segunda-feira, 11 de julho de 2016

O breve instante do assobio; às vezes um bocadinho menos breve

Corre na blogosfera a iniciativa "queremos ouvir as vozes dos bloggers a declamar poesia".

Já ouvi alguns e gostei muito - a Um Jeito Manso (e família), o Xilre, a Loira do Também quero Um Blog ...

Se o meu sotaque de Beirão, enraizado na Beira-Baixa (onde sedimentei as vogais nasaladas), apurado na Beira-Alta (onde treinei os RRRRss carregados e uns finais de palavras prolongados) e amaciado na Beira-Litoral (com aromas florais e frescos) ficava aqui bem, dizendo um poema?  Não sei. A poesia é uma outra forma de entendimento, de conhecimento. Ou, por vezes, pode ser.
Já uma vez postei um poema de Jacques Prévert num contexto ciclisticó-photoshópico.

Mas não, não vou por aí. Não vou pela voz nem pelas palavras. Vou antes pelo assobio.

Aliás, sou um reincidente. Iniciei-me com ó rama ó que linda rama ao por-do-Sol há alguns posts atrás:



Desta vez, abraço um projecto mais ambicioso (quer dizer dois projectos num só), até erudito, num patamar mais facilmente acessível a musicólogos especialistas no séc XVIII que, estou convencido, constituem a larga maioria dos frequentadores deste blog:

Assobiar o adagio do concerto para clarinete em A maior, K622 de Wolfgang Amadeus Mozart.


No fundo, um projecto não muito distante destoutro, diferindo talvez apenas pela ausência de uma luz de Sol nascente, uns elefantes e ... pouco mais.


A segunda parte do projecto que, no fundo, se divide em dois mas cujas duas partes se completam harmoniosamente, tem uma dificuldade adicional; é que tenho que assobiar enquanto pedalo em subida íngreme e difícil, com pedras soltas em que, a todo o momento, a roda da frente pode resvalar, calando-me o pio (e, provavelmente, estimulando uma linguagem mais tabernácula), enquanto sou atraído para o centro da Terra. Em cima disto, a música requer que mantenha o necessário swing. E manter o swing entre a inspiração ofegante e a expiração assobilística (com umas linhas de improvisação pelo meio) requer um treino de coordenação mental e motora que não se adquire em dois dias. São muitos anos a pedalar e a assobiar, é o que é.

Cá vai: Summertime de George Gershwin assobiado na floresta da serra da Lousã aos 700 m de altitude e com 35 graus Celsius (o que de certa maneira simula o ambiente quente de um club de Jazz de Nova York).



Para os mais desatentos que não conseguiram distinguir o que é que eu estou a assobiar (francamente !) ou se distraiam com a rudeza do caminho é mais ou menos isto:






5 comentários:

  1. E eu ainda não tinha passado por aqui... e estive a ver o vídeo do Out of Africa, apesar de ter o livro, o filme e a ost.
    Maravilha! Só falta aquela cena dele a lavar-lhe a cabecinha ;)
    Mas, João, eu já ouvi a sua voz (por sugestão sua, aliás!).
    Bolacha, queijo, flor do cardo, remember?
    E acho que este post foi uma bela de uma prenda para uma certa pessoa... e mais não digo :)
    Maria

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Fiz este post como faço muitos, em roda livre, dizendo as parvoíces que me ocorrem (e às vezes com intuito de provocação "positiva" se assim se pode chamar). Não pensei em ninguém. Foi apenas mais um sem qualquer mensagem sub-reptícia. Foi mesmo apenas isto Maria.

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    3. O.K. João, então foi mais uma daquelas coincidências do caraças.
      Digamos então que teria sido, em vez de foi...
      Maria

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  2. E por falar em assobio, hoje no Delito a canção é Working on a Dream do Bruce Springsteen.
    Belíssima canção!
    E tem um belo assobio lá pelo meio, muito bom para o João treinar ;)
    [Flor]
    Maria

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