quarta-feira, 30 de março de 2016

Caminhos sem fim estes ... y si fuera mujer?

Julho 2014
(Serra da Lousã-Penela)

Passo grande parte da minha vida a pensar: onde é que isto vai dar?


E já senti a pele arrepiada com as palavras de Mario Benedetti em Montevideo.

Y si dios fuera mujer?
...
qué venturosa espléndida imposible
prodigiosa blasfemia.







Caminhos ventosos estes

Abril 2015
(Serra da Lousã)

Passo grande parte da minha vida a levar com o vento nas ventas.


E já Piazzolei nas ruas de Buenos Aires




Caminhos de cabras estes

Março 2016
(Serra da Lousã)

Passo grande parte da minha vida em caminhos de cabras.



E já percorri as streets of Philadelphia




domingo, 27 de março de 2016

De bike na ponte Eiffel sobre o rio Ceira

Março 2016
(Vale do rio Ceira, entre Serpins e Vila Nova do Ceira)

Rio Ceira em Serpins. Ponte feita exclusivamente de ferro.


Com um aparafusamento muito semelhante ao desta torre, mais coisa menos coisa.


Mas não é esta a ponte construída por Gustave Eiffel em Serpins, sobre o Ceira, no final do século XIX.


É a outra, a do comboio lá atrás, mais acima.


Daqui, mais acima, vê-se bem. Imponente e formosa mas falta-lhe a graça e a imperfeição da mais pequena ali em baixo, onde tirei a fotografia com a bike.


Do outro lado de Serpins, no sentido montante do rio, outra ponte. Esta com mais séculos de água a correr-lhe por baixo. E, em anos de cheias, a correr-lhe por cima.


Segui o Ceira. Gosto de seguir rios porque, nestas ocasiões, há um objectivo que se impõe com naturalidade: seguir o rio.  E, nas pedaladas, por vezes convém ter objectivos, de outro modo posso passar muito tempo no mesmo sítio ou páro com muita frequência. Olha ali um sítio tão bonito ... ah mas não posso parar, estou a seguir o rio.

O rio meteu-se por um vale fechado e, à medida que pedalava monte acima, o rio ficava cada vez mais afastado, entalado no fundo do vale. Na Sra. da Candosa, lá no alto, abre-se para o outro lado um vale magnífico, o vale de Vila Nova do Ceira.


O rio lá no fundo (à frente do guiador da bike)


anda por ali no vale às voltas com o cenário das terras altas do Açôr, onde nasce, ao fundo na linha ténue do horizonte à direita.


Pedalo com frequência pelas serranias da Serra do Açor (por exemplo, aqui). E já pedalei junto à nascente do Ceira. Há anos.
Fui tentar encontrar umas fotografias. Encontrei umas de 2012. O rio Ceira nasce aqui, neste vale aos 1200 m de altitude onde estou (lá em cima o Picoto da Cebola aos 1400 m, cume da serra do Açôr - quantas vezes não pedalei já até lá acima !). Olha, a minha antiga bike!


Aqui tinha acabado de deixar a nascente logo ali atrás, era um fiozinho de água que corria por ali vindo de lado nenhum. Ainda hoje, passados 4 anos, ao olhar a fotografia vem-me a memória viva do Sol, do calor, do aroma intenso da urze, da beleza rude, do vento, do caminho que me feria as pernas, da sede e da fome (são muitas horas por locais remotos), da sensação extraordinária de sentir todo o meu corpo deitado na realidade ...
Tenho que lançar aqui as fotografias dessa volta (tal com de tantas outras do passado).


Voltando, ao presente, a Sábado. Em baixo, sob a Sra. da Candosa, há uns penedos que apertam o rio, tornando-o mais wild.


O Douro, lá em baixo? Não, é o Ceira na Candosa, fazendo a transição entre o vale de Vila Nova do Ceira e o de Serpins.

Planeei o regresso pelo dantes designado "troço da Candosa do rali de Portugal"; 10 km com a serra da Lousã como cenário.

Mas, à saída da Sra. da Candosa dei com esta placa.


