segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

gone with the wind

Serra da Lousã
Dezembro 2017


Sexta-feira dia 1 de Dezembro. Dia de "assalto" ao Caramulo. Uma festa, tal como aqui e aqui relatei. Grupos de ciclistas, de modo espontâneo, partindo das povoações no perímetro da serra do Caramulo, pedalam pelas encostas acima até ao cume, até ao Caramulinho.
Cinco e meia da matina, pronto para sair de casa, a partida era no Luso ao nascer do dia, uma hora e tal de viagem pela frente, bike montada no carro, equipamento (esperam-se zero graus) organizado,  mantimentos seleccionados, água, tudo OK, não falta nada (já uma vez me esqueci de levar as meias), aberta a porta da garagem vem-me o friozinho cortante da noite, pronto para arrancar, tudo OK, tudo? não? O caraças do carro não pegou.

Não ia ficar para ali a carpir as mágoas. Desmontei a tralha e arranquei serra da Lousã acima. O ar era um fiozinho cortante. A berma dos caminhos branca da geada, num estilo Pollockiano abaixo de zero.





À medida que subia, a quietude da manhã fria foi-se transformando. Eu também;  a irritação do plano gorado foi passando. O primeiro sinal foi o agitar da copa das árvores que, à medida que ganhava altitude, se transformaram numa ventania desenfreada.

Fui para o lado Sul da serra. Para o Sol. Apetecia-me pedalar ao Sol com vistas para as serranias que se estendem para Sul. Castanheira de Pera e Pedrogão no horizonte. Pequenas colunas de fumo branco a subir no ar frio. Queimadas. Contei umas 40. Dão um ar bucólico à paisagem; alguém que podou as videiras e as oliveiras e é preciso andar com as coisas para a frente e queimar as vides e preparar o terreno para a próxima Primavera e ainda há poucos meses estes vales eram assolados por fogos incontroláveis. Não é irónico, é a vida.


A meia encosta, numa curva do caminho, enquanto parava para comer uma banana, joguei ao gato e ao rato com dois gamos. Percebi um deles por entre as árvores. Fiquei imóvel. Ele movia a cabeça tentando perceber quem (o quê) eu era. Inclinava a cabeça, olhava de frente e de perfil, inquieto. Será chuva, será gente, chuva não é certamente ... terá pensado. Ficámos assim algum tempo. Depois moveu-se, tranquilo, deu um passo em frente, a cena estava a resultar, e eis que, logo a seguir, veio outro, seguindo-o. Então, lentamente, muito lentamente baixei-me e levei a mão ao bolso para tirar o telemóvel. Zás, zarparam dali para fora num corrida. Perceberam finalmente que era gente. Imediatamente o cérebro deles identificou os meus movimentos com um padrão; gente, o melhor é fugir deles. Ou, então, os meus movimentos não correspondem a nenhum padrão conhecido. Por natureza, não arriscam.



No planalto, do lado Sul do Trevim, sobre o vale do Coentral, aos mil e tal metros de altitude, as nuvens varriam o céu, escondendo o Sol para logo o destaparem. Surgiam sob o cume empurradas por vento de Norte. Não fui ao Caramulo, fiquei a ver as nuvens.



2 comentários:

  1. Deixa lá, eu também não fui. Estive lá no GPS Epic. Talvez no ano que vem :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Levantas-te com as galinhas, tens o estaminé pronto de véspera, tudo combinado com amigos dias atrás e ... o carro não pega. Estás a ver o filme? Estive para ali uns dez minutos a proferir impropérios em linguagem tabernácula :) :)

      Eliminar