terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A nutrição em BTT e a sua circunstância

Pois, isto que se diz por aí sobre a nutrição é de uma pobreza fransciscana. É em conversas de pedalada, em revistas da especialidade, sim, em revistas da especialidade (a especialidade nestas revistas de especialidade são os antioxidantes - teoria que, embora muito em voga nos anos 90 do séc. XX, atualmente deixou de ter suporte científico para a maioria dos compostos da dieta, sobretudo os polifenóis), em blogues e outras estações e apeadeiros.

Aqui vai uma receita cujos resultados estão experimental e significativamente testados com um n = 1.

Pedala-se pela serra acima, tendo o cuidado de, ao limpar os olhos do suor, não incorporar muito pó na córnea. Mistura-se bem com o Sol quente e umas lufadas de aromas citrinos que vêm dos cedros. Mantém-se a marinar até ao cimo da subida. Depois, levanta-se a tampa, quer dizer, abrandam-se as pedaladas, escolhe-se um local com belas vistas e deixa-se a bike de lado a repousar.
Com cuidado leva-se a mão ao bolso traseiro, desembrulha-se o pacote e, sem cerimónia, ataca-se o pão de leite com marmelada comprado no mercado da Lousã umas horas antes, sem grandes cerimónias, uma coisa assim ao estilo de uma matilha de lobos a atacar uma ovelha. Acompanha-se com água morna do bidão com sabor a plástico. Limpam-se os lábios com as costas da mão.

(agora é a parte tecnicó-científica)
Espera-se um pouco até a insulina começar a correr nas veias, deixa-se assentar, e segue-se caminho.
A glucose da marmelada pronta a ser absorvida vai fazer com que o pâncreas dê o coice de insulina e é ver a glucose a entrar nos músculos, a ser fosforilada, rodopiar no ciclo de Krebs até acabar tudo em nada, quer dizer em NADH, electrões a fluir na mitocôndria e ATP a ser produzido em força. Entretanto, o amido e as dextrinas no pão que necessitam de algum tempo de digestão, a par de um pouco de lípidos que atrasam a digestão, vão manter um fluxo de glucosezinha a chegar à corrente sanguínea. Portanto, ao contrário do consumo de geles (ou géis) a que  chamam de "açucares rápidos" temos um pico de insulina cuja cinética de decaimento é lenta. E isto é bom !


Para o Inverno sugiro um snack. Identificar um medronheiro com os medronhos já bem vermelhos mas ainda consistentes a uma apalpação delicada (de outro modo aquilo é uma papa enfarinhada sem jeito nenhum). Repousar a bike de lado durante algum tempo. Entretanto, apanhar os medronhos, segurando os ramos com a mão esquerda enquanto a direita vai levando os belos frutos à boca. Mexer, quer dizer, mexer-se, mudando de posição de vez em quando para evitar que na gula de chegar a um ramo mais alto haja uma rotura de ligamentos e termina-se quando se sente a barriga com um ligeiro peso. Limpam-se os dedos aos calções em locais pouco visíveis.

Questions?



2 comentários:

  1. eheheh. Aqui para estes lados encontra-se a fruta da época, agora são laranjas e tangerinas, pára-se, prova-se e segue-se caminho, no verão são figos, maçãs, peras, pêssegos, uvas.... Pára-se, asseguramo-nos que o dono não está por perto, prova-se e segue-se caminho :)))

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  2. Gosto muito dessas pedaladas temáticas: hoje vamos às uvas, depois passamos nos pêssegos e, na volta, se os donos tiverem ido à missa, acabamos numas pêras.
    Mas a surpresa foram os medronhos. Já conhecia o destilado, obviamente. Mas aquilo comido fresco dá uma pedalada dos infernos.

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