sábado, 22 de dezembro de 2018

O veado pôs-me os olhos em cima

Dezembro 2018

Serra acima, olhando à volta sem grandes planos, comme d'habitude. Uma ventania infernal. Nem é tarde nem é cedo, meto-me pelo caminho antigo do Candal.





Caminho com lajes no chão, muros antigos cobertos de musgo e plantas, ruínas de casas ...





Por entre as pedras do muro, a visão da ribeira lá em baixo trouxe-me à memória o som grave da guitarra tocada por Mr. L. Cohen, dooommm, doommm, dooommmm, dommm, dooooommm, Suzanne takes you down to her place near the river ...


Desci até à ribeira. A pé, a bike ficou cá em cima no caminho.






Às tantas olhei para trás e, no pequeno prado que tinha atravessado com a bike, vejo um veado imponente, imóvel, a olhar na minha direcção. Fitava-me. Quase que percebia o seu ar surpreendido: o que é que aquele gajo anda ali a fazer? Não é graçola. O cérebro do veado (tal como de outras espécies que não o Homo sapiens) fazem necessariamente estas perguntas, embora não o expressando através de um código constituído por letras e palavras (quem nunca viu um cão arrebitar as orelhas e inclinar ligeiramente a cabeça, olhar interrogativo, perante uma situação anómala?). De telemóvel na mão, apontei-o na sua direcção. Nesse instante, percebendo que também o fitava, correu encosta acima como eles correm encostas acima: rápidos e elegantes. Disparei.



Ali, no centro da fotografia, cabeça e armação tapadas pelo eucalipto do meio.



Num ápice atingiu a estrada e começou a correr mas sempre à vista, como que a exibir-se lá de cima. Olhei rapidamente o tlm, seleccionei vídeo e apontei para lá. Saiu isto (lá em cima, na estrada):


Depois, quase tudo como dantes. A ribeira corria e o vento soprava forte.




5 comentários:

  1. Olá João,

    E comme d'habitude as fotografias ficaram belíssimas (ai aquelas cores), e as palavras passaram a mensagem certa.
    E até o dear deer, embora fugidio, deu um ar elegante aqui ao post... and "made your day", I'm sure :)
    E que dizer do Leonard & Suzanne?
    Ouro sobre azul, talvez.
    Sabe que há gatos que quando sentem que a dona está preocupada ou triste, saltam para o colo dela a dar turrinhas no pescoço e a fazer festas com a patinha, e ficam ali a olhar para ela com um olhar quase humano?
    Há de tudo aqui no pale blue dot, os Sapiens é que nem reparam.
    Vi há pouco no youtube uma entrevista muito interessante com o Carl Sagan.
    Bom fds, João.
    Maria

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    1. Tenho encontros imediatos do terceiro grau com estes seres magníficos com alguma frequência. Por regra, inesperados; uma curva de um caminho, ao contornar um bosque, uma clareira ...eles, logo ali, sinto o cheiro ... tudo num segundo. Mas só consigo fotografá-los em situações raras e, por regra, ao longe, quando já estou com o telemóvel na mão.
      Essa história dos gatos é muito interessante. E interessa-me muito. A nossa história evolutiva com gatos mas sobretudo com cães tem dezenas de milhares de anos. Isto permitiu "acelerar" o desenvolvimento do cérebro destes animais. Provavelmente, desenvolveram cérebro que lhes permite entender propriedades complexas (tristeza, alegria, preocupação ...). Tenho uma cachorra que o faz. Pensa-se hoje que os cães t~em a noção do "self", tendo consciência de si. Nos chimpanzés isto ´óbvio porque quando um do grupo morre os outros fazem o luto. Quando se discute a questão dos "animais" estas questões têm que ser colocadas. A Ciência tem que entrar na discussão.
      Bom fds
      João

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    2. E a ciência está de parabéns: o Prémio Pessoa 2018 foi para um biogeógrafo.
      Vem na capa da revista do Expresso.
      Eu quase já não compro jornais, mas nesta altura gosto de ver os melhores do ano, livros, filmes, música, etc., nem que seja para constatar que não li/vi/ouvi quase nada do que eles consideram the best :-)
      Mas vou ler atentamente a entrevista ao Miguel Bastos Araújo.
      Maria

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  2. João, tem que ir ouver a Cavatina no blog de uma certa heavenly lady - tem lá pelo meio umas imagens que poderiam ser da sua neblínico-outonal Lousã.
    O tema é belíssimo, e eu já ficava toda arrepiada quando andava no Liceu e o ouvia tocado pelo Hank B. Marvin.
    :) Maria

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    1. Já fui, obrigado. Mas vejo sempre o blog da heavenly lady.
      Essa música ... oh my gosh ... já estive várias vezes para a pôr aqui mas concluí sempre que não tinha nada apropriado para emparceirar. Uma dia destes atrevo-me.
      João

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