Há semanas que não consigo carregar fotografias aqui no blog. A merda do Blogger, na janela do "upload from this computer" abre o botão "choose files" mas, carregando, não funciona. Sem grande paciência, dei uma vista de olhos pela net e, de facto, há muitas queixas parecidas. Soluções é que não há, a não ser "o Blogger um dia destes resolve o assunto". Tretas. Depois de umas tentativas para dar a volta ao Blogger, fiz copy & past directo para esta página. Não sei se vai funcionar mas vale a pena experimentar. Copiei para aqui umas fotografias de umas pedaladas feitas num dia inteiro e limpo. Vamos ver se resulta ... furtivo, como o gato, apanho o Blogger desprevenido com um mero e simples copy & past.
Outubro 2020
Estava o Outono bem entrado, um reboliço de folhas mortas pelo chão, os riachos a darem um ar da sua graça, alimentados por chuvas recentes, o ar fresco sob um Sol morno e, um dia de luz limpa - até na mist covered mountain há dias de luz limpa. Neste dias, sabe bem pedalar pela floresta aos 800m de altitude.
Sim, dizem-me os especialistas que o provérbio é assim: quem não tem cão, caça COMO O gato (e não caça com gato, como se diz por aí). Aliás, é muito mais interessante caçar como gato e não fazer do gato cão; aquele, aliás, não se prestaria a isso.
Ainda antes da bonança, depois da tempestade seguida de outra ainda mais valente, o ciclista extraordinário, armado em David Attenborough, pedalou serra acima e pôs-se a filmar os riachos.
OuvEr os riachos enche os pulmões do ciclista de ar fresco que daí, após um ligeiro aquecimento, sobe à cabeça para arejar as ideias. Pelo caminho excita os neurónios que interpretam a luz que, depois de uma viagem de 150 milhões de Km desde o Sol, entra pelos olhos e revelam a beleza.
E, às tantas, quando o ciclista extraordinário estava a carregar o videozinho no blog, veio-lhe à memória a voz de Jon Anderson. Logo a seguir, very soon, estava o Jon Anderson, Steve Howe e demais parceiros dos Yes na cabeça do ciclista extraordinário.
O photoshop nada acrescenta nem tira à realidade. Muito menos a uma fotografia que nada acrescenta nem tira à realidade. Olha-se o chão coberto de folhas e, dependendo do ângulo pelo qual a luz do Sol incide nos milhares de folhas, da sombra das árvores, da nuvem que passa soprada pelo vento ... a cor muda, o brilho acentua-se para logo se revelar o vermelho ou o amarelo ou o verde .. e o cérebro lá vai formando os padrões, normalizando e habituando-nos a ver o que às tantas não está lá, à nossa a frente, construindo a nossa realidade. E, por isso, não sei se a realidade construída pelo meu cérebro se assemelha à do meu vizinho.
Em suma, quanto ao Photoshop nada contra nem a favor. Tudo é a realidade.
(the bike and the yellow leaves, I mean the blue leav..., sorry ... whatever color)
(The path)
(água fresquinha a correr e uns fetos muito bonitos)
(não se ouve mas havia pássaros por ali a esvoaçar)
(drops kept falling on my head caídas das árvores)
O ciclista extraordinário foi à serra ver a queda das folhas das árvores. Escolheu um bosque bonito, com carvalhos e castanheiros, uns cedros por aqui e por ali, em altitude porque o ar é mais fresco (por volta dos 900 m) e umas pedaladas depois lá estava. Chegou, passou por entre dois cedros muito grandes, como que as portas do bosque e, logo depois, encostou a bike e andou por ali, pelo chão coberto de folhas caídas e mortas.
Uma neblina fina tinha-se infiltrado por entre as árvores e o silêncio que já era fundo ficou ainda mais fundo. Era tal que o ciclista extraordinário ouvia claramente as folhas a cair, batendo noutras e nos ramos das árvores. Por vezes até se assustava, tão inverosímil lhe parecia o barulho das folhas a cair.
Tal como algumas células no nosso organismo, as folhas das árvores morrem silenciosamente. Um suicídio necessário à sobrevivência do organismo, da árvore. Uma morte regulada, programada, individual. Nas árvores não sei mas, no nosso caso, a ideia é que a vida requer a morte; uma célula danificada que pode dividir-se descontroladamente, originando um cancro, terá que morrer a bem do organismo. A morte da célula é uma descosntrução metódica, programada que requer energia. O primeiro tipo de morte programada descoberto há uns vinte e tal anos chama-se "apoptose". E, em Grego antigo (no qual, obviamente o ciclista extraordinário é especialista) "apoptose" significa "queda das folhas no Outono".
E o ciclista extraordinário fez uns videozinhos das folhas a cair.
Depois - o ciclista extraordinário não se lembra muito bem quanto tempo por ai andou - chegou a hora de ir embora. Como quase sempre.
Where´s my bike. Ah, está ali.
E, mais rápido que a brisa que não soprava, o ciclista extraordinário lançou-se por ali abaixo a assobiar o solo de guitarra do Eric Clapton nas Autumn leaves.