sexta-feira, 22 de abril de 2016

Apanhado pela noite

Serra da Lousã
(Abril 2016)

pela noite e pelo espanto.

Sete e meia da tarde. Hummmm, vai fazer-se de noite num instante. E ainda agora caiu uma carga de água tal que as gotas da chuva faziam ricochete no chão. Ir para a serra com este tempo é capaz de não ser boa ideia. Mas parece que está a abrir além para aqueles lados e deve estar um sossego lá para cima ... 

O percurso foi feito ao longo do vale da ribeira de S. João. É um vale fundo, a ribeira corre lá em baixo e nós vamos cá em cima na estrada. Por regra, a ribeira é "ouvível" mas não visível. Hoje, além do rugido que fazia, via-se. Raros devem ter sido os anos em que se agigantou desta maneira. Há água a correr por todo o lado no vale.

Nos vídeos ali em baixo ao som de fundo da ribeira soma-se, de vez em quando, o de cascatas extemporâneas que se formaram cá em cima na estrada.


(importei para aqui este vídeo do Paul McCartney e aqora que o queria apagar não consigo)


Olha, olha lá esta ela, a ribeira de S. João, e parece estar ali tão perto.
(Medi no Google Earth o desnível neste local e a diferença em altitude da ribeira para a estrada são cerca de 110 m !!!)


A caminho das oito da noite a visibilidade era boa, as condições atmosféricas excelentes (a humidade que se lixe, temperatura à volta dos 12 graus C), não se prevendo percalços de maior. Formavam-se pequenas nuvens da água que evaporava e que subiam pelo vale acima e, depois, pelas encostas mais altas até ficarem por ali em estado estacionário (nem subiam nem desciam, ficavam por ali). É curioso este fenómeno, as nuvens organizam-se em camadas e permanecem a altitudes fixas - isto vê-se bem dos aviões ou de locais na montanha altos.


Pedaladas mais acima e o Sol pôs-se. Encostei a bike. Estava na hora de voltar. O ambiente estava sereno, uns fiozinhos de luz, um chilrear intenso de pássaros, uns belíssimos aromas no ar e ... por aí fora ...


Às oito e tal o céu estava ainda claro - e eu sabia que estamos quase na lua cheia e que, portanto, nunca,  apesar das nuvens densas, escureceria completamente - mas as sombras tinham descido sobre os muros, as árvores e o chão. Com o telemóvel numa mão registei os 2 minutos anteriores à chegada à cascata da estrada. Os últimos raios de Sol espreitavam ao fundo por baixo do manto de nuvens. 


Conheço bem a estrada e a não ser que surgisse algum imprevisto (uma pedra, um ramo, um animal) na estrada a descida correria tranquilamente. Quer dizer, com os sentidos a 150% mas tranquilamente. 
Curiosamente, sentiam-se aromas cada vez mais intensos e doces (flores). Para cima tinha reparado que as giestas estavam a florir mas há também cerejeiras bravas em flor, além de outras árvores e arbustos. E, a esta hora da noite, uma noite húmida mas mais ou menos amena, o ar estava carregado de aromas.


À chegada leva-se com a vista da vila iluminada. Há um certo alívio quando se começam a ver as luzes mas há também uma certa pena de a descida às escuras (feita quase em transe) ter acabado.





Sem comentários:

Enviar um comentário