domingo, 27 de março de 2016

De bike na ponte Eiffel sobre o rio Ceira

Março 2016
(Vale do rio Ceira, entre Serpins e Vila Nova do Ceira)

Rio Ceira em Serpins. Ponte feita exclusivamente de ferro.


Com um aparafusamento muito semelhante ao desta torre, mais coisa menos coisa.


Mas não é esta a ponte construída por Gustave Eiffel em Serpins, sobre o Ceira, no final do século XIX.


É a outra, a do comboio lá atrás, mais acima.


Daqui, mais acima, vê-se bem. Imponente e formosa mas falta-lhe a graça e a imperfeição da mais pequena ali em baixo, onde tirei a fotografia com a bike.


Do outro lado de Serpins, no sentido montante do rio, outra ponte. Esta com mais séculos de água a correr-lhe por baixo. E, em anos de cheias, a correr-lhe por cima.


Segui o Ceira. Gosto de seguir rios porque, nestas ocasiões, há um objectivo que se impõe com naturalidade: seguir o rio.  E, nas pedaladas, por vezes convém ter objectivos, de outro modo posso passar muito tempo no mesmo sítio ou páro com muita frequência. Olha ali um sítio tão bonito ... ah mas não posso parar, estou a seguir o rio.

O rio meteu-se por um vale fechado e, à medida que pedalava monte acima, o rio ficava cada vez mais afastado, entalado no fundo do vale. Na Sra. da Candosa, lá no alto, abre-se para o outro lado um vale magnífico, o vale de Vila Nova do Ceira.


O rio lá no fundo (à frente do guiador da bike)


anda por ali no vale às voltas com o cenário das terras altas do Açôr, onde nasce, ao fundo na linha ténue do horizonte à direita.


Pedalo com frequência pelas serranias da Serra do Açor (por exemplo, aqui). E já pedalei junto à nascente do Ceira. Há anos.
Fui tentar encontrar umas fotografias. Encontrei umas de 2012. O rio Ceira nasce aqui, neste vale aos 1200 m de altitude onde estou (lá em cima o Picoto da Cebola aos 1400 m, cume da serra do Açôr - quantas vezes não pedalei já até lá acima !). Olha, a minha antiga bike!


Aqui tinha acabado de deixar a nascente logo ali atrás, era um fiozinho de água que corria por ali vindo de lado nenhum. Ainda hoje, passados 4 anos, ao olhar a fotografia vem-me a memória viva do Sol, do calor, do aroma intenso da urze, da beleza rude, do vento, do caminho que me feria as pernas, da sede e da fome (são muitas horas por locais remotos), da sensação extraordinária de sentir todo o meu corpo deitado na realidade ...
Tenho que lançar aqui as fotografias dessa volta (tal com de tantas outras do passado).


Voltando, ao presente, a Sábado. Em baixo, sob a Sra. da Candosa, há uns penedos que apertam o rio, tornando-o mais wild.


O Douro, lá em baixo? Não, é o Ceira na Candosa, fazendo a transição entre o vale de Vila Nova do Ceira e o de Serpins.

Planeei o regresso pelo dantes designado "troço da Candosa do rali de Portugal"; 10 km com a serra da Lousã como cenário.

Mas, à saída da Sra. da Candosa dei com esta placa.


As autarquias inventam estas coisas na tentativa de promover o turismo; a autarquia de Góis achou que esta é a rota do mel e do azeite (como provavelmente acharam mais 50 outras autarquias do país). Uma história interessante é a disputa entre Miranda do Corvo e Vila Nova de Poiares pelo selo de capital da chanfana. Segundo se conta, em Miranda havia o barro e as olarias para fazer as caçoilas mas, por seu lado, Poiares tinha os rebanhos de cabras. Nesta guerra entre caçoilas e cabras, ambas  necessárias à chanfana, as duas Vilas reclamam ser a capital da Chanfana. Então, um dia, conduzia eu pela estrada da Beira e, à saída da Lousã, vi um cartaz que anunciava: Miranda do Corvo, capital Nacional da chanfana. Uma semana depois, junto ao primeiro estava um segundo cartaz: Vila Nova de Poiares, capital Universal da chanfana. Portanto, em todo o universo, quem quiser comer uma bela de uma chanfana já sabe onde é. Aliás, como é bem sabido, uma chanfana é das coisas que caem bem quando se viaja numa nave espacial. Tivesse Poiares o mesmo presidente em 1969 e Neil Armstrong teria levado um outdoor para espetar na superfície da lua, ao lado da bandeira americana, com uma seta a apontar para a Terra: chanfana a mais ou menos 380 mil Km.
No pódio da criatividade das capitais de qualquer coisa, para mim, o lugar mais alto vai para a Pampilhosa da Serra. À entrada da vila anuncia-se num enigmático cartaz: Pampilhosa da Serra, capital do silêncio.

No regresso à Lousã, no troço da Candosa, percebi que a serra era açoitada por chuva puxada a vento. E a estrada que me levaria à Lousã passa ali, a meia encosta.


