domingo, 28 de outubro de 2018

"O baloiço" do cimo da serra

O Baloiço da Serra da Lousã
(Outubro 2018)


Dantes eram as aldeias de xisto. Antes destas os poços da neve. Agora, o baloiço. O baloiço está a tornar-se no ex-libris da serra da Lousã.




Olhe fáxavor, como é que se vai para o baloiço? Ouço isto com frequência quando pedalo na EN236 ou em estradões por onde alguns artistas se metem de carro. Não respondo a estas perguntas de modo directo; "Olhe segue por ali e, depois, na segunda à esquerda, ...". Não, primeiro tento dar uma ideia tridimensional/orográfica da serra;"Neste momento sobe o lado Sul da serra e o baloiço fica nesta direcção (aponto com o braço). Ora, o baloiço fica no planalto e, portanto, terá que continuar a subir. Uma vez no planalto, apanhando a EN236 - e olhe, é fácil perceber porque, se reparar bem, os soutos de castanheiros e carvalhos marcam o fim da subida e, aliás, nesta altura do ano estão belíssimos. Mas voltando ao caminho, uma vez lá em cima, porque a orientação da EN236 é Oeste-Este, terá que ir atento ao cruzamento para o Trevim, para Norte, num local em que a estrada é ladeada por pinheiros grandes e altos e donde se avista o vale da ribeira de Alge, Uma vez aqui, se tiver tempo, páre o carro e meta-se por uma caminho a Sul que encontrará paisagens muito bonitas e, com alguma sorte, se for em silêncio, pode encontrar veados ...

Quando noto os olhos dos meus interlocutores a piscar, a boca num esgar de sorriso forçado e a repetir "obrigado, obrigado, obrigado" percebo que já exagerei e que me estão despachar e a coisa fica por ali. Em situações raras, sobretudo com estrangeiros que andam por ali a passear, fico para ali meia hora a falar sobre a serra. Eles perguntam, ficam curiosos e eu vou por ali fora em roda livre, descrevendo paisagens, pintando cenários do que podem encontrar, incutindo curiosidade para explorar isto e aquilo ... em suma, uma conversa impressionista.

Portanto, aqui fica o percurso (comentado e ilustrado) para o baloiço a partir da Lousã. Quando me perguntarem, aos mais despachados, indico o endereço da net.
Vila da Lousã, à saída, junto parque: Km zero.  Apanhar a "estrada da serra", a EN236, em direcção a Castanheira de Pêra, a vila que fica do outro lado da serra. Após 18Km atinge-se o planalto aos 900 m. Uma curva à esquerda marca o fim da subida:



Um pouco antes, durante a subida, e olhando para trás, pode ver-se o sítio do baloiço. Mas há que dar uma grande volta até lá chegar: a mancha amarela na base do Trevim (o cume da serra aos 1200 m de altitude) que se encontra coberto por nuvens.

Aos 22 km, antes de começar a descer para Castanheira de Pêra, deixar a EN236 e cortar à esquerda para o Trevim. O local está assinalado com placas. Não há nada que enganar.
Como é costume nas serranias da beira, há histórias e lendas que se contam sobre a serra. Quem nunca ouviu falar de lobisomens e fadas da floresta. Ali, naquele sítio, dizem que, de vez em quando, em dias de céu baixo, aparecem por ali dragões de Komodo. Crendices!. Lendas sem qualquer fundamento. Já por lá passei mil vezes e nunca vi nenhum. Bom, mas, portanto, quando se avistarem as placas, e caso não esteja nenhum dragão de Komodo a interromper a estrada (!!!), é virar à esquerda para o Trevim.


Ali:




A estrada para o Trevim está em mau estado mas é bonita. Em parte é ladeada por grandes abetos que


à vezes ficam esparsos e deixam ver o cume, o Trevim (o cone no horizonte, lá atrás)


Nalguns sítios o piso está muito mau e o melhor é não tirar os olhos da estrada. Para quem circula de carro, obviamente. A pé ou de bike pode olhar-se a floresta que começa a abrir sobre o imenso vale e, às vezes, há surpresas; o contorno das árvores sobre a luz do horizonte, um vulto (pássaro, veado ?) que passa, a brisa que sopra do vale e, se a imaginação tiver asas, quem sabe, talvez até uma fada da floresta ...



Aos 24 km os horizontes abrem. Avista-se o Trevim em frente e, a Sul (à esquerda), o vale da Beira até à serra do Caramulo.



O baloiço é ali em baixo à esquerda, em frente à última eólica que se avista daqui. À esquerda antes de começar a subida final para o Trevim. Já agora, tendo aqui chegado, vale a pena subir mais uns 3 Km e visitar os Poços da Neve.



Um videozinho feito em dia de vento com o dedo no baloiço (o som é o da ventania)




O baloiço. No baloiço a sensação é a de baloiçar sobre o vale 800 m mais em baixo, sobre o abismo.











Estava na sessão fotográfica e, de súbito, nuvens vindas de Sul e puxadas a vento (já tinha dado por elas porque as de Sul, ao contrário das de Norte, são imprevisíveis mas fiz de conta que não iria acontecer o que aconteceu) apareceram sobre o Trevim,


trazendo uma chuva dura e fria que batia na face com a força de pedras de granizo. Arrefecera bastante. Lá fiz a ginástica acrobática do costume para tentar vestir o impermeável sob aquela ventania e chuva. É quase tão extraordinária a facilidade com que se veste um impermeável em casa como a dificuldade sob temporal. Enfia-se a primeira manga e, depois, por tentativa e erro, tenta acertar-se na segunda que, sob a ventania, parece uma vela rasgada que ora se enrola ao pescoço ora rodopia em todas as direcções. Entretanto, vai-se levando com a invernia em cima. Mas, quando, depois de muitas tentativas e erros, se corre o fecho do impermeável é como se encontrássemos um abrigo numa cabana com a lareira acesa. Ali estamos sob a chuva e a ventania mas a sensação é de conforto. Entretanto, o baloiço baloiçava empurrado pelo vento. Era hora de pedalar dali para fora.

Coordenadas do baloiço tiradas do Google Earth:

40° 04' 37.40'' N
8° 11' 29.71'' W
elevação 1001 m

3 comentários:

  1. Olá João,
    Esse baloiço é um espectáculo!
    É só "sentar" e sentir-se baloiçar empurrado pelo vento.
    Mas afinal quem teve essa fantástica ideia?
    Só que para lá chegar é necessário enfrentar dragões e não importunar as fadas da floresta.
    Não é fácil, acho que nunca vou conseguir chegar lá...
    Boa semana!
    :) Maria

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  2. Ora Maria, claro que vai conseguir chegar ao baloiço e ao planalto da serra varrido pelo vento; basta um sopro de imaginação para transformar os dragões em borboletas. Depois é so seguir em frente, as fadas são inofensivas (acho eu que de que).

    A ideia fantástica, contaram-me, foi de uns miúdos da escola secundária. Além do baloiço há bancos de madeira em sítios com vistas e molduras gigantes (2 por 2 m) para se tirarem fotografias "encaixilhadas" com a serra ou uma aldeia de xisto como fundo. Uma belíssima ideia. Tenho por aí algumas fotografias nas molduras e nos bancos.
    Boa semana também para si ;)
    João

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  3. Great kids!
    Já o Fernando António Nogueira dizia que o melhor do mundo são as crianças :)
    Vou ver se descubro as tais molduras...
    Maria

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