quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Gamos na floresta e como tudo é efémero

1 Novembro 2017
(Serra da Lousã)

Tinha parado. O caminho atravessa a floresta. Estava uma brisa fresca mas boa. Já levava mais de uma hora a pedalar serra acima. Cada vez mais me detenho pelas coisas mais insignificantes, para as ver com mais tempo; um pau, castanhas, musgo, um espelho de água, pedras, nuvens sobre os cumes,  insectos, a brisa, o horizonte ... Em fundo, ouvia-se o som dos milhões de folhas a oscilar na brisa (como num farol se ouve o mar à noite) e, de vez em quando, um ruído mais perto, mais intenso; ouriços com castanhas que caíam dos castanheiros.



Eu ali, encostado à bike, sem fazer nada, apenas ali a olhar à volta. Às tantas, na encosta em frente, a uns 50 m, logo ali, uma manada de veados, talvez uns 8 ou mais, jovens, correndo pela meia encosta mas mantendo a distância para o local onde eu estava. Acho que de início não devem ter dado por mim. Tirei o telemóvel, tentei ligá-lo mas não ligava, punha o dedo, tirava o dedo e nada. Eles ia correndo, afastando-se. Lá ligou, já eles iam longe. O movimento dos gamos e veados é de uma beleza e elegância extraordinárias. Fiquei ali especado. Ao tempo que os não via. Com o tempo seco que tem ido não têm aparecido. Devem, talvez, repousar mais, poupando energia. Não andam tanto por ali, graciosos, como é seu hábito.

(fizeram a meia encosta à frente e em cima num percurso de 180 graus. Apareceram pela esquerda e foram-se pela direita)


Que momento ! Eles a olharem-me de esgelha, a medir-me, tentando progredir pela meia encosta mas prestando atenção aos meus movimentos. Depois, de novo, apenas o som do vento nas árvores em fundo e ouriços com castanhas a cair. Mas ..., espera, um ruído que não é de ouriços, folhas a serem pisadas, ali do outro lado, ali do lado de baixo do caminho, dois gamos pequenos muito jovens. Não deram por mim. E nesta altura tinha ainda o telemóvel na mão. Clique.

(Ao centro em baixo. Ampliando vê-se claramente um deles, entre a árvore grande mais perto e uma pequena ao fundo, a caminhar para a esquerda)

Liguei o vídeo. São dois. Estão em baixo, ao centro. Ampliando vêm-se bem. Tranquilos. Não deram por mim. Às tantas, assobio e começam a correr.


Foram-se. A brisa intensificou-se, como se os levasse, os ajudasse a correr, os empurrasse para longe.


Também eu me fui dali. Passei ainda na Fonte Fria. A água, geralmente limpa, estava parada. Folhas a boiar, reflexos baços, a fonte não parecia fria mas mortiça e morna.


O duende da fonte, que por lá já antes o tinha visto, apareceu de novo



Depois, sentado nos degraus de pedra da fonte, comi uma banana e vim-me embora; tinha umas postas de salmão para grelhar para o almoço. Vim na brisa também, a navegar à bolina.




2 comentários:

  1. Este vídeo da brisa na floresta é das coisas mais belas que já vi/ouvi por aqui.
    É como se eu estivesse lá...
    Thank you Mr. JDLA
    Maria

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