domingo, 12 de junho de 2016

Veados na Serra da Lousã

Serra da Lousã

Os veados foram introduzidos na serra da Lousã na década de 90 do século passado. Inicialmente, estavam confinados a uma zona delimitada por vedações mas, entretanto, o êxito da reprodução foi tal que se espalharam por toda a serra da Lousã, chegando mesmo à do Açor. Tanto quanto sei, o processo tem sido acompanhado por Biólogos da Universidade de Aveiro.
Hoje, há várias centenas de veados desde os limites da Vila da Lousã até ao cimo da serra aos 1200 m de altitude.
Durante as pedaladas pela serra já me encontrei dezenas de vezes com eles (animais isolados, em manada, em dupla, jovens, machos adultos com armações impressionantes). Os encontros são sempre fugazes e inesperados; por vezes atravessam-se no caminho a uns poucos metros à frente, outras percebo-os fugidios por entre as árvores na floresta. Por regra surgem em sítios em que não vou a olhar para a frente mas para o chão, prestando atenção onde coloco a roda da frente da bike, subindo ou descendo com cuidado caminhos inclinados que separam zonas de floresta. Têm uma agilidade e uma elegância impressionantes, saltam os caminhos, correm e saltam por cima das urzes, em encostas muito inclinadas (em que nós teríamos dificuldade em caminhar). É extraordinário.
Claro que nunca tenho oportunidade de puxar pelo telemóvel e tirar umas fotografias. Não só porque tudo se passa rapidamente mas porque nem me lembro. Não tenho a pulsão de fotografar o que de interessante ou insólito passa pelos olhos. Fico ali a olhar para os veados e, às vezes, já quase tudo se passou lembro-me de puxar pelo telemóvel e disparar. As poucas fotografias que consegui, e que aqui mostro, foram tiradas em circunstâncias especiais. E nem são nada de especialmente interessante. As fotografias (e o vídeo) afastam-se um pouco da exuberância e espectacularidade dos documentários da National Geographic. Mas têm o valor de registar os encontros imediatos com estes animais belíssimos em estado selvagem, sem cenografias.

 (copiada da National Geographic)

 (copiada da National Geographic)


Fevereiro de 2014
Caminho na zona do Pessegueiro, sobre Vale Maceira. Percebi que um grupo atravessou o caminho, correndo pela encosta abaixo. Uns segundos depois, quando consegui tirar o telemóvel e disparar ao acaso, já iam lá em baixo, a mais de 100 m.


Lá estão eles



Dezembro 2015
Também na zona do Pessegueiro mas a maior altitude. Descia o caminho pedregoso com cuidado quando, já não sei porque razão, parei e puxei do telemóvel. Às tantas, olho para a frente e vejo dois corços a pastar, ali no meio da urze. Foi nesse instante também que eles deram por mim. Assustaram-se. Disparei a fotografia mas, como sempre, em 2 ou 3 segundos eles conseguem afastar-se dezenas de metros.
Estão ali, correndo pela encosta abaixo, do lado direito do caminho


Mais próximo


Novembro 2015
Esta foi uma situação especial. Quase no cimo da serra, já acima dos 1000m, a chegar ao Trevim há uns pequenos bosques de ambos os lados da estrada asfaltada. De súbito, percebi que uns 50 m à frente, um grupo atravessou a estrada, subindo a encosta, mas sem o espalhafato e rapidez habituais. Pelo contrário, num trote ligeiro meteram-se no bosque e, mais estranho ainda, percebi que tinham ficado por ali. Geralmente, fogem em corrida e desaparecem. Também percebi que não havia machos adultos com hastes. Provavelmente, tratavam-se de fêmeas e juvenis.
Parei, tirei o telemóvel e devagar fui disparando fotografias para as árvores, sem focar, sem regra, tentando a sorte de apanhar algum na fotografia. O resultado foi este.
Lá estão, entre as árvores, observando-me


ali


Andavam de um lado para o outro numa linha paralela à estrada onde eu estava mas mantendo sempre a distância que se percebe na fotografia. Como se estivessem à espera que me fosse embora. Provavelmente, o que se passou é que por minha causa o grupo dividiu-se. Quer dizer, quando surgi na curva, a parte da frente do grupo cruzava a estrada e correu para o bosque na parte de cima, enquanto que outros ainda no bosque na parte de baixo e que não tinham atingido a estrada, percebendo a minha presença, ficaram por lá. Os de cima esperavam pelos de baixo (provavelmente juvenis) e não arredaram pé.






E estes dois? Ali semi-escondidos pelas árvores. Teria passado sem os ver, vendo-me eles a mim, caso não me tivesse atravessado no seu caminho, como tantas vezes deve acontecer.


10 de Junho de 2016
Este encontro foi insólito porque se passou perto da aldeia do Candal, onde havia pessoas e algum ruído. Descia a serra pela EN236 e levava a câmara de vídeo no capacete ligada com o intuito de gravar a chegada ao Candal. Passei a placa do Candal e comecei a travar, queria focar as casas de pedra na encosta em frente. De súbito, ali uns 20 m à frente, do lado esquerdo da estrada vejo umas armações impressionantes. Um macho espectacular estava a subir a barreira, vindo de baixo, dos castanheiros e, quando em viu, virou-se e começou a correr pela encosta abaixo. tentei chegar rapidamente à beira da estrada, tentando vê-lo. Parei a bike e vi-o correndo por ali abaixo.
Tudo isto se passou rapidamente mas muito perto.
Pensei ter feito um belo registo do encontro mas, infelizmente, não foi o caso. A lente da máquina é uma grande angular e, por isso, afasta os objectos na zona central. O que está ali a 10 m parece estar pelo menos ao dobro da distância.
No vídeo, exactamente aos 13 segundos, surge o veado do lado esquerdo a tentar subir para a estrada. Imediatamente inverte o caminho. Depois, para o final do vídeo, consegue ver-se a correr lá em baixo por entre as árvores.


Às vezes não os vejo mas sei que andam por ali, ou que passaram por ali há pouco tempo.


Um avistamento que me ficou na memória foi há uns anos num final de tarde. O Sol punha-se mas eu andava ainda pelo cimo da serra. Pedalava por um caminho a meia encosta e a cumeada por cima do caminho estava a contra-luz; o Sol tinha-se já escondido do outro lado do monte. Parei para ver os perfis a contra-luz das eólicas, de uns cedros altos que por ali havia e o recorte da floresta. De súbito, na zona limpa entre as árvores, num local plano, começou a surgir em fila uma manada de veados. Foi extraordinário. Seguiam em fila na cumeada, recortados contra a luz do sol poente, na linha do horizonte que me permitia ver todo o perfil dos animais. E iam em fila. Talvez estivessem a percorrer um caminho entre a urze. Não sei durante quanto tempo se passou mas, como iam ao longe, sem me perceber, percorreram a cumeada tranquilamente a passo e por vezes num ligeiro trote. 

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