sexta-feira, 2 de junho de 2017

Another day at the office e a idade das árvores da floresta

Maio 2017

Quando eu nasci algumas destas árvores já aqui estavam, outra não. Outras terão nascido na mesma altura que eu. Tal como eu, as árvores envelhecem. Mas o envelhecimento não é a mera passagem do tempo. O meu fígado pode estar mais envelhecido que o meu cérebro e este mais que o meu coração. Há a ideia de que o perfil epigenómico pode indicar a taxa de envelhecimento. O envelhecimento? Pois, a degradação estrutural e funcional de orgãos e sistemas biológicos. E porque é que acontece? Ah pois. Só de há poucas décadas para cá é objecto de estudo pela Ciência. Há teorias; a dos radicais livres, a dos telómeros, há experiências de prolongamento do tempo de vida em moscas e em mamíferos mas, para me armar ao pingarelho, acho que nos está a escapar um conceito biológico qualquer, uma coisa fundamental. Não sei qual. A passagem do tempo é talvez e apenas um factor de risco. É isso mesmo: do ponto de vista biológico a mera passagem do tempo é um factor de risco para o envelhecimento. Mas "apenas" isso. Sou mais velho que uma destas árvores que nasceu no mesmo ano que eu? E a teoria da relatividade do tio Alberto que diz que o tempo passa mais lentamente quanto maior é a velocidade. E se eu sair daqui quase à velocidade da luz e for dar uma volta à galáxia chego com a mesma idade mas mais jovem? O epigenoma? Em essência, modificações químicas no DNA e nas proteínas em que o DNA se enrola (o DNA está aninhado e enrolado em proteínas) que modulam a expressão de genes ( e logo o que  nós ser vivos - incluindo as árvores - somos e como nos comportamos). Se o genoma fosse o tronco de uma árvore, o epigenoma seriam os ramos frágeis que se forma e partem e as folhas que caem, mantendo-se o tronco firme e intacto. A parte mais estranha é que o epigenoma está nas nossas mãos; o que comemos, o meio ambiente em que nos movemos, influencia a paisagem epigenómica. Como já alguém disse, o DNA dos nossos pais não é o nosso destino. E, no fundo, dos pais herdamos não só os genes mas também o ambiente em que viveram. E onde é que eu ia? Ah, as árvores e o envelhecimento. Apesar do envelhecimento do cérebro, parece-me que a disfunção não é global (não encontro palavra melhor) ou, pelo menos, não é à mesma velocidade em todas as funções. Por exemplo, a memória perde-se mas conceitos elaborados como a beleza e o amor nem por isso. Acho eu. A floresta é bela para mim hoje e, caso vivesse até aos 100, acho que também o seria nesse altura.

Há uns tempos que por aqui não pedalava. A última vez, há uns meses, foi debaixo de chuva. Fresquinha, como é a chuva aos 800 m de altitude
















O que se esconde por detrás da luz?



Este é o caminho que leva à Fonte Fria

Quase que foi uma surpresa dar com a fonte





Uma bela bike esta. Com ela vou seguir o caminho que se afasta da fonte.





4 comentários:

  1. Grande texto. Interessante, pedagógico, misterioso. Venham mais destes.

    E com a serra verde e fresquinha a rematar melhor ainda.

    Um bom fim de semana para si, João L.

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    1. Bom Domingo UJM. Obrigado. O tempo e a Biologia parecem ter uma relação de amor-ódio, não é?

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  2. Tema muito interessante, sem dúvida.
    E cá temos novamente a bela da Fonte Fria.
    Essa bike deve ser a mais fotografada de Portugal e arredores.
    Para terminar, um poeminha do Alberto Caeiro:
    "Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
    Ambos existem, cada um como é."
    E é isto!
    Maria

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  3. ... e a bike, perdão, a fonte fria é tão bela como a Vénus de Milo, há é pouca gente a dar por isso ...
    João

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