quinta-feira, 31 de março de 2022

navegar nos soutos aos mil metros, mil metros frios, e o companheiro furtivo

 Fevereiro 2022

À primeira sensação parecia tudo parado: o ar finíssimo, ar que se sente nos olhos, a luz fria e brilhante, as folhas de inverno quietas nas árvores, apenas uns estalidos aqui e ali não sei bem de que origem.  O ciclista extraordinário por ali fora num pedalar fugidio, a navegar sem vento pelos soutos fora aos mil metros de altitude. Tal o ambiente que o ruído das rodas da bike era ensurdecedor.




Um pedalar fugidio de narinas abertas ao ar frio. A  respiração do ciclista extraordinário condensada, que é como quem diz que a energia cinética das moléculas expiradas diminuía a olhos vistos.




E, pensava o ciclista extraordinário, bem que podiam diminuir (a energia cinética das moléculas expiradas) não ali, num souto na península Ibérica mas logo ali ao lado (visto de Júpiter é logo ali ao lado) num bosque de um país chamado Rússia

(Floresta na Rússia)

ou no de um país chamado Ucrânia.


(Floresta na Ucrânia)

Mas era ali, no souto ibérico.


Na orla do souto, antes de o ciclista extraordinário se lançar na descida serra abaixo, o caminho levou-o pela floresta, por entre os majestosos e clorofílicos cedros. O troncos coberto de musgo a fazer a fotossíntese (que é como quem diz a colher a luz do Sol), imperfeita como todos os processos biológicos, deixando escapar parte da energia da luz recém chegada d uma viagem de 150 milhões de quilómetros e, por isso, a fluorescência (a luz que emana) dos troncos.



Logo depois de ter estado a olhar para cima, rente aos troncos, o ciclista extraordinário percebeu o vulto que se esgueirava por entre as árvores.


O companheiro imaginário das voltas pela floresta. Por entre as árvores, escolhendo cuidadosamente o sítio onde colocar cada pata, que pousa lentamente no chão num balanço como se fosse uma folha caída da árvore, olhar de soslaio, fazendo-se distraído, mas atento. Cachaço curvado à medida que caminhava, estacou a 10 m e levantou a cabeça, altivo. Era uma saudação.





terça-feira, 1 de março de 2022

A natureza da luz do dia quando se faz noite

2022

A luz criada no sol é projectada no espaço e, por acaso, 150 milhões de Km depois, num pequeno planeta - a pale blue dot -  incide no espelho de água do Dnieper, o rio que nasce na Rússia e atravessa Kiev na Ucrânia, tornando-o belo.


A mesma luz incide nas encostas da serra da Lousã sobre a aldeia de xisto da Cerdeira, tornando-as surpreendentes.

(notar a Lua)

O Dnieper e a serra da Lousã fazem parte do pale blue dot. Our home! E o Dnieper e a serra da Lousã são tão belos como a Vénus de Milo mas, pelos vistos, como diria o "outro", há é pouca gente para dar por isso.


O Sol punha-se, como quem diz que a Terra rodava. Kiev e Moscovo estavam já às escuras quando parte da energia da luz era absorvida nas encostas da serra da Lousã, deixando ver as cores que sobravam. E era surpreendente. Na Cerdeira, outra luz, luz criada em filamentos aquecidos com energia gerada em centrais hidroeléctricas que, se formos por aí fora, iremos desaguar (não no mar negro) na energia da luz que é criada no Sol.



Estava por ali sabendo que a descida iria ser feita às escuras. Enquanto olhava, a Terra ia rodando mais um bocadinho.  A luz do Sol incidiria em Washington mas à serra da Lousã, tal como acontecera já em Kiev e Moscovo, faltaria em breve.









Durante a subida, embora emoldurado pelo amarelo intenso das mimosas, tivera a percepção da surpreendente cor da encosta lá ao alto, aos 1200m.







Um pouco antes, ao início do vale da ribeira de S. João, onde se ergue o castelo da princesa Peralta, era o azul.










E mais nada para contar deste canto do pale blue dot. A não ser, talvez, recordar uma música que, pelos vistos, emociona muita gente mas cujas palavras, também pelos vistos, passam despercebidas. Era nisto que pensava quando, na descida, encostei a bike para ver a Terra rodar mais um bocadinho de modo a esconder o Sol.



A música? Transcrevo apenas a letra:

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us, only sky

...

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion, too

...

Imagine all the people
Sharing all the world, ... isto é, o pale blue dot

...