Nem sequer as ondas do mar ou o vento. É um som semelhante: são as moscas varejeiras.
Nos dias quentes, na zona sombria da floresta agrupam-se aos milhões.
Ia por ali acima, por um caminho que atravessa a floresta aos 900 m de altitude. Estavam perto de 40 graus C e o caminho que travessa a floresta sombria foi a opção para prosseguir. Era o mais fresco. O contraste da luz no caminho com a sombra sobre os cedros é quase inacreditável. De um lado Sol intenso, ofuscante, quase insuportável e, do outro, escuridão. Uma escuridão traiçoeira onde milhões de pequenos seres vivos pousados reagem a qualquer intruso levantando-se em nuvens aterradoras, ruidosas, vindas de todos os lados, mas? mas?! mas o que é isto?, que nos deixa à beira de um ataque de nervos. Sob as árvores a temperatura caía cerca de 7 a 8 graus.
Mas a temperatura era a única coisa que caía. Outras se levantavam. Já o previa. À medida que pedalava levantava-se um ruído como se fosse uma onda do mar. Com o ruído levantavam-se também milhões de varejeiras. Azuis ou esverdeadas, metalizadas, grandes, num alvoroço. O aspecto metalizado é o que mais me chateia.
Parei e dei uns passos, gravando o caos que se gerava à medida que avançava.
(ouvir com o som muito alto: em fundo dos meus passos e do trinar dos pássaros ouve-se (mal se vêem no vídeo) o som das varejeiras a voarem que nem doidas para logo pousarem. Na realidade o som é muito mais intenso mas o telemóvel deve ter problemas na gravação dos graves.)
As moscas e os mosquitos estão na base de uma das leis universais do BTT (aliás, já aqui, anteriormente, formulada).
O problema pode formular-se do seguinte modo:
à medida que o caminho fica mais íngreme a velocidade a que pedalamos tende a diminuir e, por outro lado, o suor tende a aumentar (escorre pela cara, vem para os olhos etc etc etc). Ora, o ponto crítico é quando a velocidade é inferior a 6-7 Km/h. É que a esta velocidade as moscas, mosquitos, varejeiras, moscardos e outros insectos CONSEGUEM ACOMPANHAR-NOS. E as moscas pousam na cara, e nos lábios, e nas orelhas, e o os mosquitos fazem uma nuvem à volta da cabeça e as forças para os enxotar já não são muitas, e se os enxotamos podemos perder o controlo da bike e é uma grande merda tudo isto.
PORTANTO, UMA REGRA BÁSICA DO BTT EM DIAS QUENTES E SEM VENTO É PEDALAR SEMPRE A UMA VELOCIDADE SUPERIOR ÀQUELA A QUE AS MOSCAS CONSEGUEM VOAR. De acordo com os meus cálculos - que são, aliás, baseados em várias observações reais no terreno - é cerca de 7-10 Km/h. É pouco? Pois, depende da inclinação e da temperatura.
A velocidade inferior a 7 Km/h, em subidas íngremes, há uma grande probabilidade de pedalar com a cabeça metida num grande zumbido. No meu caso, um caso particularmente grave devido ao ódio aos mosquitos, os neurónios entram em ressonância e, às tantas, já não se sabe se o zumbido é fora ou dentro da cabeça. Nem pensar em parar. E não há solução para isto. Proferir alto e bom som uns vocábulos em linguagem tabernácula (por assim dizer, insultando, por exemplo, a mãe das varejeiras) alivia mas não resolve a coisa.
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