25 de Abril de 2020
Pedaladas em Abril. Pedaladas livres porque, pedalando pela estrada que já mil vezes percorri, surpreendo-me porque a não conheço. Mas, quase tudo é assim; um brilho novo, uma esquina de que não se deu conta, uma ruga ali, um perfume que entra em ressonância com memórias de tempos atrás, a chuva que desfoca o olhar, a neblina que transforma e sobretudo o que não percebo que mudou mas que perturba a paisagem de tal modo que o padrão não é reconhecido pelo meu cérebro que, face ao desconhecido, contrói um padrão novo.
Dia de chuva e neblina densa. Que se lixe (to say the least) - pensei, naquele engano de alma ledo e cego e tal - quero lá saber. Fui pedalando e sacudindo a água e memórias que não me interessam: o respeitinho é muito lindo, os senhores doutores e vossas excelências, os chapéus na mão e as cabeças baixas, os padre-nossos às luz das velas iluminando rugas fundas em testas tisnadas pelo Sol ... que se lixe (to say the least).
Após umas boas pedaladas serra acima, ainda antes do Candal, fiz um videozinho.
Mais um pouco. Isto é, mais acima. Fiz ainda uns atalhos por caminhos de terra (difíceis porque pejados de pedras e paus escorregadios) na vã tentativa de, no silêncio imposto pela neblina, tentar ver os habitantes de quatro patas e belos pares de chifres de que tanto gosto. Estava tudo tão silencioso. Vi apenas, mas fugazmente, uns melros. Umas manchas pretas que se atravessam no caminho durante o tempo de um tremeluzir do olhar. Foi um confinamento absoluto.
Já agora, o assobio pretendia assassinar as seguintes músicas