(Vale da ribeora de S. João)
Foram sobretudo as águas de Março que fizeram rugir a ribeira. Passa lá ao fundo no vale. Não se vê, ouve-se. Nunca fui lá abaixo. É que os sapatos de encaixe com sola de poliamida e aplicações de metal para encaixar nos pedais da bike não são a primeira opção para uma caminhada encosta abaixo e acima.
Cá em cima, na estrada, ouve-se sempre um som de água a correr, mesmo no Verão, mas é quando vêm umas belas chuvadas que a ribeira parece acordar de uma espécie de hibernação. Furiosa (imagino eu cá em cima), a correr por entre pedras, abrindo caminhos novos e levando tudo à frente, paus e folhas e o que aparecer. É isto que o som me diz.
Páro ali com frequência sobre o vale e quase que sinto uma vertigem, um canto de sereia que me atrai até lá abaixo.
Ao cimo do vale, o Trevim (a 1200m) e, na encosta em frente, ao cimo do souto, a aldeia do Talasnal.
Som deslumbrante este, o da ribeira, acompanhado pelo pio de um pássaro ali perto.
Cá em cima, correm com pressa pequenos riachos que vão alimentar a ribeira,
fazendo pequenas cascatas.
É curioso pensar porque é que este som não soa como ruído (pelo menos para mim). Pode até fazer-se um exercício, imaginando um som (aparentemente) parecido com o da água que corre na ribeira. Por exemplo, o som de um rádio mal sintonizado é aparentemente semelhante a este mas, enquanto que o da água que corre é "natural", até tranquilizador, o do rádio é perturbador.
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