domingo, 30 de julho de 2017

Como é pedalar na serra? É partir do vale com 30 °C e aos 1000 m ser varrido pelo vento

Serra da Lousã

29 Julho 2017


Fim do dia. Mais um incêndio para os lados de Coimbra. De novo, com a predominância do vento de Norte, a Lousã estava sob uma nuvem negra. E eu pela serra acima de bike. Queria subir acima da nuvem, queria chegar ao Trevim, aos 1200 m de altitude. Cá em baixo, no vale, um ar abafado e cerca de 33 °C. À medida que subia, até lá acima são duas horas bem medidas, começaram a chegar umas nuvens do lado do mar. Negras. Mais ou menos negras que se misturavam com as do fumo. O ar ficava nitidamente mais fresco e o tempo mudava rapidamente. Percebia que o fumo tinha desaparecido. Não o cheirava. Tinha-se diluído, significando que provavelmente o incêndio tinha sido apagado. Ainda não tinha chegado ao planalto (a cerca de 900 m) e já pedalava envolto em nevoeiro. Um nevoeiro que, vindo de baixo, subia a serra puxado a vento.  Gosto disto. Do nevoeiro que varre a serra. Ferozmente. Em dois segundos a paisagem à nossa volta muda entre o opaco, ou translúcido e o claramente nítido. Tudo muda sob a ventania. Depois há o rugido do vento como banda sonora do reboliço à volta. Um grande reboliço.
Habituado a isto, nem me passou pela cabeça voltar para trás. Cortei para a estrada que da EN236 nos leva ao Trevim. Mais um caminho de cabras que uma estrada. Claro que nem vivalma. Nem durante a subida tinham passado carros. Provavelmente sozinho em todo o planalto da serra como tantas vezes acontece. Cada vez mais escuro. Sete da tarde e o lusco-fusco pousava por ali. Já não dava para chegar ao Trevim. O vento forte que inibia as pedaladas, o nevoeiro denso que não deixava ver, a luz a ir-se e o tempo a caminhar para a noite forçaram-me (bem que parte do meu cérebro me motivava a continuar: deixa-te de merdas pá, vamos lá, se caíres levantas-te, conheces isto caraças, se anoitecer qual é o problema não estás na selva amazónica ...) a voltar.
Aos mil e pouco metros, quando estava a  chegar à base do Trevim e seu cone me deveria surgir imponente em frente, dominando a paisagem, era assim:

(parece som de água a correr mas é tudo da ventania)



Aquela parte do cérebro de há pouco tentou convencer-me a descer por um trilho na floresta. Mas, vistas bem as coisas, as coisas não se viam muito bem. As ondas de nevoeiro ora embaciavam ora deixavam ver as árvores.
Devo ter estado para ali minutos sem fim a olhar à volta. Parece que o som forte do vento não conta, que não  perturba o silêncio. Tudo tão belo à volta.



Não era nada boa ideia, dizia-me a outra parte. O nevoeiro húmido e umas gotinhas de chuva fininha nas lentes dos óculos também não ajudavam muito. O friozinho pela espinha acima também não.  Ainda se me atravessa um animal à frente ... Bem, mas nestes dilemas nem sempre é a parte racional ganha.

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