(Serra do Açôr)
Agosto 2016
Rituais à parte, que rituais são eventos
(eventos?!) que me eriçam os pêlos (e se eles abundam na minha pele! A minha
filha diz-me que quando me enrolo na brincadeira com a nossa Golden retriever o
que nos distingue é a T-shirt), chegar em Agosto às cumeadas do Açôr é uma
expectativa difícil de manter em banho-maria, lá num canto da memória que não
queremos perturbar, que queremos manter sonolenta, à medida que se aproxima o
mês.
Desta vez, o impacto foi ainda mais excessivo.
Depois de 2 dias com a cabeça metida em nuvens de fumo e toalhas de luz baça,
sob céus castanhos, a semicerrar os olhos, a respirar a medo, devagar
(incêndios por todo o lado), pedalar nas terras altas do Açôr, no ar limpo
acima dos mil metros, sob o céu azul (quero lá saber dos 30 e tal graus),
encher os pulmões de ar, à vontade, com todo o ar que quisesse, soube bem,
soube muito bem. Soube muito bem.
Sobre a aldeia de Fajão (ao centro) fiz
uma fotografia panorâmica. Sob o céu azul no horizonte, para lá dos montes na
linha do horizonte, vi claramente visto uma banda castanha espessa – o fumo que
cobre parte das Beiras (Alta e Litoral). Um inferno. Um inferno estúpido e
evitável. Um inferno construído e que alimenta muita gente, desde os “media” aos
dementes incendiários. Foda-se!
Aqui, na cordilheira do Açôr, sob o mesmo
céu, o ar limpo, as cores e os
contrastes, o prazer das pedaladas nas cumeadas.
Neste primeiro dia andei a rondar o
Adamastor do Açôr. Não me atrevi a enfrentá-lo. É preciso estar preparado. Não
se vai sem mais nem menos. É preciso perceber que chegou o momento para começar
a pedalar por ali acima. Lá esta ele, o cone do Picoto da Cebola (1400 m de altitude
e o mais alto do Açôr) ao centro da fotografia e, por detrás, o planalto da
serra da Estrela aos 2000m.
Amanhã talvez.
Li não sei onde que dali se avista cerca
de 1/3 do território de Portugal continental. Da minha experiência lá em cima
não sei se é 1/3, mas é um horizonte imenso.
Tinha começado as pedaladas na vertente
Norte, na barragem de Sta. Luzia, ali em baixo
Agora, daqui, mal vê a barragem lá ao
longe, sob a luz intensa (à esquerda na
fotografia). A distância torna a percepção quase-virtual (para dizer uma
parvoíce que me parece verdadeira). Aqui em cima, na rudeza do xisto e da urze
que rasga a pele das pernas, as curvas doces da água que ondula ao vento e a
harmonia das curvas da barragem existem na minha memória mas nãos as vejo ou
sinto daqui. Daqui, a barragem é um plano azul, quase branco, ao longe.
Horas de abalar. Umas pedaladas na direcção do Adamastor
mas, logo depois, desvio-me para Norte,
por caminhos da palha seca até apanhar a estrada que me levará à barragem.
Ainda não é hoje. Talvez amanhã. Só
saberei quando acordar. Pela manhã logo verei se me atrevo a subir o Adamastor.
Que horror, queimam-nos tudo......
ResponderEliminarMas a ti nem o calor te pára :)
Como é que se consegue parar num sítio destes?
EliminarMas tu não ficas atrás. Agora, além da BTT tens uma "alcatrónica". A Coluer é muito bonita e muito boa.