quarta-feira, 17 de agosto de 2016

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(Serra do Açôr)
Agosto 2016

Rituais à parte, que rituais são eventos (eventos?!) que me eriçam os pêlos (e se eles abundam na minha pele! A minha filha diz-me que quando me enrolo na brincadeira com a nossa Golden retriever o que nos distingue é a T-shirt), chegar em Agosto às cumeadas do Açôr é uma expectativa difícil de manter em banho-maria, lá num canto da memória que não queremos perturbar, que queremos manter sonolenta, à medida que se aproxima o mês.
Desta vez, o impacto foi ainda mais excessivo. Depois de 2 dias com a cabeça metida em nuvens de fumo e toalhas de luz baça, sob céus castanhos, a semicerrar os olhos, a respirar a medo, devagar (incêndios por todo o lado), pedalar nas terras altas do Açôr, no ar limpo acima dos mil metros, sob o céu azul (quero lá saber dos 30 e tal graus), encher os pulmões de ar, à vontade, com todo o ar que quisesse, soube bem, soube muito bem. Soube muito bem.

Sobre a aldeia de Fajão (ao centro) fiz uma fotografia panorâmica. Sob o céu azul no horizonte, para lá dos montes na linha do horizonte, vi claramente visto uma banda castanha espessa – o fumo que cobre parte das Beiras (Alta e Litoral). Um inferno. Um inferno estúpido e evitável. Um inferno construído e que alimenta muita gente, desde os “media” aos dementes incendiários. Foda-se!


 Uma onda gigante de fumo, de morte. Uma agonia.



Aqui, na cordilheira do Açôr, sob o mesmo céu,  o ar limpo, as cores e os contrastes, o prazer das pedaladas nas cumeadas.



Neste primeiro dia andei a rondar o Adamastor do Açôr. Não me atrevi a enfrentá-lo. É preciso estar preparado. Não se vai sem mais nem menos. É preciso perceber que chegou o momento para começar a pedalar por ali acima. Lá esta ele, o cone do Picoto da Cebola (1400 m de altitude e o mais alto do Açôr) ao centro da fotografia e, por detrás, o planalto da serra da Estrela aos 2000m.
Amanhã talvez.



Li não sei onde que dali se avista cerca de 1/3 do território de Portugal continental. Da minha experiência lá em cima não sei se é 1/3, mas é um horizonte imenso.



Tinha começado as pedaladas na vertente Norte, na barragem de Sta. Luzia, ali em baixo




Agora, daqui, mal vê a barragem lá ao longe, sob a luz intensa (à  esquerda na fotografia). A distância torna a percepção quase-virtual (para dizer uma parvoíce que me parece verdadeira). Aqui em cima, na rudeza do xisto e da urze que rasga a pele das pernas, as curvas doces da água que ondula ao vento e a harmonia das curvas da barragem existem na minha memória mas nãos as vejo ou sinto daqui. Daqui, a barragem é um plano azul, quase branco, ao longe.


Horas de abalar.  Umas pedaladas na direcção do Adamastor



mas, logo depois, desvio-me para Norte, por caminhos da palha seca até apanhar a estrada que me levará à barragem.



Ainda não é hoje. Talvez amanhã. Só saberei quando acordar. Pela manhã logo verei se me atrevo a subir o Adamastor.



2 comentários:

  1. Que horror, queimam-nos tudo......
    Mas a ti nem o calor te pára :)

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    Respostas
    1. Como é que se consegue parar num sítio destes?
      Mas tu não ficas atrás. Agora, além da BTT tens uma "alcatrónica". A Coluer é muito bonita e muito boa.

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