Pelas horas húmidas da manhã, as primeiras pedaladas cortam o friozinho que se mistura com a luz baça. É uma receita gourmet, agridoce: o calor no peito contrasta com o frio nas extremidades (orelhas, face...). É uma receita quase infalível (tenho que colocar aqui o "quase" por razões epistemológicas; afirmações infalíveis não é comigo) para levar o dia por diante.
O nevoeiro denso, condensando, formava gotas de água nas pálpebras que, com a dinâmica das pedaladas, pingavam sobre a face. Outras escorriam pelo nariz. Pouco a pouco, serra acima, o ar ia ficando mais ameno, o nevoeiro ia rareando. Meteu-se pelo vale da ribeira de S. João. Era nisto que ia pensando, pedalada a pedalada. Mais um pouco, talvez na curva da Cerdeira, vai aparecer o azul. Parei na curva da Cerdeira. As cores pálidas à volta, o branco ao fundo, serviam de cenário para o contorno dos castanheiros nus.
Finalmente o azul ... the warmest color.
et le soleil.
YES, nous sommes du soleil
O Castelo da princesa Peralta, sobranceiro ao vale da Ribeira de S. João, fazia de farol junto às margens do mar de nevoeiro que se estendia a perder de vista até ... ao mar líquido e salgado.
Subi, sabia que quanto mais subisse maior a distância e o azul.
Para onde nos atrai o azul?
(Guimarães Rosa)
Cheguei ao cimo da serra e espreitei o outro lado. O lado Sul da serra estava mais enigmático. Um filtro ténue branco cobria o horizonte, o azul era mais neblínico.
Boa noite João,
ResponderEliminarEsta cor azul veio mesmo a calhar, pois hoje o tempo aqui esteve tão cinzentão que nem tive direito a ver o maior espectáculo (grátis) do mundo:
The sunset!
E até sei de algumas pessoas que, apesar de adorarem uma boa neblina, continuam a subir, a subir, na expectativa de encontrar o glorioso azul :)
Nunca li esse livro do Guimarães Rosa.
Eu já passei numa estrada em que vi esse castelo, mas nunca fui à Lousã.
Não consigo lembrar-me quando foi (ai os palitos), talvez não fosse eu a conduzir, não sei.
Fotos magníficas comme d'habitude e a música também.
Muitos tanques;)
Maria
Pegada on The river.
Olá Maria, boa noite,
EliminarO Castelo é o da princesa Peralta, filha do rei Arunce e onde este a escondeu quando um exército inimigo se aproximava do seu reino. Fica à saída da Lousã,no vale da ribeira de S. João (perto do baloiço sobre a ribeira).
Comme d'habitude trouxe-me à memória uma bela canção francesa que é a versão original do "my way".
João
Olá João,
EliminarEu sei, e passei a vida a dizer às pessoas que essa canção era do Claude François, mas debalde.
Idem para o "She" do Charles Aznavour, e não do Elvis Costello.
Maria
Pelos vistos o Elvis Costello tinha uma boa desculpa: She (Diana Krall) was the mirror of his dream ;)
ResponderEliminarJoão
E ela é tão bonita, e canta tão bem.
ResponderEliminarNa próxima reencarnação quero ser como ela, com o mesmo nome e tudo :)
E só não digo "quando crescer" porque já dei muitas voltas ao sol, if you know what I mean...
Boas pedaladas, João.
Maria
Já vi que o João gosta do My Way, li algures por aí:
ResponderEliminar"Regrets, I had a few...".
O Paul Anka (que também escreveu para uma Diana) did a good job quando escreveu as lyrics do my way.
E o Frankie Blue Eyes canta esta canção como mais ninguém.
E aproveito para o juntar ao Bono numa outra belíssima canção: I've got you under my skin.
Acabei agora de ouvir. Lindo!
Maria
Maria,
EliminarSo, so!
Gosto da música e o Blue Eyes canta-a como a Maria o diz. Mas não alinho nessas coisas do "my way" porque há sempre 10 000 pessoas a fazer o que fazemos e muitas delas fazendo-o de maneira mais bem feita. Pode ser um defeito profissional. Quando pensamos que temos uma ideia original já outros 10 000 a tiveram.
E por falar em Frankie lembrei-me de uma música de que tanto gostei: The power of love (Frankie Goes to Hollywood).
João
FGTH: So did I, so did I :)
ResponderEliminarE eu a pensar que a profissão do João era o perigo (andar no meio das florestas e no cimo das montanhas, enfrentanto tempestades e tal), e afinal é duvidar, investigar, comprovar e duvidar outra vez, numa busca contínua...
Maria