domingo, 20 de dezembro de 2015

Bate o vento e a memória

Dezembro 2015
(Serra da Lousã - Planalto do Espinheiro)

Muitas vezes, ao carregar as fotografias das pedaladas no computador, olho para elas e vejo o que não vi quando as tirei. Eu estive lá, peguei no telemóvel e disparei a fotografia mas quando as vejo em casa no computador é como se fosse a primeira vez.
Há fotografias que me refrescam a memória; a luz, as cores, as coisas, os aromas ... estão cá, lembro-me dos sítios. Sei que estive lá. Tenho a certeza.
Mas outras, como disse, é como se não estivesse estado no sítio onde as tirei, como se revelassem a essência das coisas, como se, quando tirei a fotografia, um filtro me impedisse de ver com nitidez. É o caso destas ali em baixo.

O contexto facilitava as coisas. Estava com os sentidos à flor da pele. Fazia uma ventania dos infernos. Era arriscado andar por ali. Havia ramos das árvores pelo chão, quebrados pelo vento. Ia atento para não levar com um ramo na cabeça. As árvores oscilavam e gemiam. O planalto do Espinheiro a cerca de 800m de altitude virado a NE presta-se a ser varrido pelo vento. Era uma ventania daquelas que tomba as árvores no caminho por onde pedalamos, nos tira da trajectória (nos casos mais suaves, nos outros atira-nos ao chão) quando nos apanha de lado e se transforma num muro quando pedalamos com ela pela frente. Como é costume, gosto destas coisas. Tal como canta a  Katie Melua (The closest thing to crazy): feeling twenty-two, acting (cycling !) seventeen.

A fotografia. Nada de especial. Apenas o céu, as nuvens e as ervas mas ... o céu tempestuoso de Este parece colidir com o céu pálido de Oeste e a textura das ervas, dobradas até ao chão pelo vento, contrasta tanto com as curvas suaves das nuvens e as eólicas ao fundo na cumeada ali, parecendo imóveis a esta distância, como se nada tivessem a ver com o assunto.


Bate o vento e o céu muda a cada 2 minutos. Tenho uma memória difusa de por ali ter passado. O vento soprava forte e mais cedo ou mais tarde a chuva iria bater forte também.


Mas tenho a prova. Estive lá.



9 comentários:

  1. Muito bonita a forma como descreve as coisas. E que fotos lindas, como sempre :)

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  2. :)
    É uma das vantagens de pedalar a solo pela serra; vamos ao sabor do que nos dá "na telha" e paramos quando nos apetece. Há tempo para olhar, para tirar fotografias, para voltar atrás (havia ali qualquer coisa que não vi bem, deixa-me cá voltar atrás, já continuo ...) e etc.

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  3. Olá João,

    E quase 3 anos depois, aqui estou eu a subscrever o comentário da GM.
    Acrescentaria apenas que adorei ouver a Katie Melua.
    Maria

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    1. 3 anos? Caraças, já passaram 3 anos?
      Gosto muito deste planalto. É um dos locais onde, segundo dizem os habitantes da aldeia próxima, á noite, se reunem os veados. Já por lá vi vários durante dia.
      João

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    2. A Katie Melua tem um jeitinho especial.

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  4. Ora cá está a Fonte Fria com a floresta reflectida na água azul.
    Eu sabia que já a tinha visto...
    Maria

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    1. Não aqui mas lembro-me do post onde mostrei fotografias da fonte fria.

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  5. Foi no post anterior a este, não percebo como veio aparecer aqui (nabice minha, of course!)
    Esta história de provar que não sou um robot is driving me crazy! Bastava 1 ou 2 quadros mas agora chego a ter que preencher 10 quadros ou mais. Às vezes desisto. Eu até pensava que este comentário não tinha sido publicado...

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    1. Não desista Maria.
      Com os progresso na área da inteligência artificial cada vez vais ser mais difícil provar que não somos robots ;)

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