As autarquias inventam estas coisas na tentativa de promover o turismo; a autarquia de Góis achou que esta é a rota do mel e do azeite (como provavelmente acharam mais 50 outras autarquias do país). Uma história interessante é a disputa entre Miranda do Corvo e Vila Nova de Poiares pelo selo de capital da chanfana. Segundo se conta, em Miranda havia o barro e as olarias para fazer as caçoilas mas, por seu lado, Poiares tinha os rebanhos de cabras. Nesta guerra entre caçoilas e cabras, ambas  necessárias à chanfana, as duas Vilas reclamam ser a capital da Chanfana. Então, um dia, conduzia eu pela estrada da Beira e, à saída da Lousã, vi um cartaz que anunciava: Miranda do Corvo, capital Nacional da chanfana. Uma semana depois, junto ao primeiro estava um segundo cartaz: Vila Nova de Poiares, capital Universal da chanfana. Portanto, em todo o universo, quem quiser comer uma bela de uma chanfana já sabe onde é. Aliás, como é bem sabido, uma chanfana é das coisas que caem bem quando se viaja numa nave espacial. Tivesse Poiares o mesmo presidente em 1969 e Neil Armstrong teria levado um outdoor para espetar na superfície da lua, ao lado da bandeira americana, com uma seta a apontar para a Terra: chanfana a mais ou menos 380 mil Km.
No pódio da criatividade das capitais de qualquer coisa, para mim, o lugar mais alto vai para a Pampilhosa da Serra. À entrada da vila anuncia-se num enigmático cartaz: Pampilhosa da Serra, capital do silêncio.

No regresso à Lousã, no troço da Candosa, percebi que a serra era açoitada por chuva puxada a vento. E a estrada que me levaria à Lousã passa ali, a meia encosta.


A partir daqui, as pedaladas restantes contam-se rapidamente. Tinha o quadro da bike e o casaco cheios de lama acumulada de várias semanas (é que há coisas que não se lavam - a água estraga o material) e cheguei com ambos muitíssimo bem lavados. Lavei também as luvas, o capacete e os sapatos. Tudo bem levado, por fora e por dentro.

Ah!, afinal não atravessei a ponte Eiffel de bike. Foi a outra, a mais gira.





sexta-feira, 25 de março de 2016

Vídeozinhos à Sexta

Março 2016
(serra da Lousã)

Motivado por um jeito manso fiz uns vídeos NA serra. Na serra, isso mesmo, e não da serra. Vou por ali fora a pedalar e, de mansinho, encosto a bike, puxo do telemóvel e clic, vídeo on.

O canto dos pássaros na floresta corta o silêncio. Ou vice-versa, o silêncio é cortado pelo canto dos pássaros.


Showing off the white shoes. Os sapatos não têm qualquer interesse (excepto para viciados em aspectos técnicos em polímeros e física clássica, vectores, forças, quer dizer a força do pé no pedal e assim...), o resto é que interessa.


À entrada antiga do Candal. Muros belos cobertos de musgo antigo.
Hoje ninguém chega ao Candal por aqui mas a geometria das fezes que por ali vi dizem-me que o caminho é usado por coelhos, raposas, javalis e veados. É o caminho que usam para a água, provavelmente.



Lá em baixo, no riacho, a água.












Porque tombam as árvores?

Março
(Serra da Lousã)
Sexta-feira

Sim, tombam porque são seres vivos e, portanto, nascem e morrem. Tombam quando estão velhas. e frágeis. Mas não é isso. Tombam porque ficam doentes (vírus? parasitas? bactérias? fungos?) ou porque alguma modificação no solo as fragiliza (quer do ponto de vista da nutrição, quer do suporte físico) ou porque competem com outras para nutrientes e luz ou o vento ... e mais meia dúzia de razões.

Ia por ali fora, tinha passado o Terreiro das Bruxas e ...


a árvore parecia sã, com saúde.


As raízes estavam à mostra. Apesar da imponência, tal como as sequóias, estas árvores podem cair porque se agigantam. As sequóias são os seres vivos com a maior taxa de crescimento (massa ou volume na unidade de tempo) mas têm raízes superficiais (tipo pata de galinha) e, por isso, a sustentação diminui à medida que crescem. Parece-me que o mesmo se passou com esta árvore, aqui no caminho. As raízes são superficiais. Desenterrou-se.



