segunda-feira, 30 de setembro de 2019

a vida na terra


Na ausência deste pigmento verde, a clorofila (presente em bactérias e algas nos oceanos, nas folhas das plantas em terra ...), a vida na Terra, tal como a conhecemos, seria impossível; a energia do Sol colhida, capturada e armazenada por acção da clorofila é a base da cadeia alimentar da vida na Terra.

Olho para o tronco da árvore coberto de plantas verdes (devido à clorofila) e percebo que o pão com queijo que comi ao pequeno-almoço começa ali. Quer o pão quer o queijo. Se recuar mais um pouco, percebo que começa no raio de Sol que atinge a árvore.



A biodiversidade é o caminho que nos liga à clorofila. Se se interrompe o caminho ou se se criam atalhos, às tantas acabamos num labirinto. Ou seja, sem pão e queijo para o pequeno almoço.
Em suma, é isto.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Bike wandering, ou melhor, pedalar com a cabeça na lua

Agosto 2019

Até há uns anos, pensava-se que quando estamos com a cabeça na lua, a "pensar em nada", sem focar a atenção numa tarefa ou acção, o nosso cérebro estaria em modo "save energy", adormecido, em background, em standby, que os circuitos neuronais estariam desligados quando estamos a descansar (ou a dormir), mantendo apenas as funções basais. Apenas quando focados numa tarefa/acção, reagindo a estímulos do ambiente, estaríamos a consumir energia.
Pois, provavelmente, não é assim.
Sabemos hoje (sobretudo como resultado dos trabalhos de um cavalheiro chamado Marcus Raichle - na net há muitas entrevistas com ele sobre este assunto) que, quando estamos em "mind wandering", com a "cabeça na lua", a "pensar na morte da bezerra", a "olhar para o boneco", há regiões do cérebro que se "ligam", tornando-se muito activas (estas mesmas regiões estão "desligadas" quando focamos a atenção numa tarefa).
O mind wandering está, provavelmente, associado ao planeamento do futuro, ao processamento de memórias autobiográficas que, sem o percebermos, vão influenciar as nossas escolhas/decisões futuras. Para aqueles que acham que são absolutamente racionais, que tudo é preto ou branco, que nunca se enganam e raramente têm dúvidas, estas são más notícias. Esta actividade neuronal intrínseca (o chamado "default mode") contribui para uma larga fatia da actividade do cérebro e, inclusivamente, o estudo das suas alterações começa a ser relacionado com doenças neurológicas e psiquiátricas.

E antes que me embrenhe em mais labirintos, vamos ao que interessa: muitas vezes, serra acima, pedalada após pedalada, ou porque está uma luz assim ou assado, ou porque há uma brisa que inebria,  ou por qualquer outro motivo, vou em modo bike wandering. Pedalo, pedalo e, àa tantas "olha! já estou aqui e nem me lembro de chegar". Foi o caso de um dia de Agosto passado em que, após uma subida serra acima sob Sol intenso, de súbito, com o Sol a cair no horizonte, ao aproximar-me do cume aos 1200 m, do nada surgem umas nuvens que, rapidamente, cobriram o vale e se me atravessaram à frente (eriçando-me os pêlos da barba e do cabelo e interrompendo-me as pedaladas na lua), 



espraiando-se serra acima.


Surgiram do lado de lá da encosta, vindas do vale, como se fosse uma onda gigante a engolir as serranias, um tsunami gasoso.


Depois, o turbilhão amainou um pouco, a luz rente às nuvens de um dourado que a fotografia não consegue reproduzir, a perspectiva do dia que termina, a solidão impressiva, o ar limpo e fino ... a wander !



Não havia vivalma no cume da serra. Estava ali sózinho, comme d'habitude. Teria que descer com a noite a cair-me em cima. 25 km por ali abaixo equilibrado em duas rodas. Dos 1200 aos 200 m de altitude, mergulhando nas nuvens. Mas isso não é nada que me seja estranho. Seria o inverso do bike wandering; teria que ir focadíssimo na tarefa de evitar, pedras, paus, covas, javalis e veados (já se me atravessaram à frente à noite e, por pouco, não houve um encontro imediato do terceiro grau). O meu cérebro "ligaria os circuitos da atenção e desligaria os da "cabeça na lua".

C'est la vie.





E.L.P. ao vivo em Montreal em 1977: C'est la vie
(pena a fraca qualidade da gravação)


(Emerson, Lake & Palmer)