Serra da Lousã
Aqui há dias, ia no carro a ouvir rádio pela manhã, comme d'habitude, quando, às tantas, surgiu o assunto (Antena 2, se bem me lembro). Pois que isto da escala diatónica com meia dúzia de frequências (saltando de meio em meio tom) é uma chatice, uma monotonia, é o padrão mais usado na música Ocidental nos últimos séculos e tal, que houve umas experiências interessantes com outras escalas mas, e aqui é que a coisa começou a ficar interessante, é muito limitada relativamente aos sons que ouvimos na natureza. E, então, a música espectral, o espectralismo, usando escalas com um número muito maior de notas (sons), permite compor música que se aproxima dos sons que ouvimos na natureza. Por exemplo, na música espectral entre duas teclas subsequentes no piano há 6, 8 10 ou mais notas. Há construtores que têm fabricado pianos em que se pode mudar a frequência de cada tecla no momento em que se pressiona. Há também construtores de instrumentos específicos para música espectral (a cítara Indiana aproxima-se dessa multiplicidade de sons). Os compositores de música espectral usam estratégias interessantes com instrumentos clássicos. Muitos povos designados por primitivos inventaram instrumentos com frequências múltiplas e que se aproximam dos sons da natureza. E por aí fora. Logo a seguir tocou uma peça para piano. Afinal eram seis pianos e cada um deles com uma afinação diferente de todos os outros. Quer dizer, quando se pressiona a mesma tecla em todos eles, obtêm-se seis sons diferentes. Gostei muito. Fiquei a pensar que, em parte, é isso que fazem os guitarristas do pop/rock quando puxam as cordas com os dedos de modo a produzir distorções do som. Mister D. Gilmour is a prime example. Lembrei-me também de um tipo por quem andei embeiçado (ao tempo que não usava esta palavra) há muitos anos, muitos anos: Philip Glass.
Fui à net à procura de um bom exemplo e, sem me esforçar muito, encontrei isto. Com mais esforço devem encontrar-se outras mais interessantes:
Ontem, Sábado, pedalava serra acima (há dias e dias que o não conseguia fazer), as ribeiras tinham crescido com as chuvas dos últimos dias, e lembrei-me do espectralismo. O ruído da água a correr acompanhou-me serra acima.
Portanto, cá vai um vídeo para ouvEr a música da ribeira que corre. É muito interessante pensar que este som, pelo menos para mim, nada tem de ruído. E, seguramente, as frequências que ouço vindas da ribeira são em número extraordinariamente maior que as da escala diatónica.
(sapatinhos com sola de carbono e aplicações de metal não são, porventura, o melhor calçado para caminhar ribeiras acima e fazer um videozinho estável)