quinta-feira, 20 de abril de 2017

Vamos lá dar alguma elevação a isto: a bike no MoMA ou o gajo da serranias em NYC

April 2017 NYC


Ora vai um tipo distraído na esquina de um Kandinsky com um Monet e, por entre os vultos que por ali andam a cirandar, tem uma visão que o deixa perturbado: caraças, só me faltava ter visões de bikes aqui no MoMA. Mais uma volta sob o céu estrelado do Vicent e ... mas afinal ... mau, estou pior do que pensava. Mas está ali uma bike!  Isto deve ser da fome, vou mas é lá fora enfardar mais uma bela de uma salsicha com molho de tomate na barraca ali à porta. Resolvi sentar-me um bocado. É que um gajo também não é de ferro: vira-se as costas ao Pablo e às meninas de Avignon e dá-se de frente com o Pollock como é que isto se aguenta? Claro, vêm as visões de bikes no meio disto.


Imaginei uma roda de uma bike montada num selim em forma de banco ... Aqui? Ridículo. Fui ver de outro ângulo. As sombras no estrado quase faziam uma bike completa.


Daqui parecia-me a mesma coisa mas com um pequeno detalhe adicional; em fundo, como cenário para a roda da bike, estava um arqueiro do russo Vasily. Lá ao fundo, por cima das cabeças, junto ao tipo da barba mal aparada e de brincos nas orelhas.
Ali:


Sempre achei que pedalar em cima da bike é como que um bailado. Seriously. Um bailado que, dependendo do biker, pode ter uma forte componente sensual. Seriously outra vez. As formas, o arfar, os músculos que se movem, a pele suada, o ritmo, a luz reflectida, os movimentos harmoniosos ... bem vou mas é dar uma volta.

Depois da roda da bike, no mesmo espaço, mais esquina menos esquina, a pintura quântica do Vincent: está tudo em todo o lado ao mesmo tempo. Ele viu o que os modernos espetrómetros vêem e que é invisível para nós, ordinary people, a olho nu. Uma dinâmica extraordinária por detrás da aparente tranquilidade do céu estrelado.


E às tantas imaginava-me por ali de bike às voltas. E olha lá estão as meninas do Pablo em pose. Para mim?


Depois semicerrei os olhos e tentei ver os liláses em perspectiva. Com um dedo pressionei o canto do olho, desfocando o meu campo de visão. Pelos vistos, segundo li, a mulher do Claude andou a vender-lhe os liláses, tantos os que ele pintou.


Estava quase a pedir "não mais musas não mais" quando numa curva mais apertada passei pelo Jackson. Só me faltava este "despintor" maluco!


A olhar para trás, ainda na curva, quase que me espatifei contra a janela, ah não, sorry Mr. Rothko


Estava a precisar de apanhar ar. Urgentemente. Saí dali disparado rente ao Kline


e apanhei o lado Upper West do central park. Com alguma dificuldade, diga-se de passagem, tive mesmo que levar um mapa para me guiar.


Que sonho estúpido este ! O que faz um tipo das serranias da Beira no meio do trânsito na 7ª avenue a pedalar com um chapéu vermelho e barba desgrenhada?


Non sense. Mas ...? Hey that´s my bike !





4 comentários:

  1. Obrigada, João, por esta visita guiada ao MoMA :). Então já esteve a olhar para o original do meu quadro preferido do Vincent.
    Gosto de muitos e diferentes pintores mas, se tivesse de escolher apenas um, seria este.
    Tive oportunidade de ver o meu second best (Girassóis) e outros (poucos) na National Gallery, não me posso queixar muito...
    Do Picasso apenas vi o Guernica, há muitos anos, em Madrid. Ignorante, fiquei siderada com o TAMANHO do quadro: absolutamente inesquecível!
    Eu sei que é idiota deixar comentários tanto tempo depois, mas às vezes é impossível não dizer que adorei ler.
    By the way, aquele chapéuzinho vermelho fica-lhe a matar ;)
    Maria


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    1. Olá Maria,

      provavelmente já conhece mas, caso não tenha ainda podido ouvEr, suspeito que vai ser uma bela surpresa:

      https://www.youtube.com/watch?time_continue=50&v=dipFMJckZOM

      O chapéuzinho vermelho faz conjunto com a calça arregaçada ;)

      Aconteceu-me o mesmo com o Guernica de Picasso; fiquei pasmado com o tamanho. Se até o MoMA expões bikes, restam poucas dúvidas que a bike é um objecto multifacetado. É como os tubarões, não sofrem modificações há milhões de anos porque estão optimizados. Do mesmo modo, a bike desde que foi inventada não sofreu modificações profundas; nasceu quase perfeita. Está a ver onde já vai a minha dependência ?!
      João

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    2. Olá João,

      E foi! Ainda não conhecia esta versão que termina em beleza, precisamente com o Starry Night. Obrigada!
      A net está cheia de coisas fantásticas acerca do Van Gogh,Thank God.
      Fartei-me de cantar esta música (foi quando descobri o Vincent) e também o American Pie.
      O João conhece o "Dreams" do Kurosawa?
      Um dos 8 sonhos é com o Scorsese a fazer de Vincent: lindo! Um belíssimo filme, imperdível mesmo.
      E vou continuar a viajar pelo seu magnífico blog, if you don't mind...
      Abraço
      Maria.

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    3. Olá Maria,

      não conheço o Dreams mas na próxima oportunidade tentarei ver.
      O que eu gostava de ir ao cinema, às salas antigas, geralmente com balcões e cadeiras com antebraços de madeira. Depois era aquele ritual do gongo que anunciava o início do filme, as luzes que se apagavam em silêncio para logo de seguida o écran se iluminar e a música encher a sala ...
      Depois o tempo e as salas de cinema começaram a rarear e ... o que tenho visto é sobretudo em casa.
      Obrigado pelas palavras amáveis sobre o blog (fico contente por saber que agrada a alguém desse lado) e pelos comentários; gosto de os ler.
      Abraço,
      João

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