguém haveria de dar a ordem e a contestação seria feita à boca fechada no murmúrio das noites nas casas de pedra alumiadas por candeeiros de petróleo e pela fogueira ou à boca mais aberta nas tabernas de volta de uns copos de tinto. Mas morria aí. Havia também os melhores campos de milho na margem do rio mas, paciência, o milho teria que ser semeado noutro sítio.
Por vezes, quando o nível da água desce na barragem, ficam expostos os muros de pedra e o que resta das casas e das ruas. É uma visão impressionante. Não porque revela destruição ou, à la Indiana Jones, porque revela o passado como se fossem páginas de um livro de história, mas porque parece irreal. Aparece e desaparece em função do nível da água.
Quem está do outro lado da espinha granítica que dá origem ao vale onde a barragem se aninha, do lado Este, não suspeita o contraste da paisagem com o lado Oeste. Este lado onde estou. Ali à esquerda a ponta cónica do penedo granítico que, embora daqui pareça apenas mais um na passagem, quando visto do outro lado com a água em primeiro plano é imponente.
Eu, que conheço estas serranias surpreendo-me sempre com a transição quando passo deste para o outro lado da espinha rochosa (eh pá, estou ali com um ar decidido !!!)
Mas vamos lá. Dar a volta pelos rochedos e começar a descer pelo outro lado em direcção à barragem. Lá está, ao fundo. Parece aqui tão perto. À direita o penedo cónico visto já deste lado. Do lado Este.
Já lá em baixo, no centro da barragem (quando vazia, uma península permite atingir a ilha que se forma quando está cheia) as pedras ainda organizadas permitem perceber as construções que por ali havia. Em primeiro plano algumas e muitas outras na margem em frente
E, provavelmente, por baixo do espelho da água há outras ...
Por ali às voltas fui dar ao centro da "ilha" onde no ponto mais alto a água nunca chega, permitindo o crescimento de pinheiros.
Cheguei aqui pelo lado de cima. Vinha dos penedos, como disse. Trazia a GoPro presa ao capacete e registei a descida: 4 minutos em andamento aparentemente rápido mas controlado. Logo no início, olhando para a esquerda, percebe-se o planalto da Estrela ao longe, no horizonte. Para o final, a visão vai abrindo, os penedos vão-se erguendo na paisagem e chega-se como se se tivesse aterrado de avião.
Não me surpreenderia se à chegada ali encontrasse uma orquestra sinfónica a tocar o adágio do concerto para clarinete de Mozart. O som de madeira do clarinete é um som belíssimo mas é preciso ouvi-lo com olhos de ouver.
Oh my God!
ResponderEliminarAinda bem que essa coisa (perdão, a bike) travou!
Como diria a Katie, this is the closest thing to crazy I've ever seen.
Caraças!!!
Maria
Come on Maria: esta coisa tem travões de disco com 4 pistões ! Dantes tinha umas bikes um bocado rascas e, por isso, cai, partir a clavícula, não travei em curvas e segui em frente para buracos, parti o nariz, hematomas na cara por todo o lado ... Então resolvi comprar uma bike boa e segura.
ResponderEliminarA lente da GoPro é uma grande angular, distorce as periferias da imagem e a velocidade parece maior do que de facto é. Aquela descida para a barragem é feita a voar baixinho; o piso é bom e não há curvas apertadas.
João