Serra da Lousã
(Sir Paul and folks during the 90's)
EN236. Longa e tortuosa como convém às pedaladas. A uma curva segue-se outra, mantendo-se acesa a curiosidade sobre o que está para lá da curva seguinte. Antecipando-me - e sabendo-se que à subida se segue a descida e, mais ainda, que enquanto que a subida é lenta a descida é feita de cara ao vento a boa velocidade - quando a tortuosa EN236 foi feita a descer, curvando bem inclinado nas curvas, sentindo um friozinho no umbigo ao desfazer cada curva na expectativa de nada me aparecer pela frente, às tantas atravessa-se-me um javali. Àquela velocidade nada poderia fazer. O bicho apareceu-me pela direita e atravessou a estrada a correr na perpendicular à minha frente. Só percebi o que raio era aquele vulto quando o foquei mesmo à minha frente, ali, dois metros à frente da roda da bike; um corpo redondo entre o cinzento e o castanho, peludo, com um focinho bicudo e saliente. Nem tive tempo de travar. Quer dizer, ainda travei durante uns segundos. Caraças, se tivéssemos chocado teria sido uma grande merda (para mim claro). Vejo-os com frequência nos caminhos e trilhos da floresta e da mata mas nunca ali, em pleno dia, a atravessar a estrada. Mas o dia estava Novêmbrico e silencioso e eu deveria ter pensado nisso. Nestes dias os animais vagueiam mais à vontade. Uma vez, indo eu em boa pedalada num trilho estreito plano lá no cimo da serra, entre arbustos que não permitiam sair do caminho, sinto um cheiro intenso e, no mesmo instante, salta-me um javali para a frente. Eu a pensar se deveria parar ou continuar a pedalar e o bicho enorme ali a correr à minha frente no mesmo trilho perseguido por mim. Por fim, enquanto eu não me decidia, ele tomou a iniciativa e meteu-se por um buraco entre os arbustos, serra acima. Lá parei a tentar que o coração me saísse da boca e voltasse ao seu lugar no peito.
The long and winding road ...
... I´ve seen this road before
it always leads me here
Um dia de Junho, mais Novêmbrico que Júnhico. Aos dias de chuva na serra tinham-se sucedido dias quentes e de Sol aberto. A humidade era intensa quando, neste dia, o céu se tapou sobre a serra, mas apenas sobre a serra, e a temperatura baixou um pouco. Em todo o vale o céu era aberto e azul, vendo-se a serra coberta por um manto gasoso e branco. Um fenómeno curioso, uma neblina que se assapava sobre as encostas e o cume, que permanecia ali, nem se dissipando nem se movendo (como o outro que nem coisa e tal nem sai de cima), andava por ali lentamente a vaguear, abafando sons e tornando a estrada ainda mais tortuosa e longa.
I´ve heard this song before: