segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Depois da chuva o silêncio

Novembro 2017
(Serra da Lousã)


(Erik Satie - Gymnopédie Nº1)
ou o som das gotas de água que caem nas teclas do piano



Depois da chuva, apenas dois dias de chuva após tantos dias secos, a floresta aos mil metros de altitude cobriu-se de neblina e silêncio, como que num prolongado suspiro de alívio. Nem  uma gota de água se ouvia pingar, ou um piar longínquo, um murmurar das folhas das árvores, nada, o silêncio enchia a paisagem. Aqui, o som dos martelos nas cordas do piano de Satie seria ensurdecedor.






Um silêncio que não o das estrelas ou o do mar porque aqui, na floresta, há uma comunicação, uma expressão, qualquer coisa que flui por entre as árvores e que me atinge.
Em funções essenciais da célula, o meu genoma e o das árvores à minha volta é semelhante. Pelos vistos partilhamos até mecanismos de regulação do sistema imune inato contra diversos agentes patogénicos. Somos primos afastados. Ambos vivos, não fantasmas por entre a neblina.


Pedala-se no sentido na claridade, no caminho por entre as árvores, sem nunca a atingir. Porque nada há a atingir. Não há um centro e uma periferia. Um sentido, sequer.


No dia seguinte, a meia encosta: a brand new day !




4 comentários:

  1. Ouvir Satie e ver o sol nascer na serra comoveu-me, bolas!
    Muito obrigada por este momento perfeito.
    Maria

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    1. Maria, obrigado pelo comentário. A serra modifica-se a todo o momento mas é preciso estarmos atentos. E, às vezes, em certos momentos, há música que vem à memória.

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