quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Brama dos veados e outras buscas

Serra da Lousã
(Setembro 2019)

Bem tento fazer uma gravação em condições mas debalde. Isto é, com o telemóvel é difícil, a não ser que estivesse muito próximo. E, estando muito próximo, os animais dariam pela minha presença. Consequências? Assim a frio, ocorrem-me duas: ou ficariam inibidos, calando-se e evitando bramar ou me confundiriam com algum macho (o guiador da bicicleta com as pontas bifurcadas devido às manetes dos travões simula um belo par de cornos) e quereriam medir forças comigo. A segunda hipótese ainda me desagrada mais que a primeira.

Anualmente, a partir de meados de Setembro até ao início de Outubro, os machos bramam pelas fêmeas. Chegou a altura da procriação. O som grave ecoa pelos vales.

Os relógios biológicos são extraordinários. Quer anuais quer diários. Tal como os nossos ciclos circadianos. Aparentemente estes relógios biológicos são acertados com a natureza, regulados por estímulos externos; a luz e a temperatura, por exemplo. E passar desta ideia para uma outra, a de que a alteração do clima e do mundo natural pode interferir com os relógios biológicos, é um pulo de pardal (que aliás vejo cada vez menos saltitar de ramo e ramo).


(ouvir com o som no máximo)

Um pouco mais abaixo, umas horas antes, tinha procurado a ribeira. Em aos anteriores, por esta altura, ela mostrava-se vigorosa, a água correndo por entre os seixos do leito e os pedregulhos da margem. O leito estava exposto, plantas que nasciam entre os seixos e um silêncio (nem sequer um trinado, um bater de asas ...) inundava o ambiente. Apenas mais acima um pequeno lago, de onde corria um fiozinho de água, emprestava um ar da sua graça ao ambiente.








Até lá, até ao pequeno lago, o leito da ribeira não era o leito mas a margem de um fiozinho de água que corria tímido por entre os seixos.





Enquanto escrevia, tentando que a memória trouxesse o bramar dos veados, o som da água furiosa por entre os seixo ou o trinado de um pardal, fui ouvindo outros trinados:

YES (Awaken) ao vivo no festival de Montreux em 2003







4 comentários:

  1. Olá João,
    este videozinho está francamente melhor que o do ano passado (segui o link); para além do som estar muito melhor, também temos as belíssimas imagens das 'sensuais' castanhas quase a saírem dos ouriços:)
    E ao seguir o link reparei que foi nesse post que falei nos Bicycle Diaries do David Byrne.
    Curioso, não é?
    🦌🦌
    Maria

    É suposto aparecer um casal de veados... mas não posso garantir.

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    1. Olá Maria,
      curiosamente, a gravação é feita no mesmo local em que fiz a do ano passado. O vale em frente é um dos refúgios dos veados. Nas pedaladas por lá, às vezes, ouço-os muito próximos e o som da brama entra pelos ossos dentro. Ali, onde gravei, estou muito longe, o vale abre em anfiteatro e perde-se, em parte, o efeito de ressonância.
      João

      Apareceu um casal de veados mas, aparentemente, do mesmo género (ambos têm um belo par de armações)

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  2. Tem razão, João. E agora poderia fazer um trocadilho com a palavra veado... mas a minha esmerada educação (cof, cof) não mo permite; direi apenas que, lamentavelmente, dessa união não nascerá nenhum baby deer.
    E vou já perguntar à Samsung porque é que os bonequitos são todos 'machos' - até parece que vivemos num mundo dominado pelo sexo masculino...
    🍁
    Maria

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  3. Foi ouvindo outros trinados e recordando (penso eu) aquele célebre concerto no Coliseu do Porto :)
    (só agora pude ouvir este Awaken).
    Cela va san dire (mas eu digo) que mesmo quase sem água as fotografias estão belíssimas.
    Bom fds, João.
    🍃🍁🍃
    Maria

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