segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Isto é ...

Novembro 2018



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(estrada de Cacilhas para o Terreiro das Bruxas)

Por regra, não faço planos. Por regra, penso apenas: vou para aqueles lados. Depois, é para o lado que o vento me leva, ou de uma ideia que, subitamente, se atravessa na mente, de qualquer coisa que acontece como, por exemplo, umas nuvens que cobrem a serra de um lado, uns aromas que se atravessam no nariz e me fazem ir para os lados das encostas de carqueja, de um fome inesperada que me inspira a pedalar para os lados onde sei que encontrarei medronhos, do Sol que, espreitando entre as nuvens, me faz imaginar as copas dos castanheiros e me empurra, pedalada a pedalada, para os lados dos magníficos soutos a meia encosta, já imaginando-me a olhar a abóbada de folhas quase mortas de Outono reflectindo o Sol esquivo e.... por aí fora. As pedaladas são caóticas no sentido físico do termo em que o percurso é muito sensível a pequenos detalhes e às condições iniciais ... (pedalo sob o "efeito borboleta")

Desta vez sentia-me imbuído de uma missão. Tinha um plano inspirado por um comentário num post anterior (O baloiço). Iria fotografar "isto é Lousã". Pelo menos fotografar o número máximo de "instalações" numa única volta (e, ainda assim, obrigou-me a andar da frente para trás e de cima para baixo na serra).


(Talasnal)

Uma das aldeias do xisto, talvez a mais bem conhecida, devidamente encaixilhada.


Estava na meia encosta. Teria que subir novamente para os lados do Chiqueiro (outras das aldeias do xisto) e daí para os lados do Terreiro das Bruxas, atingindo o Miradouro do Chiqueiro.



Esta, além de servir de moldura, é uma instalação interactiva. Equanto estive por ali, apareceu um casal jovem com dois cães, um enorme e com ar feroz e outro do tamanho de um pardal, mal se lhe percebiam as patas, parecia uma centopeia a caminhar - ah, pois, esqueci-me de dizer que todas as instalações têm acesso por estrada asfaltada. Colocaram o grandalhão na perna horizontal do "L" e o pardalito em cima do "O". O gajo encostou-se ao braço vertical do "L" numa pose hollywoodesca e a menina disparou as fotografias (houve dois ou três ensaios porque os bichos não paravam quietos e saíam do sítio).



Ao sair dali já me ia a ver com o olhar na abóbada das copas dos castanheiros e dos carvalhos lá para os lados do Terreiro. Pedaladas em força rumo aos castanheiros e foi então que o acaso se atravessou no caminho. Parei à entrada do bosque, comi uma banana, fiz a ginástica do costume no friozinho do dia (puxar o blusão para cima, levar no mesmo movimento a baselayer e, com o polegar da outra mão, puxar a lycra dos calções na zona da barriga para baixo, tentando com os dedos restantes colocar os componentes anatómicos externos do sistema urinário numa posição minimamente confortável para a execução do processo de libertação do filtrado nos nefrónios do rim - tarefa que, abaixo dos 7 °C, é susceptível de contratempos, if you know what I mean). Bom, mas finalmente ali estava em pleno desempenho da função, vadiando o olhar por entre as árvores quando, mesmo à minha frente, reparo nisto



Ali. Não um belo par deles mas um single: um magnífico corno de veado. Fiquei surpreendido com as pontas tão afiadas. Deve ter pertencido a um animal jovem e caído durante o acasalamento (a brama terminou há poucas semanas).


Trouxe-o. Entalei a base no bolso traseiro do blusão com cuidado para não cair. Quase todo de fora do bolso, tombava para o lado direito, fazendo-me cócegas nas costas. Foi bom. Pelas cócegas e também porque enquanto roçava sabia que o trazia no bolso.

Já a caminho do Terreiro das Bruxas, a entrar no souto, fiz um videozinho. Como se pode ver, a estrada é boa e é muito fácil ir até lá de carro.
Às vezes, vou por ali fora a pedalar e atravessam-se-me músicas na memória; esta que serve de banda sonora (completamente desnecessária !) ao videozinho e que é, aliás, a banda sonora de um belo filme que vi há tempos (Intouchables).




Já na descida para a vila, está a "instalação" que mostrei na fotografia com que abri o post. À saída um banquinho "convida naturalmente".



Tinha pensado que poderia terminar o périplo "Isto é ..." na cadeira pendurada sobre a ribeira num tronco de árvore caído entre as margens. Esta sim, belíssima. Mas teria que subir de novo para de novo descer e já não tinha mais tempo. Até o ciclista extraordinário que passa horas a pedalar pelas serranias tem uma outra vida que implica horários e afazeres desinteressantes p´ra caraças, to say the least.



8 comentários:

  1. E que belas molduras, João!
    Obrigada pelo esforço do up and down the hills - mas valeu a pena, trouxe um troféu e tudo :).
    A aldeia do Talasnal é linda, com ou sem moldura.
    Tenho esse filme que refere cá em casa, mas já não me lembrava nada da música.
    Obrigada por mais este passeio.
    Maria

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  2. Hello again!
    Esqueci-me de lhe perguntar o nome das árvores da quinta fotografia do Post Aromático (16.Out.16).
    Tenho uns palpites, mas não certezas, e gostava de saber.
    É uma fotografia maravilhosa.
    Maria

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    1. Hello Maria,
      As árvores em primeiro plano, as das folhas outonais, são castanheiros e carvalhos, estes em menor número. Em segundo plano, com as ramagens verdes, são cedros.
      Falhei a cadeira pendurada na árvore sobre a ribeira. Fica junto ao castelo e é perto. Hei-de lá ir e postar aqui uma fotografia.
      João

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Estive a ouvir com atenção esta música do filme e é belíssima. Não conhecia este compositor: I owe you one!
    O João sabe que também há um Terreiro das Bruxas entre a Sortelha e o Sabugal? Engraçado como temos tantos nomes iguais em Portugal.
    Também descobri hoje que há uma sequóia gigante perto do Castelo do Sabugal. E eu fui lá várias vezes e nunca dei por ela.
    Parece que o S. Martinho este ano não vai cumprir a tradição... nada que impeça um certo biker de ir dar umas pedaladas pela serra; eu vou ficar aqui em casa a ver vídeos antigos.
    Maria

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  4. Olá Maria,
    não conhecia esse terreiro das bruxas para os lados de Sortelha. Fui lá há muitos anos. Ia para esses lados há mais anos ainda, quando era adolescente; Soito, Quadrazais, Alfaiates, Meimão (conheci lá o pároco que, diziam, fazia milagres), Sabugal ... a raia.
    Isso, às tantas, é uma espécie de transumância das Bruxas; no Inverno descida da serra e instalavam-se em territórios mais amenos.
    Há certos bikers que, por vezes, passam o São Martinho por terras da Beira Baixa a pedalar o acelerador, travão e embraiagem (family oblige).
    João

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    Respostas
    1. Olá João,
      Ontem estava a folhear um livro do Matsuo Bashô e "tropecei" em dois Haikus que me fizeram recordar alguém que gosta muito de veados...

      《No mesmo dia
      nascerem Buda
      e um pequeno veado》

      《O chifre do veado
      ramificou-se em dois -
      Tempo de dizer adeus》

      Este último foi feito quando se despedia de velhos amigos.
      :)
      Maria

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    2. As ramificações dão origem a novos caminhos. Se os pudermos escolher, e não ser empurrados, começa a ser um privilégio raro.
      João

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