Mas, então, logo mais à frente reparei que havia muitas árvores caídas, outras oblíquas, apoiadas noutras direitas. E sobretudo no pequeno vale formado pelo riacho.
Para o lado de baixo



e, para o outro lado, para cima


Doentes? Mas caíram sobretudo junto ao riacho. O solo é ali menos consistente para segurar as raízes? Mas alguma coisa provocou a queda. Nem todas caíram.

Foi isto


que me levou a pensar que não se tratava de uma doença.
Provavelmente, as quedas estão relacionadas com o grande nevão de há semanas atrás. O peso da neve partiu e tombou muitas logo na altura. Outras ficaram fragilizadas e só agora tombaram. Junto ao riacho, ou porque estavam mais expostas, ou porque o solo de algum modo ficou mais sensível, ou, ou, ... Espero que seja isto e não uma doença.


Aldeias de xisto - Talasnal e Casal Novo

Março 2016
(Serra da Lousã)

Uma Sexta-feira pálida, um céu branco, uma luz que dilui as cores, que não faz sombras, que faz semicerrar os olhos, sem vento. Uma Sexta-feira ligada ao sagrado para alguns mas casual e pálida para mim. As previsões dizem que a manhã de luz ténue filtrada por nuvens altas se transformaria numa tarde de chuviscos e nuvens baixas. A vontade de umas pedaladas tranquilas levou-me pela nova estrada asfaltada (um belo estradão de terra batida a meia encosta da serra que levou recentemente com uma camada de asfalto em cima quando havia alternativas mais em sintonia com o ambiente - uma espécie de um barro, como vi na Finlândia. É a velhíssima táctica das autarquias; queixas de acesso, alcatrão p'ra cima) que passa pelas aldeias de xisto do Talasnal e do Casal Novo.

Enquanto subia, o céu branco ia escurecendo para uns lados e abrindo clareiras de Sol por outro. As previsões de chuva iam cumprir-se.

Passei perto do Catarredor e do Vaqueirinho. Não parei.

Talasnal (ao fundo, no vale, a Lousã)


É, a par do Gondramaz (esta no Concelho de Miranda do Corvo), a mais "turística" das aldeias de xisto da serra da Lousã. Pode arrendar-se uma casa (para fim-de-semana, festas e outras cenas, desde as pouco radicais, passando pelas mais-ou-menos-radicais até às radicadélicas), há um restaurante  com cabrito, veado, javali (almoço apenas por encomenda) ...




Casal Novo
(as casas começam a perceber-se por entre os carvalhos)


É a aldeia que mais cedo começou a ser reabilitada, numa altura em que não era ainda moda ter uma segunda casa na serra. E, assim, as coisas foram sendo feitas com simplicidade e gosto genuíno, sem "show-off". Há anos, eram as minhas filhas umas crianças, passámos ali um fim-de-semana, na casa de uma amiga. Lembro-me que, à noite, dei uma volta pela aldeia e não encontrei ninguém, nem sequer indícios de por ali esta mais alguém. Quando cheguei à casa anunciei à família: somos os únicos a dormir aqui hoje à noite nesta aldeia da serra, não há por aqui mais ninguém. Caiu um certo silêncio que se somou ao silêncio que já por ali se instalara ao anoitecer.


A rua (se lhe podemos chamar assim) é perpendicular à cumeada,


deixando ver o vale à medida que a vamos percorrendo.


O regresso foi pelo Terreiro das Bruxas. Um percurso talvez desapropriadamente pagão para esta Sexta-feira.









segunda-feira, 21 de março de 2016

Jogar ao gato e ao rato com a chuva

Março 2016
(Serra da Lousã)

Tempo instável.
Ora vinha uma carga de água caída de nuvens negras, ora abria uma claridade enganadora que parecia anunciar Sol aberto mas que, logo a seguir, era tapada por nuvens ainda mais negras e ameaçadoras que as primeiras. E isto repetido ao longo da manhã.
Nestas situações, lembro-me sempre das palavras do Sr. Santana que do alto da sua provecta idade, três vezes meneando a cabeça (!!!), me disse no tom sábio de quem revela um dos segredos do Universo: não é por estar  chover que vamos deixar de andar de bicicleta.