A partir daqui, as pedaladas restantes contam-se rapidamente. Tinha o quadro da bike e o casaco cheios de lama acumulada de várias semanas (é que há coisas que não se lavam - a água estraga o material) e cheguei com ambos muitíssimo bem lavados. Lavei também as luvas, o capacete e os sapatos. Tudo bem levado, por fora e por dentro.

Ah!, afinal não atravessei a ponte Eiffel de bike. Foi a outra, a mais gira.





10 comentários:

  1. Não passaste a Góis? Já pedalei muito por lá e mesmo ao lado do rio Ceira. É lindo :)

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  2. Desta vez não cheguei a Góis. Fica depois de Vila Nova do Ceira, ao fundo do vale. Mas conheço muito bem. Já por lá passei muitas vezes. Dantes ia para lá em bike de estrada. Agora em BTT. Há por ali uns belos percursos que deves conhecer, quer para o lado da serra da Lousã, quer para o lado da serra do Açor.
    Quando vieres para este lados diz alguma coisa.

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    1. Um fim de semana por verão vamos com os amigos e os filhos acampar e já fomos algumas vezes para Góis. É nessas alturas que pedalamos por lá ou pelo sítio onde vamos acampar. Perto de Góis andámos pela Folgosa, Esporão, Cabreira, Cadafaz, etc, estive a ver os nomes que tenho nessas voltas e que gravei com o Strava. Conheces?

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    2. Sim, ficam para o lado da Serra do Açôr, indo pelo vale do rio Ceira (para Sudoeste de Góis). Para a próxima podem tentar o lado da serra da Lousã. Saindo de Góis para Sudeste, tentando chegar ao St. António da Neve aos 1200 m de altitude, por exemplo.
      Em Serpins há uma praia fluvial e local (parque, acho eu) para acampar.

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    3. Vou tomar nota para se este ano formos para Góis, fazermos novos trilhos. Obrigada João

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  3. Há qualquer coisa de encantatório nesse andar por serras, entre rochedos, sobrevoando os vales e rios.

    Acho sempre um bocado arriscado mas, para quem está habituado, presumo que os riscos sejam calculados.

    E já me ri com a capital disto e daquilo mas, sabe, eu acho que as terras deveriam mesmo valorizar o que têm, publicitar, e, sobretudo, sinalizar. Por todo o lado há uma falta de indicações... Ou se tem GPS ou, então, para se dar com qualquer coisa, salvo raras excepções, uma pessoa perde-se cinquenta vezes.

    E agora vou ali dizer uma coisa sobre os vídeos.

    Uma boa semana, João.

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    1. Eu também acho que as terras devem valorizar o que têm, mas devem fazê-lo de uma forma criativa e verdadeira. O contrário (que é muito frequente) gera uma frustração que mata um turismo sustentável. Tenho um amigo de infância, autarca na terra onde ambos crescemos, com quem já discuti este assunto. Ele organiza a ferira do queijo e do enchido e eu, que me perco por queijos e enchidos (devida e liquidamente acompanhados), pergunto-lhe porque é que me devo sentir atraído pela feira dele e não pelas outras mil feiras de queijo e enchido no país. Um "visitor center" para se aprender sobre os produtos, a terra, sobre o que não é óbvio quando se anda por ali a olhar ... é uma ideia. A ideia de "aprender" é estimulante e pode ser muito atractiva. O nosso cérebro está formatado para aprender e, no entanto, acha-se (acham os autarcas) que isso pode ser uma chatice. Pelo contrário. Mas estou para aqui a divagar ...

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  4. Eifel fez a ponte ferroviária, a pequena é mais charmosa, mas a de pedra é magnânima! Quem será que fez essa? Que fica debaixo de água aquando as inundações? E não vale dizer «os romanos» ehehe. A sério: quem terão sido as pessoas que colocaram cada pedra no seu sítio? Quando foi erguida?

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    1. Eu também gosto de pontes de pedra sobre rios. Na altura, quando tirei a fotografia, tive curiosidade em saber mais sobre a ponte mas não encontrei tempo para a busca.
      Agora, do que consegui saber no site da Junta de Freguesia de Serpins a ponte é de 1661 (há uma inscrição na ponte que o documenta). Esta é a chamada ponte nova porque, curiosamente, há uma outra a montante, a ponte velha, esta sim de origem Romana, construída no século XIV sobre pilares medievais. Esta última não vi. Tenho que voltar lá. Presumo que deve ficar junto à praia fluvial. Se voltar, colocarei aqui as fotografias. Aliás tiro fotografias de pontes com frequência. Numa volta que dei desde a serra da Estrela até à da Lousã ao longo do rio Alva passei por pontes belíssimas em Avô e Côja. Se te interessar podes ver em http://bateoventosopraachuva.blogspot.pt/2015_07_01_archive.html

      PS. Também gosto muito de fontes e bicas :) Tenho por aí uns posts com fotografias.

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    2. Ah, outra coisa. A pedras foram colocadas de acordo com um projecto e de modo planeado. colocar pedras umas em cima das outras não faz uma ponte. Tem que haver uma trabalho de equipa em que todos colaboram, desde o projecto da ponte, a gestão e planificação do trabalho, até à tecnologia usada para lá colocar as pedras e ao colocar das pedras propriamente dito. Todos contam, todos são importantes, não só quem lá põe as pedras.

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