(9 de Janeiro de 2016)
Floresta aos 1000 m de altitude. E eu por ali acima, a pedalar como quem passeia à beira mar, como se sentisse a pele lambida pelos últimos raios de sol de um fim de dia ameno bla, bla, bla bla bla ... e afinal nada mais distante desse postal ilustrado: nevoeiro denso, chuva batida por uma ventania infernal, os caminhos liquefeitos tal a quantidade de água, as pedras escorregadias, os ramos arrancados das árvores molhados caídos no chão traiçoeiros (por uma ou duas vezes a roda da frente da bike resvalou num ramo, quase me fazendo perder o equilíbrio), a visão limitada pelas gotas da chuva nos olhos ... uma invernia como deve ser, portanto. Tudo belíssimo. Gosto de invernias. Sempre achei que é perigoso tornarmos a nossa vida demasiado confortável.
Isto tudo junto, a juntar ao esforço de pedalar, à sensação de isolamento, de andar por ali sózinho no cume da serra (e, portanto, com os sentidos - 5 ou 6, os que forem - todos em alerta) e à necessidade de responder em tempo real aos imprevistos (o que foi aquilo? vi uma sombra, foi um veado?), gera uma dinâmica que, to say the least, não se pode classificar de rotina. Deve ser como estar num barco à deriva no oceano no meio de uma tempestade. Vai-se por ali com tudo, absolutamente tudo, à flor da pele, a pedalar, a pedalar sem parar e, na maioria das vezes, só passado algum tempo, no aconchego de uma paragem a meia encosta em local abrigado para comer uma banana, se tem a vaga sensação do que se passou. Por vezes, com nesse caso, decido: pára aí pá, calma, olha à volta, lembra-te que há coisas irrepetíveis, respira fundo. Parei e olhei, devagar, muito devagar e era tudo muito belo. É como que se tivesse desligado um interruptor. Tivesse feito um on ou um off. As árvores pareciam reflectidas em espelhos sucessivos como naquelas imagens que se reflectem infinitamente até perder de vista. Tirei a florzinha de estufa (o iPhone) do estofo e do bolso e ... clique. E fiquei ali, tranquilo, não sei bem quanto tempo de modo que a memória ficasse bem impregnada daquele azul.
O azul é a cor mais quente.
Então confirma-se, o João gosta mesmo de uma boa molha (com ó aberto!), e se for em tons de azul, melhor ainda...
ResponderEliminar:)
Maria
É preciso aprender a pedalar sob chuva, Sol, neve, granizo. Na nossa vida diária aprendemos que nos devemos abrigar da chuva. Pedalar sob chuva com prazer é um belo de wild feeling.
ResponderEliminarJoão