segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Ao longe, o Açor

Janeiro 2019

Tal como a ave que lhe dá o nome, as cumeadas do Açor planam sobre o vale que o limita a Norte, o vale do rio Alva, o rio vindo de longe, da Estrela, das penhas cujo granito sob a luz do poente se tinge de dourado, as Penhas Douradas, em contraste com o verde escuro e rasteiro das zimbreiras para, logo depois, uns instantes depois, à medida que a luz do Sol se esvai, se abrir o céu, um céu inimaginável porque de tantas as estrelas a sensação é de vogar no espaço, de completa ausência de dimensões, de em cima e de em baixo, e fazer esta viagem é uma memória difícil porque múltipla, não é só imagem, é também o arrepio da pele, o espanto, a admiração sublime de pertencer a um universo vastíssimo, a emoção que explode na boca e no peito, que nos emprenha, intemporal, sem antes ou depois, que nos esvazia e que, como se vê, passadas tantas décadas vem devagar como um fiozinho de água para logo se transformar numa torrente: o céu à noite na Estrela.

A serra do Açor, o imenso Açor visto do lado Norte:


(monte Colcurinho)





8 comentários:

  1. Olá João,
    A beleza desta serra começa logo no nome, a lembrar a ave que nunca vi e, no meu caso, a evocar outras terras no meio do Atlântico, que conheci antes desta serra.
    Talvez a tivesse avistado da Estrela quando cá vinha em criança, mas como não sabia o nome, não conta.
    Andei por aí algumas vezes, mas sempre de dia e sempre de carro, com paragens para lavar a alma, obviously.
    E que deslumbramento foi!
    Não consigo nem sequer imaginar como será estar aí à noite, numa starry, starry night.
    E tenho pena, muita pena mesmo.
    Mas há coisas que não estão ao alcance de todos, and that is a fact!
    Enjoy João!
    Maria

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  2. O João conhece o livro "A Magia da Aldeias de Montanha" do Paulo Alexandre Loução?
    Tenho estado a vê-lo.
    Tem lá umas coisas muito interessantes sobre o monte colcurinho... e sobre todas as aldeias da montanha.
    Também lá está a sua cabeça da velha ;)
    Maria

    No comentário anterior esqueci-me de pôr aquele cliché "My God! It's full of stars!"

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    1. O nome "Açor" também me fascinou logo quando o ouvi como nome da serra. O açor, pelo que li, é uma rapina de dimensões modestas quando comparada com águias ou milhafres. Já vi muitas rapinas lá na serra do Açor mas não o sei identificar. Gosto de as ver quando pedalo pelas cumeadas acima dos mil metros e elas voam a menores altitudes. Vejo-as, portanto, por cima. É belíssimo.

      Vou ver se encontro o livro que referiu. No ano passado subi (de bike) ao Colcurinho uma semana antes do grande incêndio que varreu toda a região. É no lado Sul, o lado oposto ao que se vê na fotografia, que na descida em direcção ao Piodão se encontra a pedra com os verso do Torga.

      As starry nights aí na zona devem ser bonitas; a luz de iluminação publica não deve ser excessiva.

      João

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    2. Um homem da serra como o João tem mesmo que ter este livro, é lindo, lindo! Eu comprei o meu na Bertrand em Novembro/2013, mas deve ser fácil de encontrar por aí (tem o apoio da Câmara Minicipal de Seia).
      Na capa tem a cascata do Poço da Broca da Barriosa: um espectáculo!

      Quando vim para cá até da minha casa via as starry nights. Agora não, há um exagero de candeeiros - para vê-la seria necessário ia para o escuro, coisa que uma velhota trôpega como eu já não se atreve a fazer (LOL).
      Maria

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    3. ... para vê-las seria necessário ir para o escuro.

      Velhota trôpega e pitosgas - é só gatos.
      Sorry!

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  3. E por falar em starry nights, aposto que já esteve em Palomar.
    Am I right or wrong?
    Maria (cusca)

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    1. Há uns tempos, talvez três ou quatro anos, participei numa maratona com muitas centenas de BTTistas no Alentejo (Alvalade-Porto Covo-Alvalade). Era dia dos meus anos. Embora não o sentisse, percebi que tinha idade para ser pai da maioria dos participantes. Ia por ali fora a pedalar a caminho de Porto Covo e, às tantas, um tipo à minha frente meteu conversa. Pedalámos juntos durante um bocado, conversámos, disse-me que já tinha estado na Lousã, eu disse-lhe que fazia anos, quantos fazia ... a certa altura, despedi-me dele porque queria ir um pouco mais depressa. Vá, vá, disse-me, você é mais novo (ele tinha mais dez anos que eu). Fiquei a pensar que há sempre alguém mais velho que nós a fazer tanto ou melhor que nós. Portanto, Maria, muito provavelmente há, de facto, velhotes trôpegos (que não é seguramente o seu caso) que saem à noite no escuro em starry nights, if you know what I mean.

      João

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  4. Que bela maneira de comemorar "mais uma volta, mais uma viagem", João, aí no lugar de Porto Covo.
    (Música)
    Eu tinha uma maneira muito peculiar de comemorar (ou não) as minhas voltas.
    Talvez um dia conte aqui.
    Talvez um dia o João também conte aqui se o seu elemento é a terra ou o ar.

    E não sou assim tão trôpega, não, mas canso-me muito, às vezes já me levanto cansada. Ninguém me avisou que ia ser assim...
    Maria

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