sexta-feira, 17 de junho de 2016

e de como estas coisas às vezes são importantes

Serra da Lousã
(16 Junho 2016)

Pela manhã, estava o Sol ainda a tentar rasgar as primeiras nuvens sobre a serra, andava eu com um olho no céu (avaliando a altitude, velocidade e direcção das nuvens negras) e outro na cachorra (não fosse ela farejar alguma porcaria que lhe fizesse mal). Com os dois olhos postos nela, só dei conta da nuvem quando começaram a cair umas pingolas grossas. Senta aqui, disse-lhe. Quieta. Depois expliquei-lhe que ficaríamos ali debaixo da árvore frondosa a aguardar a passagem da carga de água que estava a cair. Ali estaríamos abrigados. Ela percebeu. Ficou ali ao meu lado, sentada, patas da frente esticadas, muito direita. De vez em quando levantava o focinho, num gesto que denotava prazer, a sentir o cheiro húmido e agreste. Olhava de vez em quando para mim com aquele ar de quem pergunta: então? não é melhor ir andando? Não! quieta! Isto passa. Não passou e quando da folhagem já caiam gotas mais grossas que as outras pusemos-nos ao caminho.
Tinha que estar no Porto pelo início da manhã e, ainda ali em casa, de secador em punho, tentando enxugá-la o melhor possível para que não ficasse em casa sozinha molhada, ia revendo umas notas para o que me esperava.
Depois foi uma viagem a abrir pela autoestrada sob cargas de água impressionantes. A certa altura entrámos (eu e outros carros) numa nuvem negra: a chuva tanta, a visibilidade quase nula e os relâmpagos por cima dos carros tornavam a situação um bocado irreal.
Lá cheguei, depois hi good to see you, thank you, we have to talk, sure, a manhã sentado, o almoço a cair-me mal (safou-se o tinto mais ou menos e as vistas sobre o rio) e lá voltei pela mesma autoestrada à tarde sob um sol já sem receio de espreitar por detrás das nuvens. Às 19:30h já em casa, feitas umas combinações familiares, equipo-me e saio disparado a pedalar serra acima.
O dia de Junho terminava como se fosse Setembro. Onze graus Celsius, vento moderado e umas nuvens, provavelmente o que sobrou da tempestade da manhã, por ali pousadas. E ali ia,  de nariz para cima num gesto semelhante ao que a minha cachorra fez pela manhã, a sentir os aromas húmidos e clorofílicos (boa!).

O souto brilhava voltado a poente, enquanto que pinhal voltado para nascente já adormecia.


Abrem, não abrem, talvez amanhã se vier Sol as pétalas saiam do aconchego e ecludam, como uma borboleta que sai do casulo.




Estes ciclos de chuva e Sol e temperaturas moderadas é um banho maria excelente para a vida; das plantas e nossa, porque indissociáveis.


Estava na dúvida se seria uma carga de água ou a noite que me traria de volta. Foram ambas.
Às vezes estas coisas são importantes. O dia tinha que terminar de alguma maneira.










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