A la una de la tarde ...
Não pedalava há mais de uma semana. O dia estava muito
quente. Daqueles dias que só havia de vez em quando antes de se banalizarem. Resolvi subir ao Trevim,
dos 200 aos 1200 m em 20 km, pelos caminhos da serra. A direito, serra acima. Tudo seco. Algumas
bicas de água aqui e ali que bem conheço estavam mortas que nem um chamiço.
Umas zonas húmidas onde no Verão sujo a bike de lama, nada. Apenas terra dura. Aos
mil metros, a bica de água fria à beira do estradão das eólicas que já me
salvou tantas vezes, e que em pleno Verão jorra sempre em força, estava mortiça.
Irreconhecível. Ali sob os fetos.
A coisa estava difícil. Em andamento o termómetro na minha bike andava entre os 39 e os 40 C. Ali parado, na bica que fica no estradão das eólicas, sob as árvores estavam 33, uma frescura, tão bem que ali se estava. Ao fundo, o planalto da serra do Buçaco.
Mas não podia parar muito tempo. Estava já em cima da bike, tentando arrancar naquela inclinação (o que não é nada fácil), quando ouço um barulho ao meu lado, mesmo ali. Olho e, por entre os arbustos, sai um pequeno vulto. Uma galinha? Não. O estilo era o da galinha. Pé ante pé, olho em mim, de lado, desconfiado. Um javali muito jovem, muito bonito e pequenino, com listas coloridas no dorso. Ali, a dois metros. Eu estava em cima da bike mas com os pés no chão. Lentamente levei a mão ao bolso de trás para tirar o telemóvel mas, mal pressentiu o meu movimento, assustou-se e fugiu, metendo-se por entre os arbustos. Foi nesse momento que ouvi um urro. A mãe. Estava ali. E eu ao pé da cria. Deveriam vir também beber à bica onde eu estava. Foi o costume. Cabelos em pé, adrenalina por todos os poros, encaixei os pés nos pedais e pedalei o que pude, fugindo por ali acima.
Estava quase no Trevim. Difíceis, muito difíceis aqueles últimos 200 m em altitude.
Nestas circunstâncias não se percebe a paisagem em redor como se a víssemos num écran. Percebia que, de vez em quando, o Sol se escondia nas nuvens. Mas a sensação era a de um céu azul azul por cima. Lembro-me de ter olhado para o céu e pensar que havia umas nuvens estranhas. Mais manchas esfarrapadas que nuvens. Apareciam e desapareciam.
Cheguei ao Trevim, parei. Olhei para Este, para as serranias do Açôr até à Estrela, como já fiz um milhão de vezes. Às tantas olhei para o termómetro na bike: 42 graus C. Estava a 1200 m de altitude.
Só agora percebo, ao ver a fotografia, que para estes lados o céu não estava azul. Castanheira de Pêra e Pedrogão ficam para a direita, fora da fotografia. Comecei a descer por esse lado, dando, depois, a volta para a Lousã. Tive um pensamento estúpido: vai ser das últimas vezes que ando por aqui a pedalar sem fumo.
Ao cimo de Castanheira entrei numa parte da floresta onde há uma bela fonte. Cheguei lá por um caminho entre pinheiros sobre o Coentral. Aí tive um novo encontro imediato do terceiro grau. Desta vez um corço, também jovem, salta para o caminho uns 20 m à minha frente. Belo. Não me esperava porque eu ia silencioso. Correu um pouco, afastando-se e logo se meteu na mata.
Ao cimo de Castanheira entrei numa parte da floresta onde há uma bela fonte. Cheguei lá por um caminho entre pinheiros sobre o Coentral. Aí tive um novo encontro imediato do terceiro grau. Desta vez um corço, também jovem, salta para o caminho uns 20 m à minha frente. Belo. Não me esperava porque eu ia silencioso. Correu um pouco, afastando-se e logo se meteu na mata.
Já na fonte
Meu Deus!
ResponderEliminarQuando olhei para aquelas serranias e conhecendo bem a "matéria" (a vida nas aldeias, o fogo a rondar os montes, os interesses e a estupidez de alguns, o abandono e a balda, a falta de de planos e de elementar organização, as matas e a dificuldade de movimentos ...), naquelas condições (40 graus, humidade zero), pensei, qualquer pequeno incêndio se transformaria num monstro em 2 segundos. Como, aliás, tem acontecido regularmente ao longo dos últimos anos.
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