quarta-feira, 20 de abril de 2016

Por água abaixo em slow motion

Serra da Lousã
(Abril 2016)

Assim de repente, lembrei-me do modo slow motion. Desmontei da bike mal vi a enxurrada pela parede abaixo e já levava a mão ao bolso de trás onde trago telemóvel quando me lembrei do slow motion. A dificuldade é ver os detalhes no écran do telemóvel. Apesar de levar lentes de contacto, estas só são úteis para ver para além da roda da frente da bike. Seis palmos à frente do nariz. Um metro bem medido. Para ver mais perto tenho uns óculos bifocais para desporto que mandei vir dos EUA e que têm incorporado uma lente de ampliação no lado inferior. É como andar com uns óculos para ler na ponta do nariz com outros de sol por cima. Apesar deste aparato tecnológico (por assim dizer) tenho que fazer uma ginástica de esgares e piscar de olhos para ler as letras pequenas e a colecção das imensas sinalefas que aparecem no écran. Mas, às tantas, lá consegui seleccionar o slow motion.

O slow motion é uma outra interpretação da realidade. Temos a mania que vemos tudo mas, de facto, vemos muito pouco do que nos rodeia. Da luz vemos apenas uma faixa estreitíssima do espectro eletromagnético que nos banha (entre os 400 e 700 nanómetros), aqui à superfície do planeta. Até os insectos vêem no ultravioleta. O número de imagens na unidade de tempo que conseguimos processar também é limitado, E isso é evidente quando vemos imagens em câmara lenta. Nestas ali em baixo, por exemplo, vemos "flocos" de água e espuma a saltar, violentas, a traçar piruetas e percursos estranhos que não apenas os de "por água abaixo" em torrente que se vêem à velocidade normal.

Mas, o mais interessante é que havia mil riachos a esgueirar-se pelos encostas dos vales, contornando as árvores e as pedras grandes que não podiam levar à frente, na enxurrada. Percebia-se o som da água a correr por todo o lado. Quedas de água inventadas (quer dizer, de existência fugaz após uma belas chuvadas porque durante o resto do ano nem uma pinga de água por ali corre), fiozinhos de água tímidos no Verão que se transformaram em valentonas correntes quando o céu desaba na serra.

Resolvi colocar umas músicas para colar às imagens mas, bem "ouvistas" as coisas, parece-me que as duas coisas (imagens e sons) se subtraem, não se adicionam. Em todo o caso pode desligar-se a música e ouvir apenas o rugido da água em slow motion.










4 comentários:

  1. O turbilhão é mais intenso. Parece que à velocidade normal vemos apenas uma "média" (da velocidade, dos movimentos individuais de partículas de água ...).

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  2. Que magnífica cascata, João.
    E tão bom ouvê-la em slow motion...
    E que surpresa foi enccontrar aqui o Us and Them e O Piano (um dos meus filmes de sempre).
    Maria

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  3. Esta cascata é um mistério. Só existe quando há grandes chuvas. Fica na EN e a água precipita-se de uma grande altura. Já várias vezes pensei em tentar subir a parede de pedra para ver de onde vem a água. Mas a parede é muito lisa e alta. E os sapatinhos de ciclismo não ajudam .
    João

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