O plano é (1) sentir-me confortável a pedalar à chuva e (2) ir fugindo às nuvens negras. O ponto 1 requer lucidez e descontracção (ora, é apenas chuva), o ponto 2 implica pensamento estratégico. Se vêm de Nordeste, aponto a proa da bike à nuvem até começar a levar com as primeiras gotas (uma estratégia inspirada na que os  marinheiros Portugueses Portugueses usavam quando navegavam à bolina, contra o vento) e então, nessa altura, guino o guiador da bike e rumo a Sul, subindo a encosta da serra porque sei que a chuva se vai meter pelo vale dentro cá em baixo, passando-me a estibordo. Depois só apanho com as de Sul que se aninharam ali em cima, sob a serra.


Saí em direcção Nordeste directamente ao encontro de uma nuvem escura. Logo depois, a chuva caía em gotas grossas e parecia que me ia meter na boca do lobo mas, então, comecei a subir para Sul, fugindo do vale. Quando cheguei à aldeia de Vale Nogueira a meia encosta, a chuva, como previra, fustigava o vale e a Lousã mas apenas me salpicava aqui, em Vale Nogueira. Estive aqui algum tempo observando a chuva a cair em lençol, como se nota claramente na fotografia ao fundo, à direita.


Sempre tive esta coisa entranhada em mim. Sei sempre de que lado sopra o vento, para onde é o Norte, como está o céu à noite, que constelações se vêem, qual a fase da Lua ... Houve até uma altura, quando era adolescente, que me treinava a saber as horas pela observação do percurso do Sol. Raramente falhava por mais que 20 min.
Ainda se tivesse uma actividade ao ar livre ou ligada ao campo! Mas minha vida é passada dentro de edifícios em meio urbano. Quando viajo e aterro numa cidade desconhecida, instintivamente, oriento-me. Das coisas mais perturbadoras que me acontece é aterrar de noite, ir para um hotel e ficar às aranhas sem saber de que lado nasce o Sol. No hemisfério Norte, curiosamente, oriento-me mais facilmente do que no Sul.
Já aprendi a não comentar estes assuntos no meu dia-a-dia. Estamos numa pausa para café e tal, conversa para aqui e para ali mas o vento hoje virou para Sul, ontem estava de Nordeste e que é capaz de vir chuva, aliás, a Lua ontem à noite tinha auréola e estava belíssima, não estava? não é conversa que entusiasme. Surpreende-me que a maioria das pessoas que conheço não olha para o céu, nem de dia, nem de noite. E olhar o céu estrelado num local limpo e escuro, a via láctea, as estrelas, planetas do sistema solar, supernovas e outros objectos é maravilhoso. É uma imensidão e, ao mesmo tempo, uma sensação de proximidade. É também uma visão do passado. É que a velocidade da luz é finita (300 mil Km/s) e as estrelas estão muito longe e, portanto, a luz que vemos quando olhamos o céu foi emitida pelas estrelas há muitos anos atrás. Demorou tempo a chegar em função da distância a que as estrelas estão da Terra. A Proxima Centauri é a mais próxima e a luz emitida demora cerca de 5 anos a atingir a Terra (fica a 5 anos-luz). Portanto, vêmo-la como era há 5 anos atrás, não como é hoje (se ainda é!). Outras estão a milhares, milhões de anos-luz. Como as estrelas nascem e morrem, muitas das que hoje vemos podem já não ser estrelas. Estamos a olhar para o passado quando olhamos o céu. À medida que vamos percorrendo várias regiões do céu com o olhar, como as estrelas diferem na distância à Terra, estamos a viajar no tempo.

Bem, mas para cima, para a serra, parece mais claro, o céu. Tanto quanto percebo pelo que vejo por entre as árvores.



