domingo, 27 de dezembro de 2015

O Nokia num dia de nevoeiro - the last waltz

25 Dezembro 2015
(Serra do Açôr)

Dezembro de 2010. Há 5 anos que ando com o Nokia E5 no bolso da jersey. Chuva, litros de suor, Sol e carradas de pó passaram por ele sem provocar qualquer dano ou disfunção. Com ele registei a memória das pedaladas (algumas aqui vertidas, outras, porque o espaço aqui é limitado, guardadas em pastas noutro local). O Nokia regista na carcaça as marcas das quedas e do tempo.
Agora foi-me oferecido outro telemóvel, um iPhone 6s. Como é que eu vou enterrar uma máquina destas (que custa semanas de ordenado) na terra para tirar uma selfie como fazia com o Nokia? Como é que o vou entalar entre duas pedras, ou no galho de uma árvore (com uma probabilidade de cair acima dos 50%) para tirar uma fotografia na bike? Como é que vou levar a mão suada ou suja de terra ao bolso para o tirar e disparar uma fotografia em meia dúzia de segundos? Como é que o vou colocar  debaixo de uma pedra à chuva para captar aquele momento irrepetível? A seta do tempo é irreversível. Este é um dos pontos centrais da fotografia. Há aquele momento que se pressente, que nos impressiona, que nos entra pelos olhos dentro, inundando uma região algures no cérebro e que, ou se dispara, ou o momento (a impressão original e limpa) passa.

A memória das pedaladas vai ficar mais ténue sem o Nokia.

Hoje foi o último dia a pedalar com o Nokia. Num dia de nevoeiro na Serra do Açôr. Saí aos 700 m de altitude, passei a barragem de Sta. Luzia e subi até aos 1150 m, na expectativa (gorada !) de subir acima das nuvens. O dia prestava-se à despedida; melancólico, não fora a ventania, indistinto e sem horizontes.

Um dia assim:


com vultos indistintos e solitários




sempre na expectativa da próxima curva


A última fotografia, em pose, a sumir-me no nevoeiro. Foi the Last Waltz.


5 comentários:

  1. Hi!
    A manhã hoje também está assim.
    O youtube não abriu.
    Fiquei sem saber que Last Waltz era esta...
    Bom fds :)
    Maria

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  2. Olá Maria,
    tem que ver! Last Waltz, uma música dos "The band" e título do filme (que vi há mil anos) feito por ocasião do seu último concerto. Que filme e que música!
    Vou ver se arranjo outro endereço do youtube com a Last Waltz.
    João

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  3. Olá João,

    Só agora, por acaso, vi a sua resposta.
    A música é linda e eu tenho a sensação de já a ter ouvido, mas não recordo o filme.
    E eu que pensava ter visto todos os filmes do Scorsese...
    A propósito da memória, li há dois mil anos, num livro que Mestre Hitchcock adaptou para cinema (Rebecca), uma ideia para recordarmos os bons momentos da nossa vida. Teríamos de arranjar uns frasquinhos, onde colocaríamos etiquetas com nomes de pessoas, filmes, viagens, o que fosse.
    Para recordar esses momentos, bastava abrir o respectivo frasquinho e a memória saltava de lá.
    Achei uma ideia linda.
    Quando atravessei a serra do Muradal levei a minha mãe comigo e fomos até Álvaro, terra muito bonita que fica mesmo defronte de um belíssimo meandro do Zêzere.
    Contei-lhe esta história enquanto caminhávamos pela ponte a admirar o rio. Ela estava muito feliz e disse-me "então tens de arranjar um frasquinho para guardares lá este dia".
    Nunca arranjei, mas também nunca esqueci aquele momento.
    E agora vou ver o trailer do The Last Waltz :)
    Bom trabalho!
    Maria

    Meteo: pale blue sky, a bit cold, no wind.

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  4. Eric Clapton, Dylan, Van Morrison, Neil Young ... e sei lá mais quem, passaram pelo palco no concerto. Uma coisa interessante sobre a memória é que está armazenada sem disso estarmos conscientes. Depois, há um "trigger" e a memória é recuperada. E, o facto de a recuperarmos, permite um re-armazenamento de modo mais sólido. Pronto, a Maria a falar duma bela memória com a sua mãe junto ao rio Zêzere e eu para aqui com esta conversa chata. Obrigado pelo comentário.
    João

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    Respostas
    1. Conversa chata, João, mas qual conversa chata?
      Eu é que agradeço tudo o que tenho aprendido aqui :)
      Quanto ao filme, eu fui espreitar e fiquei perplexa ao ver aparecer aquela malta toda, a Joni Mitchell, o Dylan e os que já referiu.
      Eu lembro-me bem é dos Travelling Wilburys com o Dylan, o George Harrison, o Tom Petty e outros.
      E também me lembro (o João foi o trigger) que dei uma pipa de massa por uma "dupla cassete VHS" com o concerto dos 30 anos de carreira do Bob Dylan, que acabou por ir para o lixo.
      Era uma maravilha!
      Maria

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