(Serra da Lousã)
Escolhi ir a direito. Da Lousã ao Trevim.
Duro como o raio. Uma diferença de mais de 1000 m em altitude em pouco mais que
18 Km. Mas escolhi. Vou por ali. Que se lixe. Podia ir dar uma volta mais
suave. Mas escolhi ir a direito. Não poder escolher é uma merda. Isso dá cabo
da vida. Por isso, raramente me queixo.
Do trabalho, das pedaladas, das escolhas que fiz (se me arrependo? Isso é outra
coisa). Porque escolhi. E, para além do resultado final, poder escolher é
sempre um caso feliz. Estou agora a
lembrar-me que há um livrinho escrito pelos dois físicos que detectaram a
radiação de fundo do Universo, Penzias e Wilson, onde este falam disto. E, já agora, não é aquela ideia do famoso cântico negro de José Régio porque até parece que a escolha dele está predeterminada e é, portanto, imune à novidade, logo não está a fazer escolha nenhuma (mas, não me vou meter por aqui).
Fui a direito. Já o fiz dezenas de vezes.
Tirei duas fotografias e fiz dois vídeos.
A primeira sobre a Lousã aos 900 m de altitude, percebendo-se Coimbra
lá ao fundo à esquerda por detrás dos montes.
O vídeo, também no mesmo sítio, não deixa
tanto à imaginação mas abre o ângulo do horizonte desde Oeste até Este. Ao vir de Oeste, a Norte vê-se a Serra do Buçaco (parece uma meseta),
depois a do Caramulo e, já no final, a do Açôr (o cone do picoto da Cebola aos
1400m é óbvio) com a da Estrela
(imponente) na linha do horizonte
Ah, os últimos metros da subida. Gosto da
rudeza dos caminhos.
Subiu-se logo desce-se. Here we go!
A estrada, em mau estado, segue a linha
das eólicas. Ainda hei-de filmar isto como deve ser, à velocidade real, nem que
seja com o telemóvel preso nos dentes. Às vezes vou por ali abaixo e vejo os
falcões e outras rapinantes a planar mas, ao contrário do que é normal, pelo dorso,
é que estão mais baixas do que eu. O som do vento que bate (mas não sopra a
chuva, ora bolas!) é real. É o som que se ouve quando se veleja em cima da bike
por ali abaixo. Aliás, a ventania no rosto, nos ouvidos, em todo o lado, é um
lado pouco óbvio para quem nunca experimentou andar de bicicleta acima dos dos 30 km/h (mais ou menos) mas que traz às pedaladas
uma intensidade e novidade sensorial
viciantes. É que, estou convencido, o prazer é uma força evolutiva
(motora) inscrita no cérebro (digamos assim) que motiva muitas das nossas
acções.
A vista é sempre uma maravilha, quer a longínqua, quer a próxima. Em muitas dessas estradas não passam carros. Ou seja, há paisagens cuja visão apenas é acessível a quem se aventure por caminhos por vezes complicados, não é?
ResponderEliminarUma viagem dessas, entre ir e vir, ainda é demorada, presumo. E presumo que se sinta alguma solidão. Eu, se fosse sozinha, sentiria medo (medo de me perder, de cair, de me sentir mal). No entanto, imagino que, frequentemente, se sinta no topo do mundo e que isso seja uma sensação sem igual.
Sim, por vezes ando horas sozinho por caminhos remotos. Mas vou contar-lhe um segredo; o medo existe à partida (claro, somos racionais, prevemos situações, atrevemos problemas e isso é tudo natural) mas, quando se lá está, se pedala por ali solitariamente (claro que vou com atenção, aos ruídos aos movimentos à minha volta - e já apanhei uns sustos com quedas e com animais), há uma sensação de integração, de conforto, de naturalidade. Não tenho a sensação de conquista ou de estar no topo mas de pertença e de deslumbramento.
EliminarExperimente ! O mesmo racionalismo que gera o medo leva à sua substituição por outras emoções mais inspiradoras.