A coisa aguentou-se. Não houve grandes chuvadas, apenas uns salpicos. Aliás, os salpicos vinham sobretudo das rodas; é que os caminhos estavam transformados em lamaçais. Para mais, tinha andado por ali um tractor a cortar árvores, deixando regos e revoltando a terra. Passei por uns eucaliptos cortados e o cheiro era não o aromático intenso (de folhas de eucalipto frescas) mas um aroma maduro, envelhecido, delicioso. Sentia-o na boca como se estivesse a provar um vinho.



Na chegada ao planalto do Espinheiro o céu enganava. Parecia abrir mas pois é, já sei como é, aqui no planalto o tempo engana.


De repente tudo muda.



Enquanto andava por ali começou a caía uma chuva miudinha tranquila. O jogo do gato e do rato entre mim e a chuva continuava; e a chuva era o gato!


Estava numa ratoeira, dali, do planalto do Espinheiro, não conseguia mover-me suficientemente rápido para escapar às nuvens negras.
Decidi que iria pela floresta, mais acima.




Meti-me pelo caminho que passa na fonte fria. É uma transição espectacular, do planalto nu de erva alta do Espinheiro para a floresta. A aproximar-me parei. Olhei o caminho que se metia por entre as árvores, o ambiente tranquilo com luz suave era cortado por uns "pios" de pássaros que, claramente, comunicavam entre si.  Puxei do telemóvel, carreguei em vídeo e fui apontando à volta na expectativa de os apanhar. Em vão, percebe-se a certa altura pelo efeito Doppler do pio que foram à vida deles para longe dali (o do pio mais agudo poderia ser um melro, o outro, com som mais grave, não sei).

Fica a memória para se ouvER.



Depois? Depois segui para a fonte fria. O ambiente era despojado, elementar, sem vaidades de cores a sobressair na floresta. Pedalo por ali sob chuva miudinha por lama e poças de água com o prazer de quem apanha uma brisa suave à beira-mar num dia quente ao por-do-Sol.


A certa altura, o caminho macio de lamas, folhas e paus molhados (manteiga para as rodas da bike, if you know what I mean) torna-se pedregoso, imprevisto e com mais ângulos. Sinais de que estou a chegar. Lembro-me da última vez que havia umas pedras com musgo na curva da fonte.


Cheguei à fonte fria, local mítico (digo eu) por onde tinha passado há tempos atrás.




Ao espreitar no tanque, desta vez encontrei o duende da fonte. Ao princípio surgiu como uma imagem desfocada, só para fazer suspense



Mas depois vi claramente visto, era o duende e apoiava-se num pau, como que a convidar-me a agarrar a outra extremidade e, assim, puxar-me para dentro do tanque. Não fui na conversa.


Olhei com atenção, era apenas um. Mais à frente no tanque estava tudo tranquilo, apenas a floresta no espelho de água ladeado por um muro coberto de cores e texturas belas.


Do lado de cima, o riacho que alimenta a fonte. É difícil abandonar este local.


Mas lá disse adeus ao duende


Saí dali à pressa, de outro modo passaria mais 10, 15, 20 min por ali, a diluir-me na floresta (como me disseram num comentário há tempos). Mas, logo a seguir, parei e encostei a bike. Deixa cá ver; óculos, luvas, balaclava, telemóvel, capacete .... está tudo. Eu, que sou perito em esquecer-me de coisas, tenho que fazer checks frequentes - quantas vezes não voltei para trás à procura dos óculos em cima de uma pedra (agora quando os tiro pouso-os no selim, pelo menos dou por eles quando me sento ao montar na bike), do capacete pendurado num ramo ...


Lá para baixo, para o vale, o dia tinha aberto. Ia ser uma descida a seco. A seco é mais confortável. Apesar de o meu casaco ter uma espécie de fralda que, desapertando umas molas, cai na parte de trás ao fundo das costas, protegendo-me os grandes glúteos e o espaço entre eles (por assim dizer) dos salpicos de água da roda traseira, há sempre infiltrações (!?) indesejadas.


Pelo menos dos joelhos para cima (o que já não é mau) seria a seco. É que havia umas poças de água que, caso fosse distraído a olhar à volta, poderiam refrescar-me os pés.