O caminho estava livre. Eles estavam nas bermas, como que a convidar a passar. Foi isto que achei estranho: porque raio deixam o caminho livre? Isto é um convite ou uma ameaça? De resto, nada de anormal, lobos brancos na serra é uma imagem que o meu cérebro facilmente constrói. Sobretudo em dias neblínicos. Penso nisso e vejo-os. Nada de anormal. A realidade à nossa volta é uma construção do cérebro. E o cérebro, como é bem sabido, muitas vezes, constrói as imagens preenchendo os espaços que faltam de modo a oginar uma iagem oerente (if you know waht I mean).
- Posso? Eu não perturbo, quero apenas pedalar pela floresta nelínica
- RRRRRrrrrrrrrrrrrrr (um)
- RRRRRRRRRRrrrrrrrrr (o outro)
Pus-me a assobiar a rama ó que linda rama como quem está descontraído e avancei na primeira pedalada. Deslizei um pouco. Travei e devido à humidade as pastilhas chiaram nos discos. Um deles mexeu uma orelha. O outro imóvel. Segunda pedalada. Imóveis. Devagar, o meu par é o mais lindo que anda aqui na roda inteira e outra pedalada. Levantaram-se ambos ao mesmo tempo. Um de um lado da bike e o outro do lado oposto. Enquanto olhava para um, virando a cabeça, perdia o ângulo de visão do outro. Estivemos ali algum tempo. Por vezes, quando olhava de novo, percebia que tinham mudado de lugar, e faziam-no rapidamente sem eu ter tempo de os seguir com o olhar. Ora logo ali junto à minha perna, sem desviar os olhos do meus, logo depois junto às árvores mais afastados. Ambos neste vai-vem furtivo. Eu imóvel, apenas rodando cabeça para, em vão, os acompanhar. Até que um deles roçou-se, encostou o focinho à minha perna. Contraí os músculos da perna sem saber se a devia desviar ou manter-me imóvel. De súbito senti um liquido quente na outra perna. Ao mesmo tempo no ar ficou um odor aromático com travos de vinagre e lima. Olhei, o outro tinha ainda a perna alçada sobre a minha e ejectava os últimos jactos de urina já esparsos. Depois abanou-se como quem sacode as última gotas. Tinha-me marcado. Afastaram-se. Como que um salvo-conduto, um passaporte para a floresta neblínica.
Desapareceram num ápice. Olhei à volta, de um lado para o outro, pareceu-me ver uma cauda branca por entre as árvores, diluindo-se na neblina também branca. Fiquei parado em silêncio. O aroma vinagrete continuava no ar.
Depois os pêlos da minha pele voltaram à posição normal, o coração o mesmo e segui, floresta adentro. A floresta estava belíssima. Apenas uma dúvida me assaltava a mente: será que o odor sai com o banho, é melhor usar sabão azul ou o gele de banho é suficiente?
Time to go home, se houvera quem ensinara quem aprendia era eu ...
Que coisas estranhas acontecem nessas mist covered mountains, João.
ResponderEliminarEsse aroma de vinagre e lima parece muito agradável 😄 e nem pense tirá-lo, caso contrário a próxima subida pode correr mal...
Mas como é que isso aconteceu?
Não me diga que, com este frio, ia de perna ao léu...
E esses chãos estão ma-ra-vi-lho-sos!!!
🍁🍁🍁
Maria
Adenda:
EliminarNão que aqui nas Lowlands não aconteçam coisas igualmente estranhas.
Imagine que hoje acordei a trautear esta:
She loves you, yeah, yeah, yeah,
She says she loves you
And you know that can't be bad
Yes, she loves you
And you know you should be glad...
E logo a seguir (vá-se lá saber porquê) lembrei-me desta:
This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end...
C'est la vie!
🦊
Mary Fox