sábado, 20 de outubro de 2018

O musgo húmido e luminoso ou a fluorescência da clorofila

Outubro 2018
Serra da Lousã - vale da ribeira da Fórnea

Richard Feynman costumava contar que, um dia, alguém o provocou, dizendo que ao buscar explicações para os fenómenos naturais perdia a beleza e o encanto inerentes a esses fenómenos. Ao contrário, disse ele, há uma beleza e elegância na percepção e no conhecimento dos mecanismos que suportam fenómenos naturais. Também acho.

Após as primeiras chuvadas, na floresta para os lados da ribeira da Fórnea, havia inúmeras teias de aranha rentes ao chão sobre o musgo intensamente verde. O Sol andava escondido mas, de vez enquanto, projectava raios intensos por entre as grandes árvores, atingindo o chão e iluminando o musgo. Belíssimo.
A clorofila, nas folhas das árvores e no musgo, utiliza a energia da luz do sol para sintetizar moléculas que nos são muito úteis (por exemplo, oxigénio). Sob a luz do Sol, a clorofila excita-se momentaneamente e, ao regressar ao estado fundamental, além de passar a energia a outra molécula de clorofila, pode, quando a luz do Sol é muito intensa, também emitir fotões (luz). Isto é, a clorofila é fluorescente. As folhas verdes além de reflectirem a luz podem também iluminar-se! Belíssimo.







Um fiozinho de luz no musgo desenhava o contorno dos troncos das árvores.


As teias da aranha. Belíssimas. Mas como é que se formam as teias? Por exemplo, como é que se forma uma teia que atravessa um rio ou de um ramo para outro a vários metros de distância? Aprendi há pouco tempo qual é a estratégia usada pela aranha. A aranha tem que sintetizar uma proteína para fazer o fio (a seda) e, simultaneamente, lançá-lo à brisa, esperando que atinja um suporte. Feita a primeira ponte, pode então começar a tecer o que falta. A aranha precisa da brisa para lhe soprar a seda! Se a coisa corre mal a aranha, muitas vezes, recolhe o fio de seda e come-o - não pode desperdiçar a proteína. Belíssimo.



À saída, isto é, ao iniciar a subida, o céu estava enigmático. Prenúncio de chuva, de Sol ...?



Subi a serra pelos caminhos do vale da Fórnea. Esperava encontrar a ribeira e os riachos caudalosos  (as chuvas caíram nestes dias) mas apenas  um fiozinho de água, tímido e hesitante, dava uns ares de que alguma coisa por ali corria. Nas partes mais sombrias o chão molhado e pesado dificultava as pedaladas mas apenas isso. Hei-de vir ver os riachos furiosos, rasgando a floresta. Hei-de vir, um dia destes.



4 comentários:

  1. Olá João,
    Eu não queria estar sempre a elogiá-lo,juro que não, mas que mais posso eu fazer quando o João me apresenta aqui este espantoso céu e estas belíssimas imagens da clorofila fluorescente e da estratégia das aranhas?
    Nada, a não ser ficar encantada a olhar para estas maravilhas.
    Gostei que gostasse do Sting.
    E obrigada eu, por tudo o que aprendo aqui :)
    Maria

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  2. Maria, obrigado.
    A propósito das aranhas, veja este documentário do David Attenborough. São 3 minutos extraordinários.

    https://www.youtube.com/watch?v=gSwvH6YhqIM

    João

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  3. Engraçado. Também há uma Fórnea na Serra de Aire e Candeeiros. Ainda no sábado por lá andei :)

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  4. Aqui é um vale fundo e estreito por onde corre a ribeira da Fórnea. Então e não há fotografias do teu passeio pela Fórnea de outros "Aires"?
